quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A ADULTIZAÇÃO DA INFÂNCIA- VISÃO MISSIONÁRIA 4 T11

No início do mês de abril de 2011, um sutiã com bojo ou enchimento para crianças de seis anos de idade, foi colocado à venda no Brasil. Produzido por uma marca infantil mundialmente conhecida, o sutiã foi comercializado em uma tradicional rede brasileira de varejo. O produto foi recolhido, após gerar uma grande polêmica entre educadores e estudiosos do comportamento, que criticaram frontalmente a atitude de, segundo eles, pretender auferir lucros seduzindo pequeninos para um produto de que, absolutamente não precisam.

Para os psicólogos, produtos com utilidade apenas para adultos, são altamente prejudiciais à saúde mental das crianças, que não precisam usar sutiãs, muito menos com bojo. Alegaram que a indústria, no afã de ganhar dinheiro, ignorou o prejuízo que poderia causar a esta faixa etária. Alguns, mais exaltados reivindicaram mesmo uma intervenção da Promotoria da Infância e da Juventude para coibir, em seu entendimento, uma atitude de sexualizar crianças de seis anos de idade. Educadores alegaram que é comum o narcisismo em crianças assim como o desejo de imitarem a mãe no figurino, inclusive. Mas segundo eles, o que não pode acontecer é o mercado promover e incentivar tal erotização e a antecipação da sexualidade na faixa etária.

A pronta reação ante o episódio pontual da venda do sutiã infantil com bojo foi apenas uma amostra da preocupação de setores envolvidos com a educação ante a realidade da adultização da infância ou antecipação da idade adulta. Um problema que não se restringe à sociedade brasileira, mas que varia na abordagem e eventual punição aos excessos de país para país. É possível que tal “queima de etapas”, que retira a infância dos infantes, somada a outros fatores não menos violentos e perversos, contenha algumas das respostas de mazelas sociais não explicadas em nossos dias. Mazelas, diante das quais o conjunto da sociedade pós- moderna se prostra na condição de vítima, intrigada e perplexa.
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Erotização da Infância- Em matéria exibida pela Rede Globo de televisão no Programa Fantástico em edição que foi ao ar no dia 21/02/10 com o título Vaidade Infantil- Meninas abusam dos produtos de beleza, fazia-se a indagação: Por que meninas, muitas vezes com o apoio dos pais, pintam as unhas, exageram na maquiagem e usam salto alto? A matéria demonstrava que tal vaidade pode trazer problemas de saúde já na infância. Afirmou que o salto alto pode trazer dor nas pernas por forçar os pequenos calcanhares, pode causar problemas no quadril, no tornozelo, etc. e os esmaltes e os produtos de maquiagem podem levar às alergias. A indústria da beleza, depois de desenvolver fórmulas para retardar o envelhecimento da pele madura prometendo deixá-la sem “marcas de expressão”, o novo nome para rugas, que virou palavrão, ousa lançar uma linha antienvelhecimento para crianças de oito a 12 anos de idade. De olho em um mercado de US$ 2 bilhões, a Walmart, a maior rede de varejo do mundo, lançou em fevereiro a linha de cosméticos geoGirl: Blush, rimel, batom, cremes em geral, incluindo esfoliantes e as substâncias anti-envelhecimento. Os apelos vão da necessidade da prevenção ao envelhecimento, a preços que cabem na “mesada”. E autoridades afirmam que, nos países em desenvolvimento, as vendas tendem a ser promissoras. No Brasil, por exemplo, as leis que impedem a prática de publicidade feita por crianças ou direcionada às crianças "não pegaram”. E como a Walmart tem ampla capilaridade, em breve todas as crianças do planeta poderão comprar o seu estojinho de esfoliantes e produtos antienvelhecimento e levarão com a lancheira da escola também uma “nécessaire”. A mesma conterá Maquiagem Pró Dia em 5 minutos, cremes esfoliantes, esfoliantes para massagem corporal, hidratantes para a noite, creme de cabelo para aplicação noturna, gloses e cremes antiidade. A empresa que desenvolveu a linha de embelezamento infantil, alerta os pequenos para que não confundam essa maquiagem com as antigas e ingênuas brincadeiras de casinha, aquelas que faziam parte do universo das crianças de oito anos, com maquiagem de mentirinha. Agora a coisa é pra valer. Nos Estados Unidos da América, no Estado da Carolina do Sul, acontece um concurso de beleza para garotinhas em uma cidade muito pequena, mas atrai meninas com sonhos de estrelato de vários estados. E, por causa de um destes concursos de beleza infantil, a californiana Kerry Campbell perdeu a guarda da filha de oito anos, de acordo com a rede de televisão norte-americana ABC, após aplicar botox na criança de oito anos de idade. Além do tratamento estético - feito pela mãe, a menina passou por sessões de depilação com cera nas pernas. O Departamento de Saúde de São Francisco investigou o caso que culminou na perda da guarda da criança pela mãe que, apareceu com a filha Britney, no programa televisivo "Good Morning America", da ABC, defendendo o uso da toxina em competições de beleza. As declarações de mãe e filha causaram comoção nos Estados Unidos, especialmente porque a criança declarou: "Eu não acho que rugas sejam legais em meninas". A mãe, por sua vez, admitiu que as injeções no rosto da menina causavam dor, mas que a mesma tinha se acostumado a elas. Assim, o que parece tão inocente como uma criança carregando seus produtos “imprescindíveis” de embelezamento pode camuflar uma situação muito grave de assédio ao sexo oposto. Exemplo é o nome de uma água de colônia infantil: “Fiu, Fiu”. Não há qualquer dúvida de que a honomatopéia sugere uma “cantada”.

Era comum uma prática perversa na sociedade brasileira até bem pouco tempo, relacionada à iniciação sexual dos meninos. Estes eram levados, muitas vezes ainda menores de dezoito anos, por pais, tios ou irmãos mais velhos, às casas de prostituição para receberem as primeiras aulas práticas sobre “a arte do amor”. É notável que as mesmas lições seriam aprendidas pelas meninas na noite de núpcias ou nunca. A idéia era criar meninas castas, puras e ingênuas para meninos “experts” em sexo. Mas, inúmeros depoimentos comprovam que nem sempre o resultado era o esperado. Formavam-se mais clientes do que alunos, e o ‘costume’ mantinha o azeite das luzes vermelhas dos bordéis acesas em cada cidade ou corruptela do Brasil. Com nuanças diferentes daquela prática de inciação sexual, a adultização tem uma vertente semelhantemente perversa. Afeta a meninos e meninas indistintamente e apresenta ao sexo as crianças, como potenciais consumidores de um produto de uso exclusivo dos adultos. Autoridades afirmaram que a gravidade deste horror seria denunciada pelo jornalista Tim Lopes nos bailes Funks do Rio de Janeiro, ao descer do morro, de onde nunca retornou.

No Brasil o fenômeno da adultização é muito real. Demonstrado por três crianças que brincavam em paz até o ponto em que uma delas disparou: “Vocês são muito infantis”. O resultado foi pancadaria, um olho roxo e hematoma. O adjetivo infantil, mesmo para crianças, virou xingamento. E, um país que nega a vivência da infância não fica impune. É impossível ver a adultização da infância como natural. Os especialistas radicais que sugeriram que a venda do sutiã com bojo para crianças era um caso de interferência do Ministério Público, tinham razão. Pode ser mesmo caso de polícia. Porque na adultização, mais claramente do que em muitos outros fenômenos sociais, observa-se que, há sempre alguém ganhando com o que a infância está perdendo.
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