quinta-feira, 22 de março de 2012

PASTOR WAGNER RIBEIRO DE ARAÚJO - ENTREVISTA

ENTREVISTA

O Pr. Wagner Ribeiro de Araújo nasceu em 13 de Dezembro de 1970 na cidade de Ceres/GO. É filho de Divino Alves de Araújo e Leonora Ribeiro de Araújo. É casado, há 22 anos, com Selma Maria Germano de Araújo e tem três filhos: Davi, Daniel e Samuel. 
É Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista Goiano (STBG) com integralização de créditos pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). É Pastor titular da Primeira Igreja Batista em Vila Maria Dilce, Goiânia/GO, há 8 anos. Atua como professor de Antigo Testamento no Seminário Teológico Batista Goiano (STBG)  e é o atual Presidente da Convenção Batista Goiana (CBG).
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 1. A Convenção Batista Goiana foi criada em vinte e um de julho de 1939, portanto há setenta e três anos.  Quais as atribuições de uma Convenção e quais suas impressões sobre esta, em particular, com relação ao atendimento das mesmas?
A Convenção Batista Goiana é uma associação de Igrejas Batistas em âmbito estadual. Possui em seu rol igrejas Batistas que declaram aceitar a Bíblia Sagrada como única regra de fé e prática, e que reconhecem como sua fiel interpretação a Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira. A nossa Convenção, segundo o estatuto, tem por finalidade promover a glorificação a Deus e a unidade de suas igrejas, e cooperar com as igrejas no desenvolvimento da obra de evangelização e missões, educação teológica, musical, ação social, etc. O relacionamento da Convenção com as igrejas a ela filiadas é cooperativo.

As igrejas Batistas quando se filiaram, comprometeram-se a dar apoio moral, espiritual e financeiro para que a Convenção possa atingir seus objetivos. Lembrando que (conforme nossos princípios batistas) o princípio governante de uma igreja local é a soberania de Jesus Cristo e a autonomia da igreja local. Como igreja, nossa forma de governo é congregacional, isto é, cada igreja batista é democrática e autônoma nas suas decisões e administração. E isto reflete a responsabilidade que cada crente deve ter sob a orientação e autoridade de Jesus Cristo, o cabeça da Igreja. Neste sentido, a Convenção não exerce poder de governo sobre nossas igrejas, mas sim de orientação, cooperação, apoio e acompanhamento quando for solicitada.

Quanto ao atendimento, a CBG através de sua secretaria executiva ou mesmo sua presidência, tem atendido a todos que a procuram. Seja no escritório, seja através de telefonemas, conversa pessoal, convites, e-mails, etc. Sempre que solicitada a Convenção tem atendido, na medida do possível, a todas as Igrejas. Entretanto, o trabalho é muito amplo, são cerca de 232 igrejas e congregações que pertencem ao nosso campo. Tanto o Secretário Geral, quanto eu, temos procurado com alegria estar presentes em inúmeros eventos de nossas igrejas, tais como: aniversários de igrejas, concílios de organizações de igrejas, assembléias de associações batistas regionais, reuniões, representação junto a Convenção Batista Brasileira (CBB), etc. Desejamos contar com as orações e apoio de todos os irmãos, pastores e líderes, pois sabemos que a seara é muito grande, o trabalho é imenso, e temos nos esforçado ao máximo para realizá-lo da melhor forma possível. Somos dependentes da graça de Deus, e nosso desejo é ser instrumentos de Deus em sua obra local e denominacional. Entretanto, a obra não é só nossa como Convenção, mas de cada igreja, de cada um de nós como crentes em Cristo. Cremos que é o Senhor quem nos ajuda e sustenta. E contamos com o apoio e oração de todos os nossos irmãos e suas respectivas igrejas.

2. Os batistas chegaram a Goiás através de missionários norte-americanos que discipularam os primeiros cristãos e organizaram as primeiras igrejas, depois faleceram ou retornarem ao seu país de origem. Qual a contribuição destes missionários na constituição da igreja batista goiana?
 A contribuição de nossos primeiros missionários foi grandiosa. Devemos observar que, se hoje temos o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo é porque um dia alguém se dispôs a ser instrumento de Deus para que outros fossem salvos. Houve cooperação. Aliás, somos frutos de cooperação e devemos continuar trabalhando através da cooperação. Um bom exemplo disto foi o grande servo de Deus, o missionário Salomão Luiz Ginsburg, que segundo dados históricos, em 1920, partiu de São Paulo, com o aval de sua igreja, a Primeira Igreja Batista de São Paulo, com a finalidade de trazer as boas novas do Evangelho ao povo de Goiás. Isto ele fez com muito amor, dedicação e esforço; chegando à cidade de Catalão/GO, onde iniciou uma Congregação Batista que foi organizada oficialmente no dia 14 de Março de 1920. Esta Congregação foi o marco histórico dos Batistas em Goiás. Lembrando que na época não havia os meios de transporte modernos que temos hoje, as viagens eram longas e demoradas, duravam dias, e eram feitas nos lombos de animais. Muitos missionários vieram ao nosso país através do envio de suas juntas missionárias. E aqui trabalharam na pregação do evangelho, na área do ensino secular e religioso, na plantação de igrejas e frentes missionárias, no apoio e treinamento a pastores e líderes, inclusive no ensino teológico, etc. Inúmeros missionário,s ao longo dos tempos, deram sua valiosa contribuição para que o Evangelho de Jesus Cristo fosse vivido e propagado por todo o nosso Estado de Goiás. Somos gratos a Deus por todos eles. 

3. Em que a igreja legada pelos fundadores se diferenciava da atual igreja batista goiana?
Devemos entender que somos a mesma igreja, o mesmo povo. Entretanto, entendo que a diferença da igreja antiga para as atuais consiste em que muitas igrejas contemporâneas se diferenciam na questão litúrgica. Outras vão mais longe e permitem que o modismo adentre às suas portas. Estas parecem tender para algum método de crescimento de igreja, muitos totalmente fora dos princípios bíblicos. É aí que está a nossa preocupação. Cremos que o verdadeiro método de crescimento ensinado na Bíblia é a pregação do evangelho. Não deve existir outro. Entendo que não precisamos imitar grupo evangélico nenhum, temos a nossa própria identidade. Também, quanto à liturgia, precisamos ter cuidado com o que estamos pregando e cantando. Nada contra cânticos, gosto de muitos; mas o que tenho percebido é que atualmente há muitas músicas totalmente erradas do ponto de vista teológico. O que é um desastre, pois se prega a verdade de Deus e canta-se uma verdadeira mentira. Precisamos ter cuidado com isto.

Outra questão: devemos observar que costumes quanto a liturgias de cultos até podem mudar (pois de fato não há padrões bíblicos ou mesmo modelos bíblicos para questão de liturgia). Mas quanto aos princípios bíblicos, a doutrina ensinada pelos Apóstolos de Cristo, que é a mesma doutrina de Cristo, jamais pode mudar. Mas, infelizmente, há muitas práticas estranhas hoje e em muitos lugares a doutrina verdadeira está sendo deturpada. Falando dos batistas, creio que temos, e devemos ter, a nossa própria identidade como povo batista que somos. Isto é, prezar pela verdade da palavra de Deus; essa verdade não pode ser negociada ou minimizada. Deve ser pregada sem disfarces, sem ilusões, sem modismos, sem invenções mirabolantes e carnais.

4. Existem igrejas batistas em Goiás bastante variadas, desde aquelas que distribuem pequenos brindes contendo informações sobre a igreja e o pastor, até aquelas que ostentam na fachada informações como: Culto do Poder do Espírito Santo e Horários da Bênção. Diante de tal variedade, como identificar uma genuína igreja batista no Estado?
Vivemos em uma era pós-moderna onde os modismos têm imperado. E infelizmente temos percebido isto por aí. Cabe a nós orientarmos e orarmos pelo povo de Deus. Percebo que, mesmo em minoria, existem líderes ou pastores que estão fazendo de tudo para angariar novos “adeptos”. Muitos estão oferecendo “produtos” variados aos seus “consumidores”. Algumas igrejas, das mais diversas denominações, se submetem à lei da oferta e da procura e oferecem o evangelho segundo o gosto do “freguês”. Será que preciso minimizar a mensagem da pregação do evangelho para não mexer com o pecador, e este permaneça em minha igreja? Mas entendo que, como batistas,  não podemos seguir tais práticas. Meu desejo é que em nosso meio haja verdadeira maturidade espiritual e que estes modismos não penetrem em nenhuma igreja que se denomina batista, que faz parte de nossa Convenção. O que acontece hoje é o cumprimento das profecias. Segundo a Bíblia muitos apostatarão da fé e darão ouvidos a doutrinas de demônios; como diz 1Timóteo 4.1 - “Mas o Espírito expressamente diz que em tempos posteriores alguns apostatarão da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrina de demônios”. 

Entendo que se quisermos ser uma igreja bíblica, jamais poderemos negociar nossos princípios e valores. Eu jamais devo fazer o que eu acho, penso ou gosto, em detrimento da Palavra de Deus; mas sim o que a Bíblia diz e ensina, e requer de nós. Cada pastor ou líder deve depender totalmente da direção de Jesus Cristo. Jesus é o cabeça da igreja, nós não. Como líderes precisamos ter o cuidado para não sermos lobos devoradores, que levam o rebanho a apostatar da fé e a praticar coisas estranhas à Palavra de Deus. Uma igreja batista genuína vive, prega e valoriza a Palavra de Deus, a Bíblia. Não se submete aos modismos humanos e carnais. Não troca o alimento espiritual da palavra de Deus por comentários vazios e ocos. Quem é fiel prega o que Deus manda e não o que o ser humano em seu desejo pecaminoso deseja e quer ouvir. Vejo que cada crente precisa defender sua fé e fazer como os irmãos bereanos (de Bereia), que examinavam as Escrituras para confirmarem se o que o Apóstolo Paulo ensinava correspondia com a verdade que liam nas Escrituras (At 17.10-11). É necessário que, individualmente, conheçamos bem a Bíblia, pois conhecendo a verdade jamais nos deixaremos levar por mentiras, enganos ou “ventos de doutrinas”.

5.  O que mudou com relação à doutrina e à liturgia na igreja batista goiana nestes setenta anos e em que áreas a mesma estará propensa a mudanças dentro das próximas décadas?
Vale ressaltar que a doutrina não pode mudar, é bíblica, e por isso inegociável. Já a liturgia até pode variar, já que não há modelo bíblico específico para isso. Por exemplo, não sabemos qual era o modelo de liturgia da igreja em Jerusalém, se o culto daquela igreja começava com oração ou com hinos, se muitos ou poucos participavam voluntariamente da oração no culto; não sabemos qual o tempo que gastavam na exposição do sermão, ou se ele era pregado no início, meio ou final do culto; não sabemos ainda se havia corais ou conjuntos musicais, etc. Estas questões litúrgicas, ou de ordem do culto, podem ser administradas por cada igreja, cada pastor. O problema são os exageros, as invenções de coisas estranhas à doutrina, etc. Outra questão é que igreja não é lugar de show, ou espetáculo humano, não é lugar de satisfazer o gosto ou o ego das pessoas, mas sim o gosto do Senhor nosso Deus. Igreja é lugar de oração, adoração e proclamação, instrução do povo de Deus na Palavra. E isso com toda a decência e ordem.

Vejo com preocupação certas mudanças. Mudanças não positivas, mas negativas, defendidas por uma minoria. Segundo a Bíblia, quem promove isso são homens que têm suas mentes queimadas a fogo, falsos mestres. Como bem disse o apóstolo Paulo em 1Timóteo 4.1-2 - “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios. Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência”. E 2 Timóteo 3. 13-14, diz: "Mas os homens maus e enganadores irão de mal para pior, enganando e sendo enganados. Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido”. Observe também o que diz 2 Pedro 2.1-3: “E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição. 2   E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade. 3   E por avareza farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita". E, ainda em Atos 20.29, Paulo diz: “Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho”.  Devemos observar que a própria Bíblia nos alerta que lobos cruéis e devoradores surgiriam no seio da igreja, e isto já na época dos apóstolos. Imagine hoje, em nossos dias. Contudo, a Igreja é de Jesus. Ele é o Senhor absoluto da Igreja e certamente velará por ela. Cristo está na direção de sua igreja. Cabe a cada um de nós sermos somente mordomos fiéis, obedientes à sua Palavra.
   
6.  Dados recentes indicam que o Brasil tem cerca de 38 milhões de evangélicos, o equivalente a 20% de sua população. Em agosto de 2011, a imprensa publicou dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) demonstrando um aumento de 14% no número de evangélicos que não se sentem ligados a nenhuma religião. Teólogos mais moderados atribuem o comportamento ao materialismo, individualismo e à influência da mídia. Outros analistas mais críticos, apontam como causa principal as lutas por poder no interior das próprias denominações. Como o senhor se posiciona frente às duas visões e por quê?
Entendo que esta questão é muito ampla, as duas visões ou posições realmente existem e são passíveis de análise. Observe, por um lado, que isto é reflexo de um mundo pós-moderno, materialista, onde as pessoas estão cada vez mais isoladas, mais individualistas, mais egoístas. Por outro lado, vejo que muitos, por perceberem o mundanismo, a ganância e os líderes mercenários no meio das diversas igrejas, se decepcionaram profundamente. Ainda há os “evangélicos” que foram iludidos com promessas de prosperidade, de cura ou outras coisas mais e por se decepcionarem profundamente, tornaram-se mais duros de coração, muitos até mesmo fechados para as boas novas do verdadeiro Evangelho. Estes se autodenominam evangélicos, mas estão longe das igrejas.

Esta triste realidade não deve ser motivo para que as pessoas se enclausurem e afastem das verdadeiras igrejas de Cristo. Há igrejas sérias que pregam e vivem o evangelho genuíno, mesmo que existam, infelizmente, muitos evangélicos somente nominais, como existem em outras denominações cristãos nominais. Entendo que realmente não há como ser servo de Cristo e dizer que ama a Cristo, e não amar o que Jesus Cristo ama, que é a sua igreja. Não concebo amor a Cristo sem o amor à igreja de Cristo. Entendo tal afirmação como uma grande mentira, um grande engano. Quem ama a Cristo ama o que Jesus ama. A igreja é sua noiva (Ap 22.17). A igreja é ainda a união dos salvos. Uma igreja local é formada por um grupo de salvos, regenerados, biblicamente batizados, que professam sua fé em Jesus Cristo. Acredito que, os que não se integram à igreja são pessoas que não foram doutrinadas e discipuladas, e por isso não se interessam de verdade pela causa do mestre; pois estão ausentes do culto coletivo, da ceia do Senhor, do batismo, da comunhão, etc.

 Jesus mandou fazer discípulos, mandou batizá-los e ensiná-los. Também mandou que aquele grupo de crentes permanecesse em Jerusalém para que fossem revestidos do poder do Espírito Santo (Atos 1.4,5) e propagassem a o evangelho em todo o mundo (Atos 1.8). Essa é uma tarefa para a igreja toda. Não dá para uma só pessoa ser igreja, igreja é coletividade. Os dons foram dados para benefício da coletividade “para o proveito comum” (1Coríntios 12.7b). A Ceia do Senhor, por exemplo, deve ser celebrada com a igreja reunida: “Porquanto vos ajuntais”, “vos ajuntais na igreja”, "quando vos ajuntais” (1Coríntios11.17b; 18b; 33b). Portanto, não dá para ser evangélico isoladamente. Não foi isso que Jesus ensinou ou desejou para o seu povo.

7. Com relação ao aumento numérico de evangélicos brasileiros, o senhor vê sua convicção bíblica (teoria) e vivência dos princípios do Evangelho, coerentes entre si ou em descompasso? Por quê?
Todos nós nos alegramos e desejamos ver a propagação da pregação do Evangelho. Desejamos ver pessoas salvas, sendo transformadas pela Palavra de Deus, sendo novas criaturas em Cristo. Percebemos de fato crescimento numérico, graças a Deus. Preocupo-me, contudo, com a qualidade de vida cristã demonstrada pelos que professam a fé evangélica em nosso país. Atualmente, parece que é moda alguém dizer que é evangélico ou pertencer a determinada “igreja”. Isso é o que se observa mais facilmente.

8. Como a igreja batista brasileira deverá se comportar neste momento de euforia econômica no País com a inserção de novos segmentos sociais no frenesi do consumo, em um momento em que a consciência ambiental (entendida biblicamente por mordomia) aponta para a direção oposta?
O consumismo desenfreado, a euforia econômica e a ganância por lucros, tornam-se obstáculos para a conservação daquilo que é bom, criado por Deus. Somos chamados a fazer diferença zelando por tudo que é de Deus. O cuidado com a natureza e sua preservação devem ser levados a sério pelo povo de Deus. Devemos dar exemplo, preservando e cuidando, na condição de mordomos fiéis.

9. Que impacto poderia ter a igreja bíblica em uma sociedade que dispõe de uma gama enorme de produtos variados, complexos e atraentes, inclusive no mercado da fé, tendo ela como principal “produto” o plano da salvação: simples, antigo e ainda trazendo, como “efeitos colaterais” renúncia e cruz?
Observe como está o retrato do nosso tempo: Vivemos em uma sociedade onde há grandes transformações sociais, tempos de intensas mudanças de comportamento e costumes, uma época em que as pessoas estão cada vez mais em busca do novo, e daquilo que lhes proporciona prazer imediato. É o retrato do mundo pós-moderno. Vemos uma geração onde grande parte das pessoas vivem sem compromissos com os antigos princípios e valores, uma geração descrente das instituições basilares como a família, a igreja, e o Estado. Vivemos uma época de grande inversão de valores, o que era tido como bom, agora é visto como algo que não tem valor e o que não tinha valor algum, agora está travestido de coisa boa e agradável.

A Bíblia diz em Isaías 5.20: “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo!”. Esta inversão de valores é maléfica e trará sobre os seus defensores o juízo de Deus – “Ai dos...”. Esta nova geração que surge apresenta ser um grande desafio para a Igreja, tanto no contexto da evangelização como na preservação da sua sã doutrina e da ética cristã. Percebemos, neste contexto, que a igreja que prega o evangelho bíblico e legítimo, a salvação em Cristo, que prega a renúncia, o carregar a cruz, tornou-se praticamente irrelevante aos olhos da sociedade, e apresenta-se até tediosa para muitos.

Esta geração, tem desprezado tudo o que se relaciona com exigência, tal como a necessidade de arrependimento, de perdão, de obediência, de justificação e salvação. Observamos que muitas igrejas por aí, independente da denominação, não possuem compromisso com a pregação da mensagem de salvação. Não  pregam mais sobre pecado ou vida eterna. Tal pregação ficou em segundo plano, os cultos viram shows, verdadeiros espetáculos. A igreja vira agência de entretenimento. Neste contexto se dá grande valor às apresentações, às personalidades, às músicas (algumas delas, como já disse, totalmente errôneas quanto à teologia), mas a mensagem bíblica legítima está sendo desprezada, ignorada ou até minimizada.

Entretanto, o evangelho de Jesus sempre foi proclamado em todas as eras, culturas e povos, e por isto não se devemos nos intimidar diante deste novo contexto. O evangelho sempre foi a resposta aos grandes anseios de todos os povos e não deixou de ser. O evangelho é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê (Romanos 1.16). Nestes dias de crises, os pastores, os educadores, os evangelistas, os missionários, os líderes, jamais devem se cansar de ensinar, mesmo diante de corações duros e rebeldes. Eles jamais devem se intimidar. A batalha não é fácil, mas é necessário lembrar que quem convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo é o próprio Espírito Santo (João 16.8).  Somos apenas instrumentos em suas mãos para anunciar as boas novas de salvação em Cristo. O papel do verdadeiro crente e da verdadeira igreja, deve ser o de levar a sério a comissão de Cristo. As verdades eternas precisam ser pregadas, e isso é um grande desafio para cada igreja batista, em nossos dias.

10. Estaria a igreja bíblica vulnerável ante a possibilidade de criar novos produtos para os rótulos antigos, rotular como inovação o já conhecido, ou ainda seguir a terceira via: realizar uma “pesquisa de mercado” e procurar atender à demanda? 
Há uma grande busca por coisas novas. E, ' fórmulas diversificadas' são apresentadas para o crescimento numérico e imediato das igrejas. Não creio nisso. Jesus já nos ensinou tudo o que é necessário. Muitas igrejas acham que, para atingir melhor seus objetivos, tem que se “disfarçar”. Muitas já não querem ser chamadas de igreja. O culto já não é chamado de culto. Cantam músicas 'animadas' do momento, alegando que é para “sacudir” o povo. E, infelizmente o que se nota é que, muitas vezes, também as letras de algumas dessas músicas, são verdadeiros desastres, do ponto de vista bíblico e teológico.

Outras igrejas, por exemplo, estão fazendo campanhas das “unções”, outro dia vi uma que tinha uma faixa na entrada do templo onde dizia: “Campanha das sete unções”.  Onde na Bíblia fala de tantas unções? Isso é uma aberração teológica. Não há nada disso na Bíblia. São invenções humanas e carnais para atraírem adeptos e encherem igrejas durante sete semanas. Vejamos Mateus 22.29: “Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus”. O Espírito Santo é quem convence o pecador. Para crescermos genuinamente como igreja, não é necessário “invenções”. Precisamos apenas obedecer, pregar e viver genuinamente o que aprendemos do evangelho de Jesus. Se formos uma igreja que agrada ao Senhor, ele mesmo acrescentará salvos à Igreja (Atos 2.47b).

11. A imprensa noticia que igrejas nos EUA estão lançando campanhas para que seus fiéis emagreçam. Considerando que a obesidade é uma doença e um problema de Saúde Pública, como o senhor analisa tal posicionamento e até onde a igreja deve assumir a responsabilidade de resolver as mazelas sociais?
Jesus curou a muitos, fez sinais e maravilhas visando chamar a atenção do povo para a chegada do Reino de Deus. Jesus não montou nenhuma tenda de milagres, mas proclamou a salvação às pessoas nas aldeias e cidades por onde passava. Jesus se preocupou primeiramente com a salvação do ser humano, mas creio que também se alegrava com o seu bem estar físico. Assim, não vejo problema algum em que as lideranças das igrejas, ou mesmo pessoas da área de saúde, orientem os membros das igrejas ou pessoas da comunidade sobre como ter uma saúde melhor e viver bem. Afinal, também somos mordomos dos nossos corpos, diante do Senhor. Creio que o Senhor deseja que vivamos bem. E se a igreja pode colaborar para isso, não vejo nenhum mal. A igreja não resolverá todas as mazelas sociais, mas naquilo que puder cooperar, será de grande proveito. Precisamos ser sal e luz neste mundo de trevas.

12. O maior segmento evangélico brasileiro que adota a Teologia da Prosperidade, está construindo o seu maior templo no sudeste do Brasil, seguindo o traçado do templo construído por Salomão. Qual a leitura que o senhor faz do empreendimento em si e também da Teologia da Prosperidade no País?
Vejo a construção deste templo, segundo afirmam: nos moldes daquele de Salomão, como algo totalmente absurdo. Primeiramente porque o templo de Salomão atendia os rituais e as cerimônias do Antigo Testamento referente ao culto judeu. Observando que naquela época havia sacerdotes, sumo-sacerdote, altar para sacrifícios, o lugar santo, o santo dos santos, o átrio das mulheres, dos gentios, dos judeus, etc. O templo de Salomão não possuía um salão para culto como temos hoje nos templos das igrejas com: cadeiras ou bancos, plataforma para púlpito, para o piano, para o coral, etc. O templo possuía os átrios que eram alpendres externos, salas anexas, e no centro, o templo em si, possuía divisões: salão central (Lugar Santo) a parte posterior (o Santo dos Santos ou Lugar Santíssimo). O molde e objetivo da construção era outro. Havia o local do sacrifício, o local do incenso, o local da arca da aliança, etc. O povo não tinha acesso a todos os lugares como nos templos de hoje, somente aos átrios externos; enquanto somente os sacerdotes ou sumo sacerdote tinham acesso ao interior do templo propriamente dito; e o sumo sacerdote ao Santo dos Santos uma vez por ano. Diante disso, vejo esta construção deste segmento evangélico, como um chamariz para atrair peregrinos de todo o país para tal lugar. Um possível local para romaria.

Quanto à Teologia da Prosperidade, a vejo como um engano ao povo. Muitos só querem ouvir coisas positivas referentes à prosperidade, mas nunca saber a fundo o que a bíblia realmente deseja ensinar. Por exemplo, muitos gostam de citar Deuteronômio 28.13, onde se lê: “E o Senhor te porá por cabeça, e não por cauda...”; mas desprezam I Coríntios 4.11-13 onde diz: “somos considerados como o lixo do mundo”. Isso ninguém gosta de ouvir nem mesmo citar. Gostam de citar Filipenses 4.13: “Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece”. Mas não observam o contexto anterior, a que o verso citado faz referência. Em Filipenses 4.12 (verso anterior) Paulo diz: “Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade". Então diz no verso seguinte: “Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece” – (V.13). Por isso digo que tal teologia é um grande engano.

13. O senhor compareceu, pela primeira vez como Presidente da CBG a uma série de reuniões, convocada pela CBB no Rio de Janeiro em meados do mês de agosto de 2011.  Quais as deliberações tiradas neste evento específico que podem influir na vida do povo batista do Centro Oeste?
Confesso que estas reuniões do Conselho da Convenção Batista Brasileira me surpreenderam pela espiritualidade e comunhão reinante entre os líderes presentes naqueles dias. Gostei muito. O Conselho da CBB esteve tratando de questões voltadas ao novo planejamento estratégico da CBB. Tal planejamento estratégico foi apresentado na assembléia convencional, em Foz do Iguaçu, em Janeiro deste ano de 2012. Observo também que o novo modelo administrativo, adotado pela CBG a partir do novo estatuto, certamente trouxe e trará grande agilidade quanto ao processo administrativo da CBB e de certa forma isso será positivo a nossa denominação batista. O que é bom para a CBB poderá ser bom também para as convenções; inclusive a nossa, tendo em vista a agilidade e eficiência administrativa que aparentemente se percebe neste novo modelo.

14.Que tipo de igreja batista goiana o senhor vislumbra para as próximas décadas?
O meu sonho é que possamos ser realmente igrejas que vivam a Bíblia. Que cumpra fielmente os ensinos de Jesus, que ame a sua obra. Meu desejo é ver igrejas e líderes mais unidos, mais cooperantes, mais de oração e Bíblia. Desejo ver mais igrejas firmes nos propósitos de Deus, sadias doutrinariamente, que jamais corram atrás de modismos humanos, que jamais se deixem envolver com práticas estranhas à doutrina de Cristo, que sejam firmes na fé e na oração. Sonho em ver mais e mais igrejas fiéis na proclamação do Evangelho, igrejas que sejam generosas em contribuir e investir na obra missionária, que reconheçam e cumpram fielmente a sua missão.

15.Qual a  mensagem  o senhor deixaria à atual  igreja batista em Goiás ?
Primeiramente gostaria de lembrar que fomos eleitos e tomamos posse na presidência da CBG na 67ª Assembléia em Jataí, no mês de Julho 2011, para mandato de dois anos, e temos sentido o grande privilégio e responsabilidade de podermos cooperar na obra de Deus através desta Convenção. Vejo os grandes e inúmeros desafios que temos pela frente. O trabalho é grandioso e árduo; a responsabilidade, os desafios, os sonhos e as esperanças são muitos. Destaco que a unidade do povo de Deus é algo indispensável para que possamos como Igreja e Convenção, atingirmos nossos objetivos na proclamação do Evangelho de Nosso Senhor Jesus.

 Devemos notar que Jesus afirmou que a casa dividida não pode prevalecer (Mateus 12.25). Por isso precisamos ser unidos. Jamais devemos nos desanimar, desistir, ou mesmo dar ouvidos a quem deseja somente criticar e nunca contribuir, somando, agindo e apontando soluções práticas. A obra é do Senhor Jesus, e creio que Ele está a nossa frente, dando-nos força, nos conduzindo e direcionando. Temos muitos sonhos para nossa denominação em Goiás. Vemos a necessidade de algumas adequações administrativas para podermos ser mais eficientes. O meu desejo é a excelência na obra. Pois o que devemos fazer para o Senhor, devemos fazer da melhor forma. A excelência na obra é algo fundamental. Entretanto algumas boas mudanças levam tempo, não há como realizar algo grandioso da noite para o dia, ou de qualquer forma. Mas estamos nos esforçando para dar o melhor na obra. Certamente algumas mudanças virão, mas tudo de forma sadia, em seu tempo devido.

Sinto a necessidade de destacar que o trabalho do presidente e da diretoria estatutária eleita é voluntário é não remunerado. Muitos estão pensando que o presidente da CBG ganha salário para exercer suas funções e isso não procede. Fazemos por amor a obra. O máximo que temos é reembolso das despesas a serviço da CBG. Entretanto temos um secretário Geral, que trabalha de tempo integral e vive deste ministério, este sim é remunerado. Temos funcionárioS no escritório que exercem diversas funções, estes também são remunerados. Peço oração por todos nós que estamos envolvidos diretamente com o trabalho denominacional. Também devemos interceder pela nossa Convenção, Seminário, igrejas, congregações, pastores das igrejas, missionários, evangelistas, líderes locais, irmãos em Cristo, etc.

Também desejo lembrar que todos nós batistas, somos frutos da cooperação. As igrejas batistas não nasceram por acaso, nasceram porque um dia foram semeadas, uma a uma. E a importância de tudo isto é que continuemos a ser igrejas multiplicadoras, semeando para dar origens a novas igrejas. Para realizarmos o trabalho missionário, de plantação ou revitalização de igrejas é necessário amor, oração, dedicação e investimento. A obra não é feita sozinha é necessário a participação de cada um de nós, de cada igreja. Jesus nos deu uma grande comissão: “fazei discípulos... batizando-os... ensinando-os...”. Almas precisam ser ganhas e salvas, precisam ser integradas às igrejas e discipuladas para que se multipliquem. Quando como igreja, enviamos o nosso plano cooperativo e ofertas missionárias para a Convenção, estamos investindo na obra missionária em Goiás e no Brasil. Por exemplo, podemos encontrar pastores que tiveram seus estudos sustentados, integral ou parcialmente, pelo fruto da cooperação; missionários são enviados e sustentados através da cooperação; Seminários são mantidos pela cooperação; escritórios denominacionais, juntas missionárias, são mantidos através da cooperação, etc.

Se uma igreja batista isola-se e não participa ou apóia a cooperação, está indiretamente dizendo que não precisa das demais igrejas, e que não está disposta a somar esforços para que a obra de Cristo seja propagada, ou mesmo pensa que pode fazer tudo sozinha. Se cada igreja batista nasceu como fruto da cooperação entre irmãos e igrejas, e se o evangelho chegou até nós, e a nossa família foi graças a Deus e aos missionários que vieram através da prática da cooperação dos nossos irmãos do passado. Pelo menos por gratidão, devemos praticar a cooperação. Vale à pena participar do Plano Cooperativo e das ofertas especiais para missões. Devemos lembrar que recursos humanos e materiais custam dinheiro, e é necessário investimento na obra de Deus.

Participar do Plano Cooperativo é uma questão de ensino, de exemplo, e de amor a Cristo e a sua obra. Portanto, participar do plano cooperativo é um privilégio que temos como igreja. O que temos que fazer em prol do reino devemos fazê-lo agora, pois a obra do Senhor requer urgência. Gostaria de aproveitar esse momento para convidar todas as Igrejas Batistas de nosso Estado para participarem do lançamento oficial da Campanha de Missões Estaduais 2012 que se dará dia 01 de maio de 2012, no ACAMBAGO. A entrada é franca e todos estão convidados a passarem o dia conosco ali. Também quero lembrar a cada Igreja que a Assembléia Anual da Convenção Batista Goiana será dos dias 05 a 08 de Julho no templo da Primeira Igreja Evangélica Batista em Rio Verde. Serão dias inspirativos e de celebração ao nosso Deus. O mensageiro oficial será o Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho. Todos já estão convidados e convocados para este maravilhoso evento.
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