“Eu pertenço, tu pertences, ele
não pertence”
Uma abordagem sobre a
discriminação
Ele tinha 14 anos, muita raiva e
uma pistola 40 na mochila. Dos colegas atingidos, dois morreram no local e três
outros foram levados para o hospital. E, a manhã da sexta-feira, 20 de agosto
de 2017, ficaria marcada para sempre na história do Colégio Goyases, em Goiânia.
Mas, o evento que teve lugar no centro do Brasil, por mais trágico e único que
tenha sido, é parte de uma sombria estatística que se repete através das
culturas ao longo da História. Tais episódios, em geral protagonizados por
indivíduos com pouca capacidade de processar recalques e complexos, constituem
uma reação a uma forma muito cruel de violência descrita por discriminação,
segregação ou exclusão.
O homem é um ser gregário. O
primeiro livro da Bíblia relata uma conclusão a respeito disso por parte do
próprio criador: ”Não é bom que o homem esteja só”. Embora se saiba que no caso
específico tratasse de uma relação conjugal, a assertiva estende-se para muito
além da relação entre duas pessoas. O ser vivo tem necessidade de um
referencial de grupo, seja ele mais permanente (para a vida toda) como os laços
de sangue ou grupos consanguíneos, seja mais temporário como um grupo de escola
ou de afinidade (que se une para realizar algum objetivo específico ou em torno
de alguma causa). O sentimento de pertença conecta a humanidade e gera uma
sensação de conforto, mas o de não pertencimento pode desestruturar e revoltar.
O conceito exclusão ocorre com admirável
normalidade nas redes sociais, onde se pode excluir algum “amigo” por alguma razão
ou até mesmo sem nenhuma. Na vida real, a exclusão pode adquirir uma conotação
bem mais dramática, especialmente porque armas letais estão ao alcance muita
gente. Existem formas abertas e veladas de se discriminar ou segregar. A vítima
pode ser comunicada verbalmente de que não é bem vinda a determinado grupo, pode
ser hostilizada para que decida se ausentar ou ainda pode ser intencionalmente
ignorada, como se fosse transparente. A discriminação velada pode ser tão ou
mais cruel do que a aberta.
O bullyng
Embora,
muito recentemente reconhecido por esta designação, o bullyng é um comportamento
social muito antigo. Diferentemente de brincadeira ou simples “zoação”, o
bullyng caracteriza-se por ser agressivo, intencional e repetitivo, praticado
contra pessoas vulneráveis. É movido pela intenção de ofender, ridicularizar,
aterrorizar e isolar a vítima em desequilíbrio de força para feri-la física,
moral e psicologicamente.
A Bíblia
relata que Ana foi vítima de bullyng por parte de Penina e chegou à Depressão e
que o Profeta Eliseu foi vítima de bullyng por parte de uns meninos, amaldiçoou-os
e quarenta e dois deles foram despedaçados por duas ursas. As reações das
vítimas do bullying vão de suicídio (bullyingcídio) à vingança trágica. No
Brasil, Juízes têm aplicado punições alternativas e indenizações por danos
morais aos pais de filhos agressores, por “imposição intencional de sofrimento emocional”
e responsabilizado escolas e outras organizações sob o princípio da
responsabilidade solidária.
Prevenção e Tratamento
Aos pais é
requerido que acompanhem seus filhos e estejam atentos à sua expressão, buscando
sinais de tristeza ou de mentira. Que estejam aptos a detectarem a presença do
bullyng, sofrido, praticado ou presenciado por seus filhos, reportando os
eventos à escola e sugerindo caminhos para que cheguem, conjuntamente, à
solução. Os pais devem ainda auxiliar seus filhos a desenvolverem a capacidade
de processar algumas emoções. Na Psicologia, o conceito Resiliência significa a
atitude que o sujeito desenvolve de resistir com maior equilíbrio emocional aos
eventuais ataques e sobrecargas, crescendo com os fatos, mantendo suas emoções
positivas e contribuindo para o desfecho da situação, sem traumas. A
resiliência ajuda a vítima de bullying a não se afetar tanto com as provocações
compreendendo que o problema, em geral, está nas limitações e fraquezas
pessoais do agressor.
O papel da escola
À escola, cabe detectar e reagir com firmeza,
rapidez e sabedoria contra ações caracterizadas como bullying. Os regimentos
escolares devem prever punições justas e a escola deve capacitar seus
professores e equipe técnica para identificar vítimas e agressores nesta forma
de violência. Deve eleger educadores experientes como mediadores e formar
grupos de apoio e suporte visando proteger os potencialmente alvos de bullying,
auxiliar os possíveis agressores na superação de suas dificuldades, acolher e
tratar as denúncias buscando a solução de disputas e queixas. Deve redobrar o cuidado e atenção a espaços
físicos considerados vulneráveis à prática do bullyng, a alunos alvo (baixo
rendimento e isolamento) e a agressores (exibicionismo e arrogância),
sentimentos das vítimas (tristeza e medo), faixa etária e sexo (meninos, entre
10 e 13 anos) e população alvo (tímidos e diferentes da maioria em algum
aspecto).
Deve
apresentar o conceito, as causas, as consequências e as formas inteligentes de
se inibir o comportamento por meio de programas, ressaltando valores como caráter
e cidadania e virtudes como tolerância, humildade, generosidade e paciência na
construção de relacionamentos saudáveis, capazes de promover a cultura da paz,
acolhimento e solidariedade, em que as diferenças sejam aceitas e o ser humano,
respeitado.
O papel da sociedade
Recentemente,
visando conter o avanço do bullyng no âmbito da internet, um dos aplicativos
mais populares incorporou um recurso que funciona como um filtro contra
comentários ofensivos. Assim, usuários que escreverem palavras com teor
ofensivo como ataques à aparência física, terão seus comentários ocultados.
A conduta
cristã refuta veementemente a discriminação. A Bíblia admite a existência do
bullyng na convivência social, mas apresenta o seu a antídoto. Falando sobre o
estrangeiro, posto entre os muitos vulneráveis à discriminação através dos
tempos, lembra em Êxodo 23.9: “Também não oprimirás o estrangeiro; pois vós
conheceis o coração do estrangeiro, pois fostes estrangeiros na terra do Egito.”
E, menciona o dever de amar o estrangeiro, em Dt 10:19: “Por isso amareis o
estrangeiro, pois fostes estrangeiros na terra do Egito”. Sobre a discriminação,
de modo geral, textos como o de Jó 13:10, são contundentes: “Certamente vos repreenderá,
se em oculto fizerdes acepção de pessoas”.
Carmelita Graciana.
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