quinta-feira, 25 de junho de 2009

ÂNGELA VILLA VERDE


Entrevista

Carmelita Graciana


“Somos uma sociedade dirigida para o prazer, que nega o sofrimento e a morte. Mas a morte, assim como a doença e o sofrimento, são integrantes da condição humana”.


A psicóloga Ângela Maria Monteiro Villa Verde é natural de Laguna (SC), mãe de dois filhos: Clarissa (28) e Rafael (25), é especializada em Gestalt–Terapia pelo Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt- Terapia de Goiânia e atua como Psicoterapeuta na PsicoCenter Consultoria e Assessoria em Recursos Humanos.


1- O tema morte é tabu na sociedade ocidental. A que atribuem os estudiosos a fuga a tal discussão?
Realmente é tabu, e tabu é qualquer assunto inaceitável ou proibido em uma determinada sociedade. Embora a morte seja um tema banido da comunicação entre as pessoas, esta se faz cada vez mais presente na vida, quer seja pela experiência direta no cotidiano, pelo número significativo de acidentes e atos de violência, quer seja através da retratação nos órgãos de comunicação. A sociedade atual afasta a morte por ser hedonista e buscar sempre o prazer. Essa busca é responsável pela negação do sofrimento, da dor e da morte, mas tanto a morte como a doença e o sofrimento são integrantes da condição humana. Nossa sociedade atual não está muito inclinada a considerar esses fenômenos, sente-se mais atraída pela beleza, pelo aspecto saudável e jovem do existir.


2- Você acha que tal resistência vem de fora do homem, como das idéias capitalistas de acumulação, ou é algo intrínseco a ele, estimulado por seus medos ou expectativas?
É algo intrínseco a ele. Esta resistência é sustentada pelo medo. Nossa sociedade consumista é o reflexo deste homem que não pode pactuar com a morte. Quem pensa na morte não procura comprar nem capitalizar.

3- Por que o ser humano foge tanto da idéia de sua finitude?
Sempre que o ser humano se depara com uma situação que desperta medo, tende a fugir. O homem não foge só porque tem medo, mas também para livrar-se do sentimento de medo. Ele se percebe totalmente impotente diante da inexorabilidade da morte e teme. Quando pensamos na morte, geralmente pensamos na morte do outro. Nós nunca nos colocamos na posição de que somos suscetíveis à morte. Nem no dia de ‘finados’ as pessoas lembram da morte. Lembramos com saudade, do pai, da mãe e de outros. Em nossa concepção íntima , os outros morrem. Falta ao homem encarar a sua própria morte.


4- Em sua visão, como psicóloga cristã, como se deve proceder ao falar de morte para os filhos, especialmente quando são crianças?
Devemos tratar o tema da morte com os filhos de maneira sensível, para que eles possam encará-la com naturalidade. A notícia da morte, entretanto, deve ser dada de forma direta, utilizando a palavra morte e informando-lhes de que se trata de um acontecimento irreversível. Mesmo crianças pequenas devem participar do luto da família, para não se sentirem excluídas ou culpadas pela morte. Não podemos evitar essa dor, por mais que queiramos. A expressão da tristeza na frente da criança, como o chorar é uma forma de dizer que ela também pode chorar, expressar seus sentimentos. Devemos incentivá-la a dizer o que sente e esclarecer suas dúvidas. Não banalizando, nem negligenciando a profunda dor e a tristeza pelas quais passamos com a “perda” de alguém querido. Mesmo porque até Jesus chorou quando se aproximou do túmulo do seu amigo Lázaro, demonstrou -se comovido com a tristeza dos familiares (João 11.1-35). O conceito cristão da morte é imensamente mais rico e consolador. A morte para o cristão é o momento de estar com Deus, é o encontro do filho com o Pai, do descansar em seus braços. Nós somos convocados pela Palavra de Deus a buscar conhecimento em relação àqueles que morrem. “Não queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais, que não têm esperança.” (I Tessalonicenses 4.13).

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