sexta-feira, 15 de outubro de 2010

AO MESTRE, COM CARINHO!

Ainda permanece em nossa memória mais ingênua a imagem da menininha levando uma maçã ou um menininho uma flor roubada no caminho, para a professora. Tal imagem foi construída por um conceito social mais respeitoso aos professores no passado, refletido na arte e na literatura.

 Exemplo disso estava patente em O Carrossel, um seriado infantil importado, exibido pela televisão brasileira há cerca de quinze anos, cuja trama centrava-se sobre o dia a dia da sala de aula da Professora Helena. A novela fez tanto sucesso no Brasil, que Gabriela Rivero, atriz que interpretou a Professora Helena, desceu a rampa do Congresso Nacional com o então presidente Fernando Collor. 

Já o filme Clássico Ao Mestre, Com Carinho, dirigido por James Clavell, de 1967, além de discutir as questões raciais, mostra como a realidade social do aluno interfere no desempenho escolar. O protagonista é um jovem professor determinado a revolucionar a vida de seus alunos indisciplinados dos anos 60. Tal professor, ensinando sob condições adversas, estabelece uma conexão com os delinquentes, utilizando-se de uma metodologia pouco ortodoxa e comprova que há uma relação direta entre os conteúdos ensinados em classe e a progressão do mundo ao redor. Os resultados junto aos estudantes são surpreendentes e trazem à tona as características indispensáveis para o perfil de um bom educador: compromisso, seriedade e determinação.


Hoje é dia do Professor, mas lamentavelmente, não há muito que comemorar, nem por sua parte, como prestador do serviço nem da sociedade que o recebe. É, sobretudo, um dia para reflexão sobre o papel do mestre na sociedade brasileira. Uma realidade onde a Escola Pública está sucateada por fora, em sua estrutura física e por dentro, em sua imagem. E a escola privada não passa de um negócio. Assim, a escola, especialmente a pública, é um ambiente de descompromisso com o saber e de tensão permanentes. Um lugar tomado pela delinquência, pelas drogas e marcado pela presença da polícia, das balas perdidas e da violência. As consideradas pacatas, geralmente são aquelas das regiões remotas, desfiguradas pelas longas distâncias entre domicílio de professores e alunos e as unidades.

Enfim, a escola tornou-se um ambiente de acareação entre os que supostamente ensinam e os que supostamente aprendem, obrigados a darem e a receberem aprovação. O resultado é o descontentamento de todos os lados e constantes paralisações por melhores salários, condições de trabalho até a busca de preservação da integridade física das partes envolvidas. A escola tornou-se a desembocadura da permanente tensão social onde o professor atua como mediador. Um ambiente com espaço quase nulo para se ensinar ou aprender.

Soma-se a isso o drama pessoal de se exercer o ofício em um país onde o conhecimento sistemático e acadêmico não tem reconhecimento. Onde cargos de decisão são escolhidos através de critérios aleatórios, subjetivos e não raro esdrúxulos. Coisa que ficou muito clara no pleito de 2010, quando foram eleitos palhaços, artistas, fichas-sujas, aventureiros e analfabetos. E onde se nota um ar de orgulho de ter, no próprio presidente da República, um homem pouco letrado. Definitivamente, este não parece ser um país que leva a Educação a sério, nem o professor. E, se a tarefa maior deste ministério é tornar possíveis os sonhos do mundo, qual será o seu papel, se o mundo sucumbiu aos pesadelos e não deseja ser despertado?

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