"É
bom demais ter um par de pés para esquentar os pés da gente, em dias frios! Disse uma mulher apaixonada a uma amiga que
se tornara celibatária após uma grande decepção amorosa. Tempos depois, e já
com dois filhos, a primeira recostava-se novamente aos ombros da segunda e em
pranto descrevia a infelicidade de um relacionamento conjugal frio. Felizmente, nem todos os casamentos
terminam em drama. Geralmente, se salvam aqueles em que há grande investimento
em amor e maturidade por parte dos dois envolvidos. Mas, fato é que, grande
parte deles não ocorre por livre e espontânea vontade, o que constitui pelo
menos uma entre as muitas razões de desastres na área de família.
Há
poucas décadas no Brasil, as meninas que passavam dos 18 anos sem contrair
matrimônio começavam a sofrer bullyng em razão de seu estado civil. O casamento era, especialmente para a mulher,
basicamente uma obrigação. Em grande parte dos casos ocorria mais para atender
os reclames da sociedade do que a vontade ou interesses dos entes envolvidos.
Muitos dos que contraíam núpcias jurando “até que a morte nos separe”, o faziam
fugindo do estigma e tentando evitar a rejeição social pelo fato de se
enquadrarem no grupo rotulado de “beatos”.
Entre os fatores que orientam ou induzem as pessoas
a tomadas de decisões, mesmo com relação ao casamento e à formação de família,
alguns são de ordem biológica, já que a procriação é limitada a uma faixa
etária determinada. Porém, as pressões não param por aí. Há de se considerar,
com relação a estado civil, também o medo da desaprovação e de certo grau de rejeição
social. E, de acordo com o doutor em psicologia e especialista em terapia de
casais, Guy Winch, em seu livro "Emotional First
Aid" (Primeiros Socorros Emocionais), o sentimento de rejeição é
provavelmente a ferida psicológica mais comum e recorrente de nossas vidas. Na
mesma obra, o autor afirma: “as rejeições são os cortes e arranhões
psicológicos que machucam a pele emocional e penetram na carne”. Em outro
trecho ele informa ainda: “com a frequência das ocorrências, o rejeitado pode
não conseguir formar uma carapaça e muitos sofrem tanto que a dor lhes inunda
de raiva e solapa a autoestima”. O que poderia ajudar a explicar um pouco do
mau humor e da rispidez de muita gente, incluindo tanto pessoas casadas, quanto
solteiras.
Outros especialistas concordam que o sentimento de
rejeição traz uma dor semelhante à dor física. Alegam que tal sentimento
provoca no indivíduo uma sensação semelhante à de uma faca enfiada no peito. O
que a Ciência comprova não se tratar de mera figura de linguagem já que o
terapeuta citado acima, Guy Winch,
em seu livro "Emotional First Aid" (Primeiros Socorros Emocionais),
também acima mencionado, refere-se a estudos que, por meio de ressonância
magnética, mostram que a dor da exclusão social ativa no cérebro as mesmas
áreas acionadas pela dor física. Já, uma anônima, que fora entrevistada sobre o
mesmo assunto, foi além: “A rejeição é pior do que a dor física porque não tem remédio”.
“Meu
pai ensinou a todos os filhos, tanto aos meninos quanto às meninas, que uma
pessoa deve investir em si mesma para atingir um grau de integridade tal que
não venha a depender de outra para ser feliz e realizada”, disse uma mulher
solteira aos 65 anos de sua vida, bastante satisfeita com as escolhas que
fizera. “E ele, que na defesa deste ponto de vista destoava e até enfrentava a
visão da maioria de seus contemporâneos, estava certíssimo”, completou sorrindo
aquela mulher alegre e bem resolvida.
Longe
de ser solução, o casamento, como está posto, não é solução para os males desta
sociedade enferma, mas um produto dela.
Do mesmo modo, a solteirice, não constitui um embaraço ou estorvo à
felicidade como já se tentou fazer crer, sem sucesso. O que comprova que a felicidade ou desventura
jamais estiveram associados ao estado civil de qualquer pessoa.
No
momento em que o Senhor Deus, criador de todas as coisas, concluiu: “Não é bom
que o homem esteja só”, fica claro que ele se referia ao relacionamento entre
um homem e uma mulher, portanto, ao relacionamento conjugal. Porém, é seguro
que sua assertiva ampliada se aplicaria a todo o conjunto da humanidade, onde
as pessoas deveriam se relacionar estabelecendo e fortalecendo laços fraternos,
vivendo como irmãos, de acordo com o traçado da primeira maquete de seu projeto
original.
Este
pensamento é compreendido e compartilhado por muitos ao longo de toda a
História humana e bem sintetizado pelo
notável poeta inglês John Donne (1572-1631), que afirmou: “ Nenhum homem
é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da
terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se
fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a
morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por
isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti. ”
Paulo,
o grande teólogo do Cristianismo, respondendo aos irmãos da Igreja de Corinto
sobre o assunto de casamento para o cristão, tece algumas recomendações claras nas
quais explicita seu próprio ponto de vista, distinguindo-o daquele do Senhor em
alguns mínimos pontos. Contudo, conclui
o aconselhamento lembrando que todos, casados e solteiros, devem servir a Deus
sem distração alguma. O que confirma outro conselho dado diretamente pelo
Senhor Jesus Cristo, relatado pelo Evangelista Mateus, no qual recomenda a todos
os seus seguidores, indistintamente: “Buscai primeiro o reino de Deus e a sua
justiça e todas as demais coisas, vos serão acrescentadas”.
Quanto
à “Lista das Demais Coisas”, o que fica subentendido é que a mesma não estaria
ao controle destes eventuais seguidores. Sua participação se restringiria à
execução da primeira parte, claramente comunicada pela expressão contendo o
verbo buscar, conjugado no modo Imperativo:
“Buscai primeiro”.
* Publicado originalmente na revista Visão Missionária, Ano 95- Número 4- Outubro a Dezembro de 2017-4T17
Carmelita Graciana
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