sábado, 25 de agosto de 2012

"ERA UM GAROTO, QUE COMO EU..."






 A geração veterana, filha do “faça amor não faça a guerra”, cresceu embalada pela canção que dizia:  “Era um garoto, que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones”. A letra, criada originalmente em italiano por Migliacci e Lusini no ano de 1965, conta a história de um jovem norte-americano livre, feliz e apaixonado por música até ser levado à guerra. 

A letra da canção contêm poucas metáforas. Conta que o garoto, que cantava a liberdade, foi tirado de sua guitarra e levado a matar gente que nunca viu, sob a trilha sonora de uma ‘música’ de uma mesma nota: "Ra-tá-tá-tá".  Diz que, finalmente, o jovem também morre. A insanidade da guerra é descrita na imagem do rapaz  morto, com duas medalhas em um peito sem coração. E conclui: “A seu país não voltará, morto que está no Vietnã”. 




A juventude dos anos que sucederam a controversa guerra do Vietnã, fez do protesto explícito uma de suas principais bandeiras. O tema foi reproduzido na poesia das letras das canções, no vigor dos ritmos, na eloquência dos manifestos nas ruas. O arcabouço artístico e político da época passou a ter um claro apelo libertador.

Os temas derivados do repúdio à guerra, alimentaram movimentos libertários mundo afora pelas décadas seguintes e muitos excessos cometidos em nome destes ideais, nem sempre positivos, também respingaram em algumas gerações à frente. A música foi o principal elemento de conecção entre as diferentes línguas e culturas. A juventude da época tomou a vanguarda de muitas das mudanças sociais que alteraram para sempre a face do mundo.

A juventude do início do século XXI, por outro lado, é conhecida como 'sem causa e adaptada ao modelo social vigente'. Encontra-se, visivelmente submetida ao ativismo, privada da infância, acoada pela violência e exposta à desagregação familiar. Por seu turno, tem reagido com desregramento alimentar, sexo irresponsável, gravidez não planejada, compulsão ao consumo, uso abusivo de símbolos vistos como de contestação, abuso de drogas lícitas e ilícitas e com adoção indiscriminada de condutas socialmente reprovadas. A juventude atual  tem reagido sim, delinquindo, adoecendo, matando e morrendo.

O comportamento apático, inerte e aparentemente insensível, com profunda reclusão ao sedentarismo na parafernália teconológica, é uma forma de protesto. E, quando  atentam contra a língua mãe, contrariando pais, professores e linguistas, com seus: naum, tbm, kd, s, vc, hj, td, mto, xau, msm, dps, gde e outros, pode ser uma comunicação clara contra o que está posto.

Mais contundentes do que as mensagens emanadas dos palcos, dos palanques e dos púlpitos contra a guerra, ecoaram os vocábulos monossilábicos do Rá tá, tá, tá. Eram a síntese perfeita do horror de milhares de vidas inocentes afundadas nos pântanos movediços do Vietnã.

É possível uma analogia entre os monossilábicos daquela juventude contestadora, na figura do Rá, tá, tá, tá, com as atuais e não permitidas abreviações. Há grande semelhança entre aqueles e estas, embutindo uma forma de protesto. Mas o que, infelizmente, pode se subtrair no âmago do comportamento alheio da juventude atual, é que seus sentimentos, emoções e valores, ainda não encontram eco na sociedade do início do século XXI.

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