quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

TENSÃO NO EGITO- O Relacionamento com o Poder

O Egito tem uma relação histórica equivocada com o poder desde as dinastias dos faraós, que se consideravam deuses, aos governos contemporâneos. O ditador Hosni Mubarak governa o Egito desde 1981. Porém, nas últimas semanas, a oposição inconformada, deflagrou vários movimentos, incluindo o “Protesto do Milhão”. Segundo correspondentes internacionais centenas de milhares de manifestantes participaram dos protestos em massa na terça-feira, dia 01/02/2011. Em represália, a ditadura promoveu o bloqueio à Internet no país e restrições à telefonia nas regiões próximas ao Cairo, centro do movimento. De acordo com dados oficiais são 650 feridos e cinco mortos. Tais números são subestimados quando comparados aos divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, através de uma emissária em Brasília, na última semana. Segundo a mesma, baseada em "informações não confirmadas "de organizações não governamentais, pode ultrapassar 300 o número de mortos, três mil feridos, além de dezenas de detidos. Os distúrbios anti governo, que resultam no confronto sangrento entre os militantes contra e pró Mubarak, na principal praça do Cairo, assume contornos de lutas medievais com uso de paus, pedras, cavalos e até camelos.

Ditaduras e Democracias
Os episódios que ocorrem no Egito nos últimos dias expõem a indignação dos cidadãos do país africano com a ditadura. De acordo com O Jornal Nacional (Rede Globo de Televisão), em edição do dia 02/02/2011, o ditador Hosni Mubarak, que está no poder há trinta anos, acumula um patrimônio estimado em R$ 45 bilhões, do qual faz parte uma propriedade em Londres, estimada em R$23,5 milhões, onde a família de Mubarak já se encontra refugiada.

Por outro lado, o Brasil, um país que já amargou um regime de ditadura de mais de vinte anos e agora convive com a democracia, também se relaciona com o poder de modo equivocado. Simultaneamente aos protestos no Egito, o país empossava o Novo Congresso Nacional (513 deputados Federais e 54 senadores), em cerimônia que custou R$1 milhão.
Na composição dos quadros, especialmente da Câmara Federal, entraram perfis bem pouco ortodoxos. Entre os mesmos encontravam-se um profissional do boxe, um polêmico jogador de futebol, parlamentares musas- calouras ou reeleitas e um palhaço. Este, embora não tenha chegado a convencer a opinião pública de que não é analfabeto, constitui-se representante legítimo dos mais de 1,3 milhão de eleitores. O parlamentar, obviamente depois da cerimônia de posse, fez uma declaração reveladora: "Acho que vou me dar bem".

Esta mesma concepção manteve Hosni Mubarak no poder por tanto tempo, às custas da degradação da qualidade de vida do povo egípcio até níveis insuportáveis. E os manifestos, frutos da reação a tal quadro, geram, por sua vez, um efeito dominó em outras nações do norte da África e do Oriente Médio. Além do Egito outros seis países entraram em ebulição: Tunísia, Marrocos, Argélia, Líbia, Jordânia e o Iêmen. Este último, deflagrou o “Dia da Raiva”.


Por aqui, o regime democrático dá margem a momentos nacionais constrangedores como este pelo qual passamos no primeiro dia de fevereiro. Sem falar em outros tantos abusos que temos assistido na política brasileira, pasmos e de mãos atadas. A conclusão é a de que a democracia brasileira, tão cara à nação, precisa ser aperfeiçoada sob pena de que, em alguns aspectos, ganhe contornos de totalitarismo. Tomando por exemplo a freqüência com que os interesses particulares dos que governam sobrepõem-se aos do conjunto da sociedade.

Para disfarçar tal procedimento, as ditaduras de Roma adotavam a política do Pão e Circo ou “panem et circenses” . Era útil porque mantinha a população sob controle, ocupada com o excesso de festas, um pouco de pão e sob o delírio dos estádios animados por gladiadores, pelo menos durante os 175 dias de feriado que o calendário romano chegou a ter por ano.

Aqui, pode ser que dispensassem os gladiadores, ou não. Temos pelo menos um leão ávido e o coro frenético dos estádios cheios: “Mengooooooooooooo”! E, depois, é fevereiro. E,
como cantava Wilson Simonal, já em 1969, “Fevereiro, tem carnaval...". Continuava a dizer: "Sou Flamengo e tenho uma nêga chamada Tereza. Tenho um fusca e um violão...” . Não se resume a isso o sonho que ensinaram o brasileiro médio a sonhar?
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