segunda-feira, 4 de julho de 2011

TRINDADE E OUTRAS ROMARIAS

A pequena Trindade, situada a 18 quilômetros de Goiânia, capital do Estado de Goiás, é um município com 719,75 km² e população de 98.159 habitantes, de acordo com dados do Censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O município atualmente faz parte da região metropolitana de Goiânia e sofre com graves problemas sociais e de infra-estrutura. A pequena cidade é pacata na maior parte do ano e dispõe de apenas dois pequenos hotéis. Porém, durante os festejos pela Romaria do Divino Pai Eterno, a capital católica de Goiás como é chamada pelos católicos, torna-se muito movimentada. Na temporada 2011, segundo estimativas da prefeitura municipal, a Romaria que contou com cerca de dois milhões e meio de devotos, movimentou a cifra de R$3 milhões de reais.
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Histórico da Romaria a Trindade-O povoado de Trindade, cujo primeiro nome foi Arraial do Barro Preto, teria começado por volta de 1840. Conta-se que Constantino Xavier e sua esposa Ana Rosa, um casal mineiro de lavradores, encontrou em um pasto, enquanto cortavam capim às margens do Córrego Barro Preto, um medalhão de mais de um palmo de diâmetro, no qual estava gravada a imagem da Santíssima Trindade coroando a Virgem Maria. O casal teria passado a rezar o terço com seus familiares em casa, aos sábados, diante do medalhão. Outras famílias teriam se juntado à de Constantino Xavier para a oração. O aumento dos devotos teria levado à construção de uma pequena capela de buriti, que fora transformada em Santuário devido ao afluxo crescente de fiéis. Nesta ocasião, Constantino Xavier teria encomendado a José Joaquim da Veiga Vale, residente a 120 quilômetros de distância de Barro Preto, a escultura da imagem com base na figura do medalhão. Teria ainda deixado seu próprio cavalo com o escultor, como pagamento pelo trabalho, voltando a pé para casa. Deste modo, o próprio Constantino, o que encontrou o medalhão e encomendou a estátua, tornou-se também o primeiro peregrino a fazer uma romaria em homenagem à Santíssima Trindade. A imagem da representação teria sido colocada em um altar e o local teria se consolidado como ponto de visitação e peregrinação. A manifestação religiosa teria tido importante impulso a partir do ano 1875 com a chegada de 47 redentoristas a Goiás, entre eles o alemão Pelágio Sauter ou Pe. Pelágio, como ficou conhecido. Este teria desenvolvido seu trabalho, basicamente centrado na visitação ao povo simples e aos enfermos do sertão goiano, em geral a cavalo, nas imediações de Trindade.

Os Festejos -O ritual da peregrinação geralmente se estabelece a partir do principal acesso à Trindade pela GO-060. O percurso percorrido pelos devotos é o trecho conhecido por Rodovia dos Romeiros, através do qual o romeiro passa por mais de uma dezena de estações representativas da Via Sacra, um conjunto de painéis pintados pelo artista plástico goiano Omar Souto. A Rodovia dos Romeiros dá acesso à Avenida Constantino Xavier, já no centro da cidade, onde têm início as manifestações religiosas com celebrações eucarísticas, confissões, batizados e procissões e visitação aos monumentos religiosos.
Atualmente a Romaria de Trindade contribui para movimentar o turismo religioso em Goiás mobilizando diversos setores econômicos. Hotéis, pousadas e outros estabelecimentos de hospedagem, na cidade, têm todos os seus leitos reservados com antecedência. Restaurantes triplicam o atendimento e empresas de transporte e aluguel de carros comemoram o crescimento nesta época do ano. O resultado dessa movimentação propicia a criação de novos postos de trabalho temporário, geração de renda para famílias da região e oportunidade de negócios, especialmente pequenos e micro empresários que disponibilizam seus serviços e produtos.

Romarias no Brasil-A romaria é uma atividade religiosa de peregrinação, uma manifestação popular ligada, em geral, à relação entre os devotos e o santo de sua devoção. Caracteriza-se por viagens individuais ou em grupos, a lugares considerados sagrados, especialmente quando em visita a uma relíquia com a finalidade de cumprir um voto, uma promessa, agradecer ou pedir uma graça. De acordo com o folclorista Câmara Cascudo, os portugueses foram os responsáveis por trazerem a tradição das romarias para o Brasil, já que os índios locais não adotavam tal prática e que os africanos, somente os convertidos ao islamismo conheceram a romaria e sabido é que não foram estes os que chegaram ao Brasil como escravos. As primeiras romarias de que se tem registro no Brasil aconteceram entre 1743 e 1750, mas somente a partir de 1900 começaram as grandes romarias programadas, com o incentivo da Igreja católica, graças aos novos meios e vias de transportes, bem como do apoio dos meios de comunicação de massa, em especial as estações de rádio religiosas.

Os principais centros de peregrinação de romeiros no Brasil são: A Basílica de Nossa Senhora da Conceiçäo Aparecida, a Padroeira nacional, em Aparecida do Norte (SP); Bom Jesus de Pirapora(SP); Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém (PA); a Igreja do Senhor do Bonfim, em Salvador (BA); a Igreja de Säo Francisco das Chagas, em Canindé (CE); o Santuário de Bom Jesus da Lapa (BA); o Santuário da Santíssima Trindade, em Trindade (GO). Além da devoção a um beato nacional, o padre Cícero (Juazeiro do Norte, CE). Os romeiros chegam a esses lugares a pé, de bicicleta, a cavalo, em paus de arara, de charrete, em carros-de-boi, motocicletas, ônibus, veículos de passeio e caminhões. Alguns arrastam cruzes ou andam de joelhos, com grande sacrifício. Os que andam a pé, sozinhos ou em pequenos grupos, são chamados "caminheiros". Entre as romarias existem aquelas que são organizadas para fazerem o percurso a cavalo, em carros-de-boi ou motocicletas, por exemplo. Nos templos que atraem os romeiros, geralmente há um espaço conhecido como a sala ou casa "dos milagres", com centenas de objetos, denominados ex-votos como quadros, fotografias, peças de vestuário, imagens feitas em madeira, cera ou gesso como representação da suposta graça concedida pela divindade em questão. Entre os objetos chamados ex-votos, há muitos com muitos anos de idade e que são considerados parte do patrimônio artísitico e cultural brasileiro.

Romarias e peregrinações no mundo-Em todo o mundo ocorrem romarias e peregrinações e independente da diversidade dos contextos históricos ou geográficos em que acontecem, têm em comum o costume de deslocarem- se percorrendo grandes distâncias rumo ao local tomado por centro da devoção com motivação religiosa. Normalmente, durante o percurso, o romeiro desafia resignadamente, longas distâncias, fome, sede, cansaço e outras dificuldades. Ao longo do trajeto de tais peregrinações foram sendo criados hospitais, hospedarias e meios de transportes para os romeiros. Fundaram-se ainda associações para prestar auxílio a este público, como a Confraria dos Peregrinos da Terra Santa - criada em Paris, no ano de 1325 - e as Ordens Militares, que visavam primordialmente a defesa dos Lugares na Palestina, considerados santos e a proteção aos romeiros, como a Ordem dos Templários e a dos Cavaleiros de São João. Desde os primórdios do Cristianismo é notável a presença de várias peregrinações, inclusive à Terra Santa e a Jerusalém, pólos de religiosos que sempre atraíram multidões de peregrinos. Especificamente, no universo católico, além da Terra Santa, os maiores centros de peregrinação no mundo são a cidade de Roma e o Vaticano, os grandes Santuários marianos de Lourdes (França) e Fátima (Portugal), a casa da Sagrada Família em Loreto (Itália); o Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, no México e Nossa Senhora de Luján, na Argentina.

O que está demonstrado claramente pelas romarias é que o homem (mortal) deseja comunicar-se com o divino (eterno) e para tal está disposto a empreender um grande esforço, em sua boa fé. Mas a Bíblia afirma, em I Coríntios 8: 4b: “ sabemos que o ídolo nada é no mundo, e que não há outro Deus, senão um só”. Romaria, de Renato Teixeira, uma das mais lindas canções brasileiras, descreve a vida do homem simples do Brasil que segue o movimento da romaria em busca do eterno como último recurso para a desventura de sua vida, mas depara-se com mais um drama, o de não saber rezar. Oferece então no altar, a única coisa que tem: “Como eu não sei rezar, só queria mostrar/Meu olhar, meu olhar, meu olhar’.

A Bíblia narra o sentimento de Jesus para com as multidões: “E, vendo as multidões, teve grande compaixão delas, porque andavam cansadas e desgarradas, como ovelhas que não têm pastor” (Mateus 9.36). Marcos, por seu turno, narra a atitude de Cristo movido por tal compaixão em
(Mc.6.34b): “ e começou a ensinar-lhes muitas coisas” . Provavelmente coisas como as que o profeta Isaías (Is. 45.20) já tinha ensinado setecentos anos antes: “Congregai-vos, e vinde; chegai-vos juntos, os que escapastes das nações; nada sabem os que conduzem em procissão as suas imagens de escultura, feitas de madeira, e rogam a um deus que não pode salvar”. Jesus Cristo também ensinou aos religiosos monoteístas de sua época e por extensão aos que os sucederiam: “Não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento”. Entre estes estão os que chegam cansados, desgarrados e sem pastor, trazendo apenas o olhar como oferenda a um ídolo que, segundo a Bíblia, nada é.
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Nota: Segundo informações de Ronan de Borba (Missionário Redentorista - filiado à Congregação dos Redentoristas no Brasil),  os Redentoristas chegaram a Trindade em 1894. Em sua busca encontrou ainda que o  grupo compunha-se de  sete missionários e que o Padre Pelágio Sauter, mais conhecido como Padre Pelágio, chegou ao Brasil não com a primeira turma, mas em 1909. O pesquisador indica a fonte:  http://www.a12.com/redentoristas/.

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