domingo, 21 de outubro de 2018

"EU PERTENÇO, TU PERTENCES, ELE NÃO PERTENCE"


“Eu pertenço, tu pertences, ele não pertence”

Uma abordagem sobre a discriminação


Ele tinha 14 anos, muita raiva e uma pistola 40 na mochila. Dos colegas atingidos, dois morreram no local e três outros foram levados para o hospital. E, a manhã da sexta-feira, 20 de agosto de 2017, ficaria marcada para sempre na história do Colégio Goyases, em Goiânia. Mas, o evento que teve lugar no centro do Brasil, por mais trágico e único que tenha sido, é parte de uma sombria estatística que se repete através das culturas ao longo da História. Tais episódios, em geral protagonizados por indivíduos com pouca capacidade de processar recalques e complexos, constituem uma reação a uma forma muito cruel de violência descrita por discriminação, segregação ou exclusão.

O homem é um ser gregário. O primeiro livro da Bíblia relata uma conclusão a respeito disso por parte do próprio criador: ”Não é bom que o homem esteja só”. Embora se saiba que no caso específico tratasse de uma relação conjugal, a assertiva estende-se para muito além da relação entre duas pessoas. O ser vivo tem necessidade de um referencial de grupo, seja ele mais permanente (para a vida toda) como os laços de sangue ou grupos consanguíneos, seja mais temporário como um grupo de escola ou de afinidade (que se une para realizar algum objetivo específico ou em torno de alguma causa). O sentimento de pertença conecta a humanidade e gera uma sensação de conforto, mas o de não pertencimento pode desestruturar e revoltar.

O conceito exclusão ocorre com admirável normalidade nas redes sociais, onde se pode excluir algum “amigo” por alguma razão ou até mesmo sem nenhuma. Na vida real, a exclusão pode adquirir uma conotação bem mais dramática, especialmente porque armas letais estão ao alcance muita gente. Existem formas abertas e veladas de se discriminar ou segregar. A vítima pode ser comunicada verbalmente de que não é bem vinda a determinado grupo, pode ser hostilizada para que decida se ausentar ou ainda pode ser intencionalmente ignorada, como se fosse transparente. A discriminação velada pode ser tão ou mais cruel do que a aberta.


O bullyng
Embora, muito recentemente reconhecido por esta designação, o bullyng é um comportamento social muito antigo. Diferentemente de brincadeira ou simples “zoação”, o bullyng caracteriza-se por ser agressivo, intencional e repetitivo, praticado contra pessoas vulneráveis. É movido pela intenção de ofender, ridicularizar, aterrorizar e isolar a vítima em desequilíbrio de força para feri-la física, moral e psicologicamente.

A Bíblia relata que Ana foi vítima de bullyng por parte de Penina e chegou à Depressão e que o Profeta Eliseu foi vítima de bullyng por parte de uns meninos, amaldiçoou-os e quarenta e dois deles foram despedaçados por duas ursas. As reações das vítimas do bullying vão de suicídio (bullyingcídio) à vingança trágica. No Brasil, Juízes têm aplicado punições alternativas e indenizações por danos morais aos pais de filhos agressores, por “imposição intencional de sofrimento emocional” e responsabilizado escolas e outras organizações sob o princípio da responsabilidade solidária.

Prevenção e Tratamento
Aos pais é requerido que acompanhem seus filhos e estejam atentos à sua expressão, buscando sinais de tristeza ou de mentira. Que estejam aptos a detectarem a presença do bullyng, sofrido, praticado ou presenciado por seus filhos, reportando os eventos à escola e sugerindo caminhos para que cheguem, conjuntamente, à solução. Os pais devem ainda auxiliar seus filhos a desenvolverem a capacidade de processar algumas emoções. Na Psicologia, o conceito Resiliência significa a atitude que o sujeito desenvolve de resistir com maior equilíbrio emocional aos eventuais ataques e sobrecargas, crescendo com os fatos, mantendo suas emoções positivas e contribuindo para o desfecho da situação, sem traumas. A resiliência ajuda a vítima de bullying a não se afetar tanto com as provocações compreendendo que o problema, em geral, está nas limitações e fraquezas pessoais do agressor.

O papel da escola
 À escola, cabe detectar e reagir com firmeza, rapidez e sabedoria contra ações caracterizadas como bullying. Os regimentos escolares devem prever punições justas e a escola deve capacitar seus professores e equipe técnica para identificar vítimas e agressores nesta forma de violência. Deve eleger educadores experientes como mediadores e formar grupos de apoio e suporte visando proteger os potencialmente alvos de bullying, auxiliar os possíveis agressores na superação de suas dificuldades, acolher e tratar as denúncias buscando a solução de disputas e queixas.  Deve redobrar o cuidado e atenção a espaços físicos considerados vulneráveis à prática do bullyng, a alunos alvo (baixo rendimento e isolamento) e a agressores (exibicionismo e arrogância), sentimentos das vítimas (tristeza e medo), faixa etária e sexo (meninos, entre 10 e 13 anos) e população alvo (tímidos e diferentes da maioria em algum aspecto).

Deve apresentar o conceito, as causas, as consequências e as formas inteligentes de se inibir o comportamento por meio de programas, ressaltando valores como caráter e cidadania e virtudes como tolerância, humildade, generosidade e paciência na construção de relacionamentos saudáveis, capazes de promover a cultura da paz, acolhimento e solidariedade, em que as diferenças sejam aceitas e o ser humano, respeitado.

O papel da sociedade
Recentemente, visando conter o avanço do bullyng no âmbito da internet, um dos aplicativos mais populares incorporou um recurso que funciona como um filtro contra comentários ofensivos. Assim, usuários que escreverem palavras com teor ofensivo como ataques à aparência física, terão seus comentários ocultados.

A conduta cristã refuta veementemente a discriminação. A Bíblia admite a existência do bullyng na convivência social, mas apresenta o seu a antídoto. Falando sobre o estrangeiro, posto entre os muitos vulneráveis à discriminação através dos tempos, lembra em Êxodo 23.9: “Também não oprimirás o estrangeiro; pois vós conheceis o coração do estrangeiro, pois fostes estrangeiros na terra do Egito.” E, menciona o dever de amar o estrangeiro, em Dt 10:19: “Por isso amareis o estrangeiro, pois fostes estrangeiros na terra do Egito”. Sobre a discriminação, de modo geral, textos como o de Jó 13:10, são contundentes: “Certamente vos repreenderá, se em oculto fizerdes acepção de pessoas”.
 Carmelita Graciana.

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