Raios estalam nas ancas das nuvens
Chicotes
de fogo.
As
nuvens urram indóceis,
assustam
os pardais na mangueira.
No
espigão do morro,
geme o
casebre,
uiva o
zinco,
estremece.
A mãe
recolhe os seus pintinhos
nas
asas da fé:
“Firme
nas promessas do meu Salvador,
Cantarei
louvores ao meu Criador”.
Os
meninos se encolhem a cada estrondo.
As
paredes tremem; de tábuas desiguais
querem
fugir do vento.
Cai a
chuva,
pesadas
gotas de pavor
entremeadas
de silêncios eternos.
Julinho
começa a chorar:
- Mãe,
a casa da gente vai cair.
Aninha
soluça:
-
Simbora daqui, mãe.
Débora
tem pânico nos olhos miudinhos:
- Tem
medo não, a mãe tá aqui.
O
enxurro estruge com ímpeto,
carrega
o lixo do morro.
Tremem
os alicerces do mísero tugúrio.
- Mãe,
tá chovendo ni mim.
A mãe
brinca com o pavor:
-
Julinho, pegue aquelas latinhas,
bote
uma de boca prá baixo
debaixo
de cada goteira.
Em
poucos compassos começa a sinfonia:
Ping, ping, peng, pong, pang, ping...
Fora, a
fúria estrondeia estertores.
Dentro,
lampeja alegria.
Volta a
calma
na alma
de cada
criança.
Descansa.
A voz
da mãe
embala
o vento menino:
“Firme
nas promessas não irei falhar,
Vindo
as tempestades a me consternar”...
Feliz o
filho que tem essa mãe
que
sabe fazer das goteiras,
uma
sinfonia de paz:
ping ... ping ... ping…
Trabalho do Pastor e Escritor João Falcão Sobrinho-Publicado (Texto e Imagens) em O Jornal Batista-Ano CXII- Edição 31- Domingo, 29.07.2012. http://ojornalbatista.com.br/
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Nota: Este
trabalho publicado pelo O Jornal Batista lembra o filme
italiano La Vita è Bella, lançado em 1997 e que chegou ao Brasil dois anos mais
tarde com o título traduzido de A Vida É Bela. O mesmo é dirigido e protagonizado por Roberto
Benigni. Trata-se de um romance sobre a vida de uma família sob as horrores do Nazismo. Na história, o pai, para proteger seu filho da realidade inominável do campo de concentração, elabora uma
fantasia sobre um tanque de guerra. A fantasia, que funciona como uma blindagem psicológica, poupa a criança do confronto, em nível mental, com uma realidade perante a qual mesmo milhares de adultos sucumbiram, em todos os sentidos. Tal realidade foi engendrada por um louco, com muitos seguidores em muitos lugares através dos tempos. Por isso, em certo sentido é válida a blindagem às crianças pequenas, poupando-as da insanidade e garantindo-lhes a vivência do lúdico. Direito da faixa etária, reconhecido pelas Nações Unidas, como demonstrado abaixo:
DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA
Adotada pela Assembléia das Nações Unidas de 20 de novembro de 1959 e ratificada pelo Brasil.
7º
Princípio – A criança tem direito à educação, para desenvolver as suas
aptidões, sua capacidade para emitir juízo, seus sentimentos, e seu
senso de responsabilidade moral e social. Os melhores interesses da
criança serão a diretriz a nortear os responsáveis pela sua educação e
orientação; esta responsabilidade cabe, em primeiro lugar, aos pais. A
criança terá ampla oportunidade para brincar e divertir-se, visando os
propósitos mesmos da sua educação; a sociedade e as autoridades públicas
empenhar-se-ão em promover o gozo deste direito.
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