terça-feira, 15 de novembro de 2011

AMIZADE


O Brasil foi colonizado por portugueses e entre eles vieram os jesuítas que desejaram fazer do país, a maior nação católica do mundo. Porém, simultaneamente ao descobrimento do Brasil, a Reforma Protestante, iniciada por Lutero, encontrava-se em curso na Europa. O Velho continente, mergulhado em uma grave crise econômica assistia a perda de muitos católicos que migravam para a fé evangélica e, muitos destes buscaram oportunidades de vida no País e aqui propagavam a nova leitura que faziam do Evangelho.  Porém, ainda por volta de 1824, o Brasil era considerado um país 100% católico.  No entanto, a partir de 1855, os primeiros missionários protestantes começaram a chegar e a residir aqui, permanentemente. Isto contribuiu para que em três décadas, todas as denominações protestantes históricas se estabeleceram no país e foram dando uma nova configuração ao Brasil. Muitos missionários tinham especializações profissionais e contribuíram muito para a educação e demais áreas sociais. Fundaram igrejas, escolas, universidades, clínicas, hospitais, jornais, editoras, etc. Trabalharam em favor da liberdade religiosa, promovendo o respeito à sua inerente diversidade. Apresentaram a “salvação pela graça, mediante a fé” e a visão responsável de que “a fé sem obras é morta”.

Na década de 1970, os evangélicos no Brasil, que já haviam quebrado a hegemonia da fé oficial, embora ainda representados por poucos grupos, tinham entre os seus cânticos preferidos um que dizia: “Se uma boa amizade você tem, louve a Deus, pois a amizade é um bem... A amizade vem de Deus e a Deus deve levar. Como é bom quando se sabe amar!”. Ironicamente, a prática contrária a este cântico foi motivadora de grande parte das divisões e proliferação de grupos bastante controversos, cuja sobrevivência se estriba exatamente na rivalidade, na concorrência e na inimizade. As últimas estatísticas apresentadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) demonstram que o número de evangélicos cresceu fortemente nas últimas décadas no País. E, dado ao noticiário nacional, a amizade não seguiu a mesma linha. Ao contrário, assiste-se a ataques recíprocos bastante contundentes no seio da comunidade evangélica nacional, que deveria atuar como uma família. Neste quesito, talvez atue, porque ao contrário do que a utopia tende a induzir também no seio da família de sangue a inimizade foi uma constante desde o Éden, quando Caim matou a Abel.  Passa por Miquéias há 700 anos a.C (“Porque o filho despreza ao pai, a filha se levanta contra sua mãe, a nora contra sua sogra, os inimigos do homem são os da sua própria casa. (Miquéias 7.6). Estava presente também na família aos tempos de Jesus Cristo:“ E assim os inimigos do homem serão os seus familiares “(Mateus. 10.36), e estende-se aos nossos dias, quando os noticiários estão repletos de violência intra-familiar, causada, geralmente, por inimizade.
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A inimizade e violência dentro da familia- A inimizade dentro da família geralmente ocorre por disputa por poder e riqueza. E, tal disputa não é coisa nova na história humana. A Bíblia conta que na primeira família, formada por Adão e Eva, a inimizade levou um irmão a matar o outro. Portanto, ainda sob a atmosfera do Éden ocorreu o primeiro homicídio. Depois, fora toda sorte de inimizade e causava enormes danos entre os vassalos dos reinos, a História Geral registra que no mundo antigo era comum o rei ter o seu copeiro-mor, que tinha entre as suas tarefas, a incumbência de degustar a comida que viria a ser servida ao rei, para que evitasse que o mesmo morresse por envenenamento. Nota-se que os interessados em seu trono eram normalmente membros de sua família. Era servida, então, uma pequena porção da comida do rei ao copeiro-mor em uma pequena bandeja chamada “salva”, obviamente, por salvar a vida do monarca da morte que poderia vir da lista dos sucessores ao trono, que em geral era composta por membros de sua família. Neemias, um profeta que atuou entre exilados, teve a função de copeiro- mor, junto ao rei da Pérsia (atual Irã). A família dos Césares, em Roma, era outro lugar minado por causa da inimizade gerada pela disputa por poder onde trair matar e morrer era, segundo os historiadores Tácito, Suetônio e Dião Cássio, a regra e não a exceção. A História registra que Nero, gerado neste ninho de cobras, antes de ser obrigado a suicidar, pôs fogo em Roma e mandou matar Agripinila, sua própria mãe. Depois, segundo muitos historiadores, a inimizade entre famílias (tribos) e também intra familiar africanas garantiu o abastecimento dos navios negreiros nos mares do mundo no vergonhoso e dolorido capítulo da escravidão negra em algumas regiões da Terra. 

Hoje, mais de 2000 anos depois de Jesus Cristo, os noticiários estão repletos de violência envolvendo familiares. São pais que abandonam filhos, os estupram, os envenenam, jogam-nos pela janela, obrigam-nos ou induzem-nos a prostituírem-se. São filhos que abandonam, maltratam, exploram ou matam pais, tios e outros familiares. No Brasil, por exemplo, foram criadas várias leis com a finalidade de inibir a violência doméstica, como o Estatuto do Idoso, Estatuto da Criança e do adolescente e a mais conhecida de todas, a Lei Maria da Penha, além de muitas delegacias especializadas.  No entanto, nota-se que tal arcabouço legal atua com medidas punitivas, porém não impedindo a violência gerada pela inimizade que se desenvolve e se estabelece no seio da família e não poucas vezes termina em morte. A própria Bíblia, que não escamoteia os assuntos desagradáveis, fala de muita inimizade. Em gênesis há o registro de um irmão que matou o outro. Depois, entre Esaú e Jacó, os dois filhos do casal Isaque e Rebeca, gerou e cresceu  uma grande inimizade sendo que  Jacó perseguido pelo irmão teve que fugir para a terra do tio Labão e este o enganou. Jacó constituiu uma família dentro da qual havia ciúmes, inveja, discórdias e toda sorte de inimizade. Teve preferência por filhos e um deles, José, foi vendido pelos demais irmãos ao Egito. Bem mais tarde, a família do próprio Davi, construída sobre a areia movediça da inimizade, traduzida em  traição e morte, gerou um  ambiente familiar de discórdia, desassossego, perseguição e morte. Fazendo-nos lembrar das palavras de Paulo, em  Gálatas 6.7: "Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará".
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Utopia- A Humanidade constrói fantasias a respeito de muitas coisas tais como o amor, o casamento, a bondade humana, a sociedade, a democracia. Esquece-se de que tais instituições são concebidas pelo ser humano de natureza limitada pelo pecado. Esta é a razão que leva muita gente a acreditar nos “amigos virtuais”, a cantar como o romântico Roberto Carlos há cerca de três décadas: “eu quero ter um milhão de amigos”. Depois, outro cantor, Milton Nascimento, com muita sensatez definiu: “Amigo é coisa prá se guardar, do lado esquerdo do peito. Dentro do coração”. Atualmente, a sociedade tem se contentado com os bordões como o do comunicador Arnaldo Jabor em uma rádio de grande audiência: “Amigo Ouvinte” e “Amigos da Rede Globo” do comentarista esportivo Galvão Bueno na maior emissora de televisão do País. O homem está convencido de que amizade é uma coisa muito boa, como dizia o cântico da década de 1970 e sempre desejou ter amigos. Mas a amizade, como outras construções humanas como a família, é concebida por gente limitada pelo pecado, por esta razão não virá sem esforço nem sem investimento, dado às forças que lhes opõem.

Reflexão - Deus é muito criativo não concebe em série, em escala industrial como na produção de robôs. Nem do ponto de vista externo, nem internamente. Todos os seres são diferentes entre si. Mesmo os gêmeos univitelinos têm diferenças consideráveis, por fora e por dentro. A pergunta que se coloca é: os opostos se atraem complementando-se ou se repelem?  Diferenças juntam ou separam?

Curiosidade: O Dia do Amigo é celebrado a 20 de julho em diversos países. A data, oficializada em Buenos Aires, foi sendo adotada em outras partes do mundo. A idéia da celebração foi do sociólogo e filósofo argentino Enrique Ernesto Febbraro que se inspirou na chegada do homem à lua, em 20 de julho de 1969. Febbraro assistindo a chegada do homem à lua e, cheio de entusiasmo, deduziu: "Se o homem se unir com seus semelhantes, não há objetivos impossíveis”. Já o escritor britânico Norman Douglas, foi bastante realista sobre as relações de amizade, possivelmente levando em conta as muitas limitações humanas, e afirmou: “Para encontrar um amigo, devemos fechar um olho. Para conservá-lo, devemos fechar os dois”.

A Bíblia tem também exemplos de amizade sincera como a demonstrada por Davi a Jônatas cuidando de Mefibosete seu filho especial, coxo dos dois pés. E também a amizade de Rute, a estrangeira, pela sogra Noemi, traduzida em uma linda declaração de amor que lhe fizera, por ocasião em que a sogra, que perdera os dois filhos, liberava as duas noras e retornava à sua terra natal. Respondeu-lhe Rute: “Não me instes para que te abandone, e deixe de seguir-te; porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus” (Rute 1:16).  Mas como praticar a amizade verdadeira em um mundo falso? Até a comida perdeu o sabor original.  Até o arroz e o feijão agora precisam de “Meu arroz” e “Meu feijão”, um pó artificial que, ironicamente, promete restaurar o sabor natural do principal prato brasileiro. Assim como preservar a amizade pura e autêntica, que “vem de Deus e a Deus deve levar” em um mundo de aparência onde pessoas se vêem como concorrentes e competidores? A própria Bíblia responde a tal questionamento. Paulo aconselha como deve ser a amizade: “O amor seja não fingido. Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem” (Romanos 12:9). Também Jesus Cristo aponta o caminho em Mateus 7.12: “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas”. E também em  João 15:12 Jesus foi ainda mais enfático  com esta recomendação:  “O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei”. Este deve ser o parâmetro para a amizade.
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