Na edição anterior deste jornal, destaquei as causas e consequências da prática de bullying, especialmente nas escolas. Para não confundi-lo com brincadeiras e “zoações”, feitas entre colegas a título de gozação, sem intenção maldosa, caracterizamos bullying como um comportamento agressivo, intencional e repetitivo, praticado por uma ou mais pessoas, a uma outra com dificuldade de se defender sozinha. É ofender, agredir, bater, isolar, insistir com apelidos que a pessoa não gosta, ignorar, ridicularizar, discriminar, humilhar, aterrorizar, constante e maldosamente, ferindo física, moral ou psicologicamente a alguém em desequilíbrio de força.
A prática de bullying sempre existiu, mas só recentemente recebeu maior atenção e tem sido estudada mais profundamente. A imprensa tem registrado tragédias ocorridas em vários lugares do mundo, inclusive no Brasil, como resultado de uma ação ou reação de bullying. As reações dos que sofrem bullying vão de suicídio (bullyingcídio) à vingança trágica.
Uma jurisprudência de antibullying começa a ser desenhada, a partir de decisões sobre o assunto em tribunais estaduais. Juízes têm aplicado punições alternativas e indenizações por danos morais, aos pais de filhos agressores, por “imposição intencional de sofrimento emocional”. Têm incluído também escolas e outras organizações onde o bullying aconteceu, acusadas sob o princípio da responsabilidade solidária. Além das escolas, centros de saúde, conselhos tutelares, igrejas e redes de apoio social, mais atentos ao problema,começam também a contribuir para a conscientização e busca da solução do problema.
Como prevenir e tratar o bullying, para que tenhamos menos agressores e vítimas? Estudos e experiências bem sucedidas e conclusões significativas têm sido dadas, objetivando diminuir significativamente sua incidência e minimizar ao máximo seus efeitos, uma vez que dificilmente será possível sua extinção total, assim como outras práticas de violência na sociedade.
O papel dos pais
Para evitar que as crianças e jovens sofram ou pratiquem bullying, os pais e/ou responsáveis, além do que se espera deles como cuidado, educação, proteção e amor devem também:
1. Estar atentos aos sinais que possam evidenciar a prática de bullying. Os pais devem se manter sempre informados sobre o dia da criança na escola, analisando sua expressão e olhar, buscando sinais de tristeza ou de mentira, detectados pelos pais que conhecem seus filhos.
2. Ser parceiros da escola, na busca de soluções dos problemas, especialmente este. Devem procurar a escola (coordenação ou direção), ao saberem da ocorrência de um ato de bullying sofrido ou presenciado por seu filho e também para sugerir caminhos que ambos (escola e família) podem tomar para a solução. Devem, contudo, estar certos de que se trata realmente de bullying.
3. Acreditar na eficácia do encaminhamento e providência que a escola costuma dar ao assunto. A maioria das escolas está preparada para enfrentar adequada e sabiamente o problema, mas necessita do apoio e da confiança dos pais.
4. Ajudar seus filhos a desenvolverem a capacidade de exercer resiliência. Resiliência, em Física, é o retorno de um material à sua condição original, depois de impactados. Na Psicologia, é a atitude que faz o sujeito resistir com maior equilíbrio emocional aos eventuais ataques e sobrecargas, crescendo com os fatos, mantendo suas emoções positivas e contribuindo para o desfecho da situação, sem traumas. A resiliência ajuda a vítima de bullying a não se afetar tanto com as provocações e a enxergar que o problema não está nele, mas nas limitações e fraquezas pessoais do agressor.
O papel da escola
Para evitar que seus alunos sofram ou pratiquem bullying, as escolas devem adotar as seguintes estratégias:
1. Atentar para as ações realmente caracterizadas como bullying e reagir com firmeza, rapidez e sabedoria. Os regimentos escolares devem prever punições compatíveis para atos de bullying. Devem ter cuidado para não subestimar os casos, nem superestimá- los, desnecessariamente.
2. Capacitar seus professores e equipe técnica para identificar o aluno que esteja sofrendo ou praticando bullying. Os educadores experientes e preparados podem agir com sabedoria no trato da questão. Por meio da abertura ao diálogo, do oferecimento de apoio, da escuta sensível e atenciosa, esses profissionais criam oportunidade para que o aluno se abra a respeito dos seus sentimentos e, assim, podem ajudá-lo.
3. Distinguir adequadamente as participações diferenciadas dos alunos na prática de bullying, para que a ação disciplinar seja compatível com proporção da participação individual no caso.
4. Promover junto aos alunos programas de informação e prevenção contra o bullying, por meio de palestras, teatro, concursos de redação e de músicas que mostrem o conceito, as causas, as consequências e as formas inteligentes de inibir ou se defender da tentativa do bullying.
5. Desenvolver projetos que enfatizem valores, caráter e cidadania. Virtudes como tolerância, humildade, generosidade, paciência, entre outras, que ajudam a promover relacionamentos saudáveis entre os alunos devem ser evidenciadas, requeridas e valorizadas pela escola. O objetivo é promover uma cultura da paz, acolhimento e solidariedade, em que as diferenças sejam aceitas e o ser humano, respeitado.
6. Redobrar cuidado e atenção a espaços e situações em que, estatisticamente, o bullying é mais recorrente, como: local (pátio externo, no intervalo), reação dos alunos alvos (baixo rendimento e isolamento) e dos agressores (exibicionismo e arrogância), sentimentos das vítimas (tristeza e medo), faixa etária e sexo (meninos, entre 10 e 13 anos) e população alvo (tímidos e diferentes da maioria em algum aspecto).
7. Formar grupos de apoio e suporte, que incluam alunos, professores e equipe técnica, com a missão de: proteger os potencialmente alvos de bullying, auxiliar os possíveis agressores na superação de suas dificuldades, acolher e tratar as denúncias, mediar solução de disputas e queixas, pois o enfrentamento da situação demonstra aos possíveis autores do bullying que eles não terão o respaldo do grupo.
No Colégio Batista Shepard, na Tijuca, há vários banners instrutivos, sobre diversos temas, espalhados pelo pátio. Em dois deles está escrito: “Abandonem toda amargura, todo ódio e toda a raiva. Nada de gritarias, insultos e maldades! Pelo contrário, sejam bons e atenciosos uns para com os outros. E perdoem uns aos outros, assim como Deus, por meio de Cristo, perdoou vocês (Efésios 4.32 – BLH). Bullying – Jamais!”
Nota: Trabalho do Professor Walmir Vieira (Diretor do Colégio Batista Shepard), publicado (Texto e Imagem) em O JORNAL BATISTA- Ano CXII- Edição 52- Domingo, 23.12.2012- http://ojornalbatista.com.br/
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