Num programa de TV, ouvi o pastor afirmar que a mulher samaritana, após a conversa com Jesus, foi evangelizar seus ex-amantes. Baseou-se na expressão de João 4.28: “...foi à cidade e disse àqueles homens”. Além de não constar que aqueles homens eram os tais ex-amantes, outras versões traduzem: “disse ao povo”, “disse a todo mundo”, “disse a todas as pessoas”. Acresce que o contexto também desautoriza a exegese do referido pregador. Quando a compreensão de uma parte depende do todo ou de maior transparência, haja cuidado!
Que a Bíblia se interpreta pela própria Bíblia nenhum exegeta deve
desconhecer. Por exemplo: um texto sem clareza é frágil alicerce para se construir doutrina. Isso remete o
estudante a contextos, que podem estar próximos ou distantes; pouco antes ou muito
depois da passagem em análise; composto de um só versículo ou de muitos; de um
livro ou de vários. Algumas amostras: a compreensão sobre “o evangelho pregado aos
mortos” (I Pedro 4.6) recebe alguma luz no verso anterior (5), contexto bem próximo,
favorecendo a ideia de que muitos mortos estão em pleno gozo da vida eterna porque,
enquanto vivos, ouviram e creram. O caso dos “espíritos em prisão” (I Pedro 3.19-20)
conduz o intérprete aos dias de Noé (Gênesis 6), admitindo-se “espíritos” como pessoas
prisioneiras do pecado sendo agraciadas com uma forma de atuação de Jesus no Antigo
Testamento. A exposição fiel da carta aos Hebreus condiciona-se, ao menos em parte,
à leitura diligente de Levítico. E o correto perfil do Messias? Evoca
informações contidas em diversos livros dos dois Testamentos. Por vezes,
portanto, o contexto é bem amplo.
Não se deve ignorar também que a Bíblia se interpreta gramaticalmente,
o que confere especial valor às traduções fiéis e responsabiliza sobremodo os
mestres. O que compromete certos expositores é a exegese truncada, distorcida e
até tendenciosa, percorrendo um caminho que passe longe da mais elementar
escola de Hermenêutica.
Quanto aos “textos difíceis” (II Pedro 3.16), que são numerosos, nunca
sejam pretexto para o pessimismo e preguiça mental. Demandam tempo e perseverança; interesse e otimismo;
prudência e humildade, evitando-se pronunciamentos apressados e autoritários, ou postura petulante. Ao
doutor da lei que lia mal as Escrituras, o Mestre inquiriu: “Que está escrito
na lei? Como lês?” (Lucas 10.26). Ao eunuco, Filipe ensinou a ler acerca de
Cristo (Atos 8.30). Estando o Senhor Jesus no centro da mensagem revelada, sendo
ele próprio a Palavra de Deus, que jamais esse divino Verbo seja sacrificado no
altar do verbo humano!
Nota: Trabalho de Francisco
Mancebo Reis- Publicado (Texto e Imagem) em O Jornal Batista -Ano CXII- Edição
31 de Domingo, 29.07.2012. http://ojornalbatista.com.br/
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