terça-feira, 5 de abril de 2011

A FAMÍLIA E A EDUCAÇÃO FINANCEIRA-Visão Missionária 2T11

Um jovem pai de um bebezinho de cerca de dois meses de idade saiu de uma agência bancária e dirigiu-se ao filho nos braços da mãe, junto à motocicleta: “o papai abriu uma poupancinha prá você”. Ironicamente, no estacionamento da mesma agência bancária em Goiânia, há cerca de uns três anos, um velho pai irremediavelmente endividado por dois de seus três filhos já adultos, a bordo de um belo carro, suicidou-se. Além do cenário, os dois episódios tiveram em comum o mesmo eixo de preocupação: a orientação financeira aos filhos. O primeiro pai esboçou-a precocemente e o segundo, de acordo com levantamentos da investigação, demonstrou uma preocupação demasiadamente tardia.

Jesus Cristo contou uma parábola sobre um homem rico e avarento e alguns se servem desta passagem tentando justificar uma vida material desregrada e irresponsável. Mas o texto, que apresenta a avareza como uma atitude condenável, evolui para uma séria discussão sobre administração. Tal conceito, na Bíblia, ganha contornos de mordomia e tem seu significado ricamente ampliado. E o que se nota é que, a ignorância ou negligência ao ensino da mordomia tem trazido graves consequências à igreja. Há cristãos que se tornam maus pagadores, engrossam a lista dos inadimplentes e dão péssimo testemunho, promovendo escândalos ao evangelho. Assim, fora o constrangimento natural entre credores e devedores, aquilo que parece estritamente material, tem repercussão profundamente espiritual no mundo, afugentando a sociedade da igreja do Senhor Jesus Cristo e impedindo o crescimento do Reino de Deus. Por esta e outras razões, a Educação Financeira deveria figurar na grade curricular das escolas ao lado das disciplinas tradicionais e constar como um dos ensinos inegociáveis das famílias às novas gerações. Estas, por sua vez, precisam aprender desde muito cedo a fazerem uma continha extremamente simples, a de que a despesa pode ser no máximo igual à receita, ou seja, ninguém pode gastar mais do que ganha.
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Sociedade endividada- O momento otimista da economia mundial, especialmente entre os países do bloco dos emergentes conhecido por BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), fomentou a elevação da confiança dos consumidores e promoveu a expansão do crédito. Isso alavancou a economia, mas o estímulo à gastança, mediante o crédito farto, montou uma armadilha onde muitos caíram atolados em dívidas e vivem um pesadelo. Segundo indicadores da Serasa Experian, divulgados no final de 2010, a inadimplência do consumidor brasileiro registrou um crescimento seguido na maior parte do ano com tendência de aumento em 2011. As facilidades com os cartões de débito, crédito e de lojas incentivam o consumidor a gastar. Existem cerca de 550 milhões destes cartões ativos no Brasil, responsáveis por um faturamento superior a R$ 50 bilhões anuais e também protagonistas de inúmeras queixas nos órgãos de defesa do consumidor. Atraídos pelas facilidades dos cartões e pelo conforto das compras pela internet, por exemplo, os consumidores mais ingênuos, que ainda consideram o cartão de crédito como uma extensão da renda, são as vítimas mais vulneráveis de compras irresponsáveis. 

Os especialistas alertam que a tentação de comprar dividindo a quantia em várias parcelas sem juros e pagar a primeira delas em até 30 dias, pode vir a ser verdadeira armadilha. Vencido o prazo de 30 dias para o pagamento, em geral caem num sistema de crédito, com taxas de juros elevadas e, portanto, com alto potencial de endividamento. O problema é que a parcela mínima corresponde a 10% do total devido. Quando o consumidor deixa de pagar a fatura total e quita apenas a quantia mínima, ele entra numa linha de crédito, ou seja, o restante não pago é acrescido de juros que podem chegar a 18% ao mês. Portanto, a tendência é que essa dívida vire uma bola de neve, pois o consumidor sempre pagará menos do que os juros incorporados ao montante total. Aconselham que, para quem já deixou a dívida atingir proporções incontroláveis, a dica é adquirir um crédito pessoal, quitar a dívida e então poderá pagar juros fixos e bem menores a uma instituição financeira. São ocorrências comuns ainda as cobranças em duplicidade ou de débito já quitado ou o não reconhecimento de certos valores. Mas a maioria dos usuários dos cartões procura os órgãos de proteção ao consumidor para reclamar de juros altos. 

O cartão de crédito lidera no Brasil, as reclamações referentes à área financeira no Cadastro Nacional de Reclamações Fundamentadas desde 2009. As reclamações mais frequentes, junto aos órgãos de proteção ao consumidor, referem-se ao envio de cartão sem prévio pedido. Segundo orientação do PROCON, o consumidor não é obrigado a pagar anuidade de cartão de crédito recebido sem prévio pedido. Informa ainda que isso constitui prática abusiva de acordo com o artigo 39 do Código de Defesa do Consumidor e que o parágrafo único desse mesmo artigo diz que os produtos remetidos ao consumidor nessas condições podem ser considerados como amostra grátis e, portanto, estão isentos de pagamento. Porém as compras realizadas no cartão precisam ser honradas. Os débitos cobrados. Avisa o Instituto. O certo é que, pelo cartão ou outras modalidades, a sociedade brasileira está altamente endividada. Dados divulgados pelo Banco Central do Brasil no final de 2010 demonstram que o crédito no país atingiu o recorde de R$ 1,6 trilhão, o que equivale a 46,7% de seu Produto Interno Bruto.

Famílias endividadas- De acordo com levantamentos realizados pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), o índice de famílias endividadas tem atingido níveis que variam de 50 até 70%. Tais dados estão de acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que constata a cada trimestre de reaquecimento do consumo um aumento proporcional do endividamento e da inadimplência. O cartão de crédito é o principal tipo de dívida para 71,5% das famílias endividadas, seguido pelos carnês (24,6%) e pelo crédito pessoal (10,7%). Segundo dados da Serasa Experian, empresa voltada à análise de crédito, divulgados no final de 2010, mais de 15 milhões de clientes de bancos têm dívidas acima de R$ 5.000,00, número 47% maior que o medido em dezembro de 2005. Registram que são 80 milhões de clientes com alguma dívida, mesmo que pequena e que cada consumidor tem, em média, três débitos diferentes (carro, casa e empréstimo). Um recente estudo feito pela Kantar Worldpanel (ex-LatinPanel), empresa de pesquisas de consumo domiciliar, revela que os lares com jovens entre 12 e 19 anos estão no vermelho e gastam em média 5% a mais do que conseguem ganhar a cada mês, enquanto as famílias que não têm jovens em sua composição conseguem poupar 5% da receita mensal. 

De acordo com o Instituto, estão entre os itens que mais pesam no orçamento familiar: o vestuário, uso de tecnologia (computador e internet, A TV por assinatura, telefone celular), o uso dos meios de comunicação, o consumo de alimentos e bebidas fora do lar. Soma-se a estes o item lazer como a compra ou aluguel de CDs, DVDs de filmes e de videogames, as idas ao cinema, as baladas e shows, parques temáticos, artigos esportivos e as comidas, bebidas e guloseimas que apreciam. As famílias com presença de jovens (idade entre 12 e 19 anos) representam hoje 36% dos domicílios do país, o correspondente a 16,2 milhões de lares. Uma consulta dirigida pela Agência Namosca, especialista no universo jovem, concluiu que nunca os jovens brasileiros tiveram tanto acesso a serviços bancários e também nunca estiveram tão endividados. O universo pesquisado foi o segmento de estudantes de ensino superior das sete principais cidades do país e ficou demonstrado que as empresas estão abrindo crédito para gente cada vez mais nova. Verificou-se ainda que além dos produtos que os jovens já possuem como pares de tênis, calças jeans, aparelhos celulares, roupas de marcas, laptops e outros produtos de informática, agora desejam comprar também veículos como motos e carros. O carro foi apontado como sonho de consumo por 35,3% dos entrevistados. 

Os agentes financeiros oferecem produtos específicos para universitários. E estes por sua vez, de posse de produtos bancários, como contas correntes ou conta-poupança, talões de cheques e cartões de débito ou crédito atiram-se às compras. E, não raro afundam no endividamento. E este respinga, de modo bastante incisivo, nas faixas etárias mais veteranas da sociedade. O primeiro passo pode ser a compra daquela marca incompatível com a realidade financeira da família. Depois, possivelmente evoluirá para itens mais caros. Primeiramente comprometem os próprios recursos e depois, as expressões: “Pai, me empreste. Mãe me empreste. Vó me empreste”, poderão ser senhas para a dilapidação de patrimônios familiares, se em algum momento não for posto um limite, geralmente, muito impopular. Porém tal limite poderá prevenir mesmo doenças ou suicídios. Tais mazelas acometem, sobretudo, os “marinheiros de primeira viagem”, mas não raro atacam também os imprudentes e aventureiros de outras faixas etárias, que não aprenderam a lição ensinada em Eclesiastes 4.6: “Melhor é a mão cheia com descanso do que ambas as mãos cheias com trabalho, e aflição de espírito”.

Ensinando e Aprendendo – Estudiosos avaliam que as famílias ocidentais gozam de maior liberdade relacionada às decisões em conjunto. Afirmam que há ambiente para filhos opinarem sobre o destino das férias ou mesmo sobre o modelo do novo automóvel dos pais. Segundo a psicóloga Regina Previati, em entrevista concedida a Marcel Steiner e Fernanda de Lima para o InfoMoney em 10/05/2006: “Aquele tempo em que a mulher e os filhos não participavam dessa atividade está acabando e é importante que os filhos participem ativamente na administração das contas da família”. Alega que, uma criança que sabe quanto seus pais ganham e quanto custa o aluguel de casa, a mensalidade do colégio, a compra do supermercado, vai entender com maior facilidade porque não ganhou o presente que queria no aniversário. Afirma ainda que a mesada é o primeiro passo na educação financeira de crianças, que devem aprender a adequar seus gastos às suas receitas. “Crianças que recebem mesada precisam enfrentar pequenos problemas orçamentários e isso é extremamente benéfico para sua aprendizagem”, ensina. Mas aconselha que esse processo deve ser conduzido de uma forma natural para não causar traumas às crianças. Destaca ainda que, não basta entregar o dinheiro à criança. Os pais devem se colocar ao seu lado prestando-lhe toda a assistência e auxiliando nas contas, para que aprenda, quanto se pode gastar por dia e desenvolva noções do que é caro e do que é barato, por exemplo. 

Outros autores, como Patricia Riella Soares e Caio Leboutte, no livro “Educação Financeira para a Família”, pela Editora All Print Editora, 1ª. Edições observam: “a administração conjunta e consciente, por todos os membros da família, melhora as relações familiares, gerando maior união e comprometimento, contribui para a educação das futuras gerações, além de propiciar menos estresse, melhor desempenho no trabalho, e maior auto- estima, gerando, portanto maior qualidade de vida”. Já, o renomado estudioso das Ciências Econômicas e Psicólogo Dr.Axel Capriles, autor de: Dinheiro: Sanidade ou Loucura?, informou que a avareza, o outro nó da administração equivocada, é uma patologia, pois o avarento, mesmo sendo rico, vive como se fosse muito pobre. O que é consensual entre os especialistas é que, se o homem for preparado desde a infância para lidar com o dinheiro – elemento onipresente em sua vida- certamente estabelecerá uma melhor relação com ele na vida adulta. E alertam que, engana-se quem pensa que deixar um patrimônio para os filhos seja garantia de tranquilidade, se os mesmos não receberem também, como legado, uma sólida educação financeira.
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