quarta-feira, 16 de setembro de 2009

VIVENDO ENTRE CÃES E GATOS

Segundo pesquisas da multinacional francesa Evialis, uma das maiores fabricantes de alimentos para animais de estimação no mundo, o percentual de donos que consideram seus bichos como familiares já chega a 30% na Europa e nos Estados Unidos e no Brasil já ultrapassa os 10%. E, pesquisas de comportamento mostram que, mais até do que amigos, os bichos de estimação são hoje vistos como filhos ou irmãos em boa parte dos lares que os acolhem. O país tem 32 milhões de cães e 16 milhões de gatos, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Animais de Estimação, a Anfal Pet e acredita-se que seja a segunda maior população desses bichos no planeta, inferior apenas à existente nos Estados Unidos. Os cães e gatos estão presentes em 44% dos lares das classes A, B e C - e em lugares como Porto Alegre, Curitiba e Campinas já figuram em mais de metade das casas. Cientistas do comportamento afirmam que, o novo status que cães e gatos estão assumindo nos lares tem pelo menos duas razões sociais distintas. A primeira diz respeito ao encolhimento das famílias. Hoje são raros os casais que optam por ter mais de um ou dois filhos. Segundo demonstra o Radar Pet, as famílias em que os filhos adolescentes ou adultos ainda moram com os pais são aquelas em que a presença dos bichos é mais forte. O segundo fator é o crescimento do contingente de pessoas que vivem sozinhas nas grandes cidades e buscam um companheiro animal. Nestes casos, os cães e os gatos são, de longe, os preferidos.

Entre afagos e mordidas- A domesticação começou por volta de 25000 anos atrás. Inicialmente tinha fins essencialmente utilitários, os cães vigiavam as aldeias, ajudavam a caçar e pastorear e os gatos exterminavam ratos e outras pragas. Ao longo do tempo, humanos e estes animais estabeleceram vínculos de afeto. O primeiro indício concreto de um elo de emoção entre um humano e um animal data de 12000 anos: são restos fossilizados de uma mulher abraçada a um filhote de cão, encontrados no Oriente Médio. Porém, como todas as relações ancoradas na emoção, a relação entre homens e seus cães e gatos é permeada de crises. A falta de limites ao comportamento dos quatro patas pode levar a semelhanças com adolescentes revoltosos. E, em meio à crescente indústria de produtos e serviços para bichos, emergiu até mesmo uma nova categoria profissional - a dos psicólogos de animais- adestradores especializados em lidar com cães e gatos neuróticos. Constatou-se que, a neurose não é uma exclusividade humana. Segundo especialistas, as mesmas contingências da vida contemporânea que levam as pessoas a buscar uma proximidade maior com os animais também agravam os problemas da convivência. A falta de tempo com o dono e a carência de sua atenção, podem levar cães a se tornarem agressivos ou depressivos, que em casos extremos, podem recorrer até mesmo à automutilação.


“Personalidade”- Os especialistas afirmam que os cães demonstraram grande capacidade de assimilar o estilo de vida do homem, talvez isto explique o fato de humanos serem mais amigos deles do que de outros primatas. Os gatos também se adaptaram à vida na companhia das pessoas, mas nunca abriram mão da independência e do instinto de caçadores. A principal forma de comunicação entre o homem e os cães é a linguagem corporal - cães são exímios leitores de gestos e expressões faciais, mas respondem também, em grau elevado, à linguagem verbal. O pesquisador americano Stanley Coren averiguou que os cães mais espertos são capazes de agir em resposta a até 165 palavras simples - mesmo número de vocábulos dominado por uma criança de 2 anos. Já um estudo brasileiro, conduzido por César Ades e pelo zootecnista e adestrador Alexandre Rossi, demonstrou a impressionante capacidade dos cães de associar palavras e símbolos a determinados objetos e ações. Sofia, um vira-lata que aprendeu a acionar um teclado com opções de imagens para expressar seus desejos, como comer ração ou dar um passeio. Por outro lado, segundo Stanley Coren, acima citado, há grandes equívocos na comunicação estabelecida entre os homens e seus cães, sugerindo que, o balanço do rabo, por exemplo, universalmente entendido como sinal de alegria, quer dizer: "Aceito ser submisso a você, mas espero ganhar algo em troca". Qualquer convivência pressupõe respeito a regras. Na relação entre homens e seus bichos não é diferente. Segundo os especialistas, cães são programados para seguirem um líder de matilha - e para, ao menor sinal de fraqueza do líder, se impor. A esse traço da personalidade canina os adestradores estão atentos e impõem um tipo de enfrentamento direto, que, não raro, suscita críticas de entidades de defesa dos animais. A tendência preponderante hoje é o chamado adestramento positivo, em que se obtém a obediência por meio de recompensas, como comida. Não há discordâncias sobre a necessidade de que a disciplina seja estendida aos animais de estimação, já que estão incorporados à realidade humana, regida por regras, seja ela reforçada por meios punitivos ou positivos. Os limites aos bichos tornou-se uma questão urgente dentro dos lares. Com relação aos bichos de estimação, o que começa a intrigar, é o crescimento de um fenômeno de desvio de afeto, à semelhança do registrado na biografia do filósofo Jean-Jacques Rousseau. O pensador francês, abandonara seus cinco filhos e passou a defender ardentemente a autonomia e independência dos gatos. Sobre seu cachorro Sultan, pelo qual nutria genuína adoração, escreveu: "Meu cachorro era meu amigo... sempre tínhamos a mesma vontade...”

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