segunda-feira, 17 de outubro de 2011

SANTOS DUMONT- SEU SONHO, REALIDADE E PESADELO

ALBERTO SANTOS DUMONT (1873 -1932)- (imagem: www.culturabrasil.pro.br) foi um aeronauta, esportista e inventor brasileiro. É considerado pelos brasileiros, como o inventor do dirigível, do avião e do ultraleve. Santos Dumont projetou, construiu e voou os primeiros balões dirigíveis com motor a gasolina. Esse mérito lhe é garantido internacionalmente pela conquista do Prêmio Deutsch em 1901, quando em um vôo contornou a Torre Eiffel com o seu dirigível Nº 6, transformando-se em uma das pessoas mais famosas do mundo durante o século XX. Com a vitória no Prêmio Deutsch, ele também foi o primeiro a cumprir um circuito pré-estabelecido sob testemunho oficial de especialistas, jornalistas e populares. Santos Dumont foi o primeiro homem a decolar a bordo de um avião impulsionado por um motor a gasolina. Em 23 de outubro de 1906, ele voou cerca de 60 metros a uma altura de dois a três metros com o Oiseau de Proie' (francês para "ave de rapina"), no Campo de Bagatelle, em Paris. Menos de um mês depois, em 12 de novembro, diante de uma multidão de testemunhas, percorreu 220 metros a uma altura de 6 metros com o Oiseau de Proie III. O 14-Bis de Dumont teve uma decolagem autopropulsada, reconhecida oficialmente por público e jornalistas, constituindo na primeira demonstração pública de um veículo levantando vôo por seus próprios meios, sem a necessidade de uma rampa para lançamento. Esses vôos foram os primeiros homologados pelo Aeroclube da França de um aparelho mais pesado que o ar.
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Infância- Santos Dumont como ficou conhecido, nasceu no dia 20 de Julho de 1873, na Fazenda Cabangu, Estação de Rocha Dias, Distrito de João Ayres, Minas Gerais. Seu pai, um engenheiro, se instalara nesta localidade com o objetivo de construir um trecho da Estrada de Ferro D. Pedro II, hoje conhecida como Central do Brasil. Residindo no interior brasileiro, a imaginação do menino Alberto Santos Dumont era despertada pela ascensão dos pequenos balões de papel que as crianças soltavam nas noites de São João, uma das festas mais populares do Brasil. Tornou-se ainda um leitor assíduo de Julio Verne, um dos mais férteis escritores do Século XIX, criador de mundos , que certamente muito influenciou o espírito inventivo de que viria a ser o “Pai da Aviação”. Os submarinos, os balões, os transatlânticos e todos os outros meios de transporte que Julio Verne previu com tanta felicidade, envolveram o seu cérebro de jovem, despertando-lhe, do fundo do subconsciente, a faculdade que já se acentuava instintivamente para o domínio e manejo da mecânica. E não era sem razão que o jovem Alberto dirigia as locomotivas Baldwin que o engenheiro Henrique Santos Dumont encomendara na Europa para o trabalho da companhia de estrada de ferro. Depois comprazia-se também em consertar as máquinas que quebravam nas fazendas de café que seu pai viera a adquirir. Em seu livro Dans l'air, o próprio Santos Dumont relata: "Aos 7 anos, já eu tinha permissão para guiar os locomóveis de grandes rodas empregados na nossa propriedade nos trabalhos do campo. Aos 12, deixavam-me tomar o lugar do maquinista das locomotivas Baldwin que puxavam os trens carregados de Café nas 60 milhas de via férrea assentadas por entre as plantações. Enquanto meu pai e meus irmãos montavam a cavalo para irem mais ou menos distante ver se os cafeeiros eram tratados, se a colheita ia bem ou se as chuvas causavam prejuízos, eu preferia fugir para a usina, para brincar com as máquinas de beneficiamento".

Do Sonho à Realidade-Outras lembranças registradas em sua autobiografia remetem claramente à sua maior vocação: "Ser-me-ia impossível dizer com que idade construí os meus primeiros papagaios de papel. Lembro-me entretanto nitidamente das troças que faziam de mim os meus camaradas, quando brincavam de "passarinho-voa". O divertimento é muito conhecido. As crianças colocam-se em torno de uma mesa, e uma delas vai perguntando, em voz alta: "Pombo voa?". . . "Galinha voa?". . . "Urubu voa?". . . "Abelha voa?"... E assim sucessivamente. A cada chamada todos nós devíamos levantar o dedo e responder. Acontecia, porém, que, de quando em quando, gritavam: "Cachorro voa?"... "Raposa voa?"... ou algum disparate semelhante, a fim de nos surpreender. Se algum levantasse o dedo tinha de pagar uma prenda. E meus companheiros não deixavam de piscar o olho e sorrir maliciosamente cada vez que perguntavam: "Homem voa?"... E que no mesmo instante eu erguia o meu dedo bem alto, e respondia: "Voa!"...Mais à frente: "... Eu me exercitava construindo aeronaves de bambu, cujos propulsores eram acionados por tiras de borracha enroladas, ou fazendo efêmeros balões de papel de seda. Cada ano, no dia 24 de junho, diante das fogueiras de São João, que no Brasil constituem uma tradição imemorial, eu enchia dúzias destes pequenos "mongolfiers" e contemplava extasiado a ascensão deles ao céu. Nesse tempo, confesso, meu autor favorito era Julio Verne. A sadia imaginação deste escritor verdadeiramente grande, atirando com magia sobre as imutáveis leis da matéria, me fascinou desde a infância. Nas suas concepções audaciosas eu via, sem nunca me embaraçar em qualquer dúvida, a mecânica e a ciência dos tempos do porvir, em que o homem, unicamente pelo seu gênio, se transformaria em um semideus." Em outro trecho de lembranças: "compridas tardes ensoleiradas do Brasil, minado pelo zumbido dos insetos e pelo grito distante de algum pássaro, deitado a sombra da varanda, eu me detinha horas e horas a contemplar o céu brasileiro e a admirar a facilidade com que as aves, com as suas longas asas abertas, atingiam as grandes alturas. E ao ver as nuvens que flutuavam alegremente a luz pura do dia, sentia-me apaixonado pelo espaço livre".

Da Realidade ao Pesadelo- Em 1914, estourou a Primeira Guerra mundial e com ela uma parafernália bélica: submarinos, gases tóxicos, carros blindados, balas explosivas e aviões. Estes, inicialmente, foram usados na observação das posições inimigas, mas logo começaram as trocas de tiros entre pilotos e foram equipados com metralhadoras e bombas. Em 1915, a indústria militar produzia, nos Estados Unidos, em torno de 16 aviões por dia. Dumont, assistiu horrorizado o uso de seu invento como aparelho de matar. Construiu uma casa em Petrópolis, chamou-a Encantada e lá escreveu outro livro: O Que eu Vi, O Que nós Vemos. Na obra orienta as autoridades sobre a construção de aeroportos e aviões e a formação de pilotos. Ironicamente metade da vida de Dumont fora gasta para realizar o sonho de voar e a outra metade sob o pesadelo da culpa por ter dado asas à morte. Em fevereiro de 1926, fez uma solicitação formal à Sociedade das Nações, precursora da ONU (Organização das Nações Unidas), pedindo a interdição das máquinas aéreas como armas de guerra, sem sucesso. Dumont estava cada vez mais deprimido, culpava-se por todos os acidentes aéreos, pelo aproveitamento militar do seu esforço científico e por tudo de mal que a aviação representava naquele momento. Estava, então, com menos de sessenta anos, mas era um velho doente e taciturno. Cuidado pelos familiares parecia melhorar, mas em 9 de julho de 1931, forças políticas paulistas esboçaram uma reação contra a ditadura, chamada Estado Novo, a qual foi apoiada por Santos Dumont, que redigiu um manifesto aos mineiros convidando-os a se aliarem.. O governo Getúlio reprimiu brutalmente o movimento. Na manhã de 23 de julho de 1932, Alberto foi à praia e ajudou a um menino com sua pipa colorida de papel, corrigindo o peso da cauda, endireitando uma cana da estrutura. A pipa subiu gloriosa. Mas o ruído crescente que se ouvia era o de uma esquadrilha aérea, aviões federais que bombardeavam um cruzador paulista ancorado em Santos. Brasileiros matando brasileiros com as asas que inventara. Dumont não desceu para almoçar e ao arrombarem a porta do quarto 152, encontraram o corpo do aviador já sem vida. Dumont abriu no céu um caminho para o homem, mas não pode conviver com as nuvens que interditam os caminhos da humanidade.
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