
No Brasil, o equivalente à lareira é o fogão caipira, que instalado na cozinha, cozia o alimento para a família que se juntava para saborear o porco frito, o cuscuz com leite, o feijão tropeiro, o arroz com pequi, a pamonha e outros quitutes das muitas regiões. E na cozinha, cozinha quente de “País tropical abençoado por Deus”, e de muita lenha, ao lado do fogão caipira, inventava-se e contava-se as estórias e lendas da imaginativa alma brasileira.
Mas a época do fogão caipira passou também no Brasil, sobrou apenas a churrasqueira e a família passou a freqüentar mais os ambientes frios da casa. A alta concentração de gente nas cidades, a introdução da televisão na rotina do povo, a entrada da mulher no mercado de trabalho e a sofisticação da vida, implementaram uma mudança profunda no comportamento da família brasileira. E esta família, que antes aquecia a alma na atmosfera do fogão caipira, conversando e desenvolvendo a criatividade em suas conjecturas, encolheu-se diante dos monitores. Passou a apenas receber conteúdos, grande parte de qualidade muito questionável à luz de qualquer senso mediano.
E, as estatísticas que apontam os problemas adquiridos pela ausência de diálogo nos frios lares brasileiros, são de gelar o coração e a frieza com que a sociedade lida com a questão é de dar calafrios.
É incontestável a praticidade e o conforto proporcionados pela tecnologia nas casas modernas. Mas uma inscrição exibida em paredes de muitas delas, no charme da língua inglesa ou em bom português, soa como uma grande ironia: “Lar, Doce Lar!”. Em casas onde familiares se relacionam como torcedores, eleitores e jogadores não há nada de doce nem de lar. O que não mudou desde os tempos da lareira é que família e lar dependem do esforço de cada membro do grupo em todas as etapas do aquecimento, mesmo no crepitar dos espinhos. Com a participação de cada um nesta construção, as cozinhas tecnológicas de nossos dias seriam mais aconchegantes, os corações mais aquecidos e as ante-salas dos consultórios médicos, menos congestionadas.
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