quarta-feira, 2 de novembro de 2011

FINADOS


A morte continua a mesma: um evento irreversível, definitivo, permanente e universal. Porém, há os que se recusam a aceitar tal irreversibilidade e optam por contestá-la apostando na ressurreição, a partir da matéria morta. Recentemente, no último mês de outubro, foi divulgado o caso de um homem que avisara à esposa de que voltaria à vida e por um mês ela manteve o corpo na própria casa aguardando o cumprimento da promessa. Segundo a imprensa, a colombiana Alba Chacue manteve o corpo do seu marido Lucio Chacue, de 61 anos, escondido em casa por trinta dias na esperança de que ele voltasse à vida. De acordo com a mesma ele teria avisado que voltaria, embora não tivesse precisado a data. Os vizinhos do casal notificaram à polícia o sumiço de Chacue e os restos mortais do colombiano, em alto grau de decomposição e exalando um odor nauseante, foram localizados no final do quarto principal da casa envolto em um lençol, segundo o jornal "La Nación". Depois, de acordo com os investigadores, Alba teria pedido à empresa funerária que enterrasse o que sobrou do corpo do marido no quintal da própria casa, na aldeia de La Umbria, uma área rural de Huila, no sudoeste da Colômbia.

(Imagem: www.mundoeimagem.blogspot.com)

A comemoração do Dia de Finados teria começado a partir do ano 998 DC. Introduzida por Santo Odilon, ou Odílio, abade do mosteiro beneditino de Cluny na França. Ele teria determinado que os monges rezassem por todos os mortos, conhecidos e desconhecidos, religiosos ou leigos, de todos os lugares e de todos os tempos. Quatro séculos depois, o Papa, em Roma, na Itália, teria adotado o dia 2 de novembro como o dia de Finados, ou dia dos mortos, para a Igreja Católica. O costume de rezar pelos mortos nesse dia foi trazido para o Brasil pelos portugueses. As igrejas e os cemitérios são visitados, os túmulos são decorados com flores, e velas são acesas, além de outros rituais observados, em geral, derivados do sincretismo religioso local.
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 A morte e a Ciência- Tanatologia é a ciência que estuda a agonia e a morte, bem como os fenômenos  associados. Apesar de todas as sociedades especularem sobre a morte, seu estudo sistemático é recente. Os tanatologistas consideram que seu trabalho pode beneficiar a humanidade, já que a compreensão do processo da morte pode fazer com que esta experiência seja menos alienante e temida. Até bem recentemente, havia resistência na cultura ocidental contra o estudo da morte. Constituiu-se um tabu por ser algo considerado temido e pessoal, mas apesar de um tema delicado, outros consideram a importância de se abordar e compreender o fenômeno. Nas décadas de 1950 e 1960, diferentes sociólogos iniciaram o estudo da psicologia da morte e potencializaram o surgimento de programas de assessoria e terapias, para tratar os profundos problemas emocionais associados à morte existentes na sociedade moderna. O livro sobre esse tema que causou maior impacto na opinião pública foi Sobre a morte e a agonia (1969), de Elisabeth Kübler-Ross, psiquiatra norte-americana de origem suíça.

Rituais funerários e de luto- O funeral, traslado do cadáver ao lugar de seu enterro, cremação ou exposição, supõe uma ocasião para celebrar um ritual que varia em complexidade. Em todas as sociedades se prepara o cadáver antes de colocá-lo definitivamente no féretro. Os primeiros enterros de que se têm evidências são de grupos de Homo sapiens. Os restos arqueológicos indicam que o homem de Neandertal pintava seus mortos com vermelho ocre. As práticas de lavar o corpo e vesti-lo com roupas especiais e adorná-lo com objetos religiosos ou amuletos são muito comuns. Muitas vezes os pés do falecido são atados, possivelmente com alguma significação. O tratamento mais meticuloso é o de embalsamamento, que nasceu quase que seguramente, no antigo Egito. Os egípcios acreditavam que o corpo tinha que estar intacto para que a alma pudesse passar para a vida seguinte, e para conservá-lo desenvolveram o processo da mumificação. Segundo Áries (1977), na Vulgata, o livro da Sabedoria, após a morte, o justo irá para o Paraíso. As versões nórdicas do livro da Sabedoria rejeitaram a idéia de Paraíso descrita no livro original, pois, segundo os tradutores, os nórdicos não esperam as mesmas delícias que os orientais, após a morte. Isso porque os orientais descrevem que o Paraíso tem “a frescura da sombra”, enquanto os nórdicos preferem “o calor do sol”. Estas curiosidades nos mostram como o ser humano deseja, ao menos após a morte, obter o conforto que não conseguiu em vida.

Na sociedade ocidental moderna esse processo é realizado para evitar que os familiares tenham que enfrentar o processo de putrefação dos restos. As diferentes formas de despedida do cadáver se relacionam com as crenças religiosas, o clima, a geografia e a classe social. O enterro está associado ao culto dos antepassados ou com as crenças em outra vida. A cremação é praticada em algumas culturas com a intenção de liberar o espírito do morto. A exposição ao ar livre é comum nas regiões árticas e entre os parsis, seguidores de uma antiga religião persa, o zoroastrismo. Práticas menos comuns são as de jogar o cadáver na água depois de um traslado em barco e o canibalismo. Nas sociedades pré-colombianas da América, a morte era um acontecimento muito ritualizado, o que obrigava a cerimônias de todo tipo que incluíam oferendas, alimentos e objetos de acompanhamento e presentes de muita utilidade durante a longa viagem que se iniciava após a morte. Entre os maias, o enterro se diferenciava segundo a classe e categoria do morto. Os plebeus eram enterrados sob o chão da casa, os nobres eram incinerados e sobre suas tumbas se erigiam templos funerários. Os astecas, que acreditavam na existência do paraíso e do inferno, preparavam os mortos para um longo caminho repleto de obstáculos. Tinham que penar para poderem chegar ao final e oferecer favores e presentes ao senhor dos mortos, que decidia seu destino final.

Nas sociedades ocidentais modernas os rituais funerários englobam velórios, procissões, soar de sinos, celebração de um rito religioso e leitura de um panegírico. Nos funerais militares, freqüentemente são realizados saudações especiais com salvas em homenagem ao falecido. Algumas culturas estabelecem um período de reclusão para a família. A tradição judaica, por exemplo, fixa um período de sete dias de reclusão, shivah, depois do funeral de um familiar próximo. O desejo de manter viva a memória do morto deu lugar a muitos tipos de atos, como a conservação de uma parte do corpo como relíquia, a construção de mausoléus, a leitura de elegias e a inscrição de um epitáfio no túmulo.

Urnas funerárias- No tratamento da morte, as urnas funerárias são um capítulo à parte. A “indústria da morte” inova a cada ano, com uma interminável variedade de modelos à pronta- entrega. Vão dos tradicionais ou clássicos aos temáticos e chegam aos bizarros. Os fabricantes “juram” que há os que desejariam ser sepultados como na ficção do cinema e televisão, para eles os modelos clássicos. Alegam ainda que “Pessoas que viveram com estilo merecem ser enterradas com estilo”. Para estes, os temáticos: florais, esportivos, nacionalistas, relacionados à música e com motivos infantis. Mas para não perderem clientes criaram ainda uma categoria mais curiosa. Por exemplo, um modelo com ratos saindo do interior do mesmo, outro modelo em forma de sanduíche, um com sacos de dinheiro presos ao lado do defunto. Tem ainda aquele que já vem com um aparelho de telefone móvel, que é posto na mão do morto, fomentando a imaginação dos vivos e sua utopia sobre algum suposto poder de comunicação depois da morte.  E, caso algum destes convivas goste da cama do defunto, poderá adquirir para si um caixão-cama. O modelo poderá  ser o protótipo do original que receberá ao final da fila.
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E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo, Hebreus 9:27

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