terça-feira, 30 de agosto de 2011

GADDAFI - O OCASO DE UM DITADOR

Muʿammar al-Qaḏḏāfī ou Gaddafi, foi um militar, político, ideólogo, poeta e chefe de Estado na Líbia por quarenta e dois anos. A rede americana Sky News informou nesta terça-feira (30) que o ditador esteve em Trípoli até a última sexta-feira (26), quando deixou a capital e seguiu para a cidade desértica de Sabha, no sul. O paradeiro de Gaddafi permanece desconhecido desde que forças contrárias a ele tomaram Trípoli e levaram ao fim o seu governo há uma semana, depois de seis meses de levante apoiado pela Otan (aliança militar do Ocidente) e por alguns países árabes.

Pertencente a uma tradicional família líbia, teria nascido em uma tenda no deserto líbio, próximo à cidade líbia de Surt ou Sirte (norte). Teve contato com beduínos comerciantes que viajavam pela região de Surt, com quem adquiriu e formou suas precoces posições políticas. Ainda criança, Gaddafi foi enviado à uma rígida escola, onde passou anos longe de seus pais. Lá destacou-se em matemática, literatura e geografia. Depois de terminar a primeira etapa de seus estudos, Gaddafi, aos 17 anos, iniciou a carreira militar. Integrou a Academia Militar de Benghazi, segunda principal cidade do país, e também integrou a Real Academia Militar de Sandhurst, na Inglaterra.
 

Tomada do poder-No ano de 1969, a Líbia passava por um momento crítico. O governo de Idris I passava por uma crise de impopularidade, pois grandes quantidades de petróleo nacional estavam sendo utilizadas pelos Estados Unidos, sem qualquer compensação à Líbia. Admirador do líder egípcio e nacionalista árabe Gamal Abdel Nasser, Muammar al-Gadhafi, aos 27 anos de idade, foi naquele ano membro das tropas revolucionárias que tomaram o governo do país, no dia 1º de setembro de 1969, tendo como líder Mahmud Sulayman al-Maghribi. Coronéis do exército líbio invadiram Trípoli e obrigaram Idris a renunciar. Logo após o golpe de Estado, Al Magrabbi saiu de cena e Gaddafi, como líder da revolução líbia, com a patente de coronel, tomou o poder, substituindo o príncipe regente Ridah e o rei ausente (licenciado para fins médicos na Grécia e no Egito), Ídris I, tio de Ridah. Uma vez instalado no governo do país, Gaddafi declarou ilegais as bebidas alcoólicas e os jogos de azar. Exige e obtve a retirada americana e inglesa de bases militares, expulsou as comunidades judaicas e aumentou decididamente a participação das mulheres na sociedade. Além disso, retirou da Líbia todos os americanos vindos através da aliança entre Idris I e os EUA, fechou danceterias, bordéis e bares instalados pelos americanos, impondo a toda Líbia o respeito aos preceitos morais do islamismo. Proibiu a exportação de petróleo para os EUA e confiscou propriedades internacionais . Pouco tempo depois, em 1970, morreu Gamal Abdel Nasser. Inconformado, Gaddafi começou a patrocinar e apoiar todos grupos, países e facções anti-americanas ou antiisraelenses de que tinha conhecimento, entre eles os Panteras Negras, o Fatah e alguns países do Oriente Médio. Gaddafi teve, inclusive, ligação direta com o massacre de Munique, realizado no dia 5 de setembro de 1972, durante os Jogos Olímpicos , patrocinando e dando cobertura ao grupo que ficou conhecido como Setembro Negro. Onze atletas israelenses foram assassinados nesse epsódio.

Atuação como presidente-Em seu Livro Verde, lançado na década de 1970, Gaddafi expôs sua filosofia política, apresentando uma alternativa nacional ao socialismo e ao capitalismo, combinada com aspectos do islamismo. Em 1977 criou o conceito de Jamahiriya ou "Estado das massas", em que o poder é exercido através de milhares de "comitês populares". Em 1982, como medida punitiva ao suposto patrocínio líbio a grupos terroristas, o governo norte-americano proibiu a importação de petróleo da Líbia. Em 1986, após um atentado a bomba numa discoteca de Berlim, quando morreram dois cidadãos norte-americanos, os EUA lançaram ataques aéreos contra em Trípoli e Benghazi e impuseram sanções econômicas contra o país. No final da década de 1980 o governo líbio foi acusado de envolvimento nos atentados contra aviões da Pan Am e da UTA, o que motivou a imposição de sanções também pela ONU, em março de 1992. Após sua mulher e sua filha morrerem durante o bombardeio americano a Trípoli, Gaddafi distanciou-se superficialmente de suas alianças com grupos terroristas. Em 1992 e 1993 a Organização das Nações Unidas impôs sérias sanções à Líbia acusando seu líder de financiar o terrorismo pelo mundo. Essas sanções foram suspensas em 1999. Com o embargo econômico, juntamente com a queda de preço do petróleo nos mercados internacionais, a situação econômica do país deteriorou-se rapidamente, aumentando o descontentamento popular. Em 1993, um grupo de altos oficiais do Exército liderou uma tentativa de golpe de estado, prontamente debelada pelo regime. Mais de 1500 pessoas foram presas e a cúpula militar foi completamente reestruturada. Em 1998 o chefe de Estado líbio sofreu um atentado. Foi baleado, tendo sido operado às pressas. A nova tentativa de golpe também fracassou e o regime foi mantido. Na década de 2000 Gaddafi pagou integralmente indenizações às famílias dos mortos pelo atentado de Lockerbie. Na mesma década, o Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, afirmou ter desmantelado o arsenal nuclear líbio. Em 2003 Gaddafi anunciou que desistira das armas de destruição em massa e que pretendia juntar-se à guerra ao terror, eixo da política externa americana durante o governo Bush. Logo depois George W. Bush suspendeu as sanções contra a Líbia. Em seguida, os produtores de petróleo dos EUA e da Grã-Bretanha expandiram suas atividades no país. Empresas como BP, Exxon, Halliburton, Chevron, Conoco e Marathon Oil juntaram-se a gigantes da indústria bélica, como Raytheon e Northrop Grumman, e a multinacionais como Dow Chemical e Fluor bem como à poderosa firma de advocacia White & Case para formar a US-Libia Business Association, em 2005. E, em maio de 2006 a Líbia saiu da lista negra (de embargos econômicos) dos Estados Unidos.
__________________________________________________________________________________________________

Alguns Preceitos defendidos por Muamar Gaddafi


O Green Book, ou Livro Verde, escrito pelo ditador líbio Muamar Kadafi, traz a filosofia política e social que ele defende para o país. Traduzido para cerca de 90 idiomas, o Livro Verde foi publicado originalmente em 1975 para ser lido por todos os líbios – as crianças, inclusive, passam algumas horas por semana estudando as lições na escola. Trechos dele são transmitidos todos os dias na televisão e no rádio e seus slogans são encontrados em outdoors e pintados em edifícios do país. O livro, que traz uma mistura de nacionalismo árabe com socialismo utópico, foi escrito em linguagem simples e traz frases de fácil memorização – bem apropriadas para fixar as ideias. Desde o início da guerra na Líbia, no começo do ano, exemplares têm sido queimados por manifestantes anti-Gadafi. Entre os líbios, há quem considere a obra como a solução para todos os problemas do país (coisa que o próprio livro se propõe a ser) e há quem o veja como o fruto da mente confusa de um ditador que subestima a inteligência do seu povo.

Família-“A família é exatamente como uma planta, composta por ramos, folhas e botões. Adaptar a paisagem natural ou transformá-la em jardins ou parques é um processo artificial que nada tem a ver com a verdadeira natureza das plantas. Também fatores políticos, econômicos ou militares têm transformado grupos de famílias em Estados que nada têm a ver com a humanidade.”

A lei-“Que um comitê ou um Parlamento legisle para a sociedade é injusto e antidemocrático. (…) A verdadeira Lei de uma sociedade é o costume (tradição) ou a religião; todas as outras tentativas fora destas duas fontes são inúteis e ilógicas.”

Nacionalismo-“O nacionalismo no mundo dos homens e o instinto de grupo no mundo animal funcionam como a lei da gravidade no mundo mineral. Se, por um acaso, a massa solar se desagregasse a ponto de perder a sua gravidade, gases explodiriam em todas as direções e a unidade do Sol deixaria de existir. A unidade é, portanto, a base da sua sobrevivência.”

Mulher-“A mulher é uma fêmea e o homem é um macho. De acordo com os ginecologistas, a mulher é menstruada ou está doente todos os meses, enquanto que o homem, sendo macho, não é menstruado e não está sujeito ao período mensal de hemorragia. (…) Quando o ciclo menstrual para é porque a mulher está grávida. Se ela está grávida, fica, devido à gravidez, doente durante cerca de um ano, o que significa que todas as suas atividades naturais ficam seriamente reduzidas até ela parir o seu bebê. (…) Como o homem não engravida não está sujeito às doenças que a mulher, sendo fêmea, sofre.”

Esportes-“Tal como não seria correto permitir às pessoas a entrada nos templos para assistir às orações dos crentes, também é absurda a presença de pessoas nos estádios para verem jogar um pequeno grupo. Num estádio deveriam ser elas próprias a jogar. O desporto público é para as massas. Ele constitui um direito de todo o povo para a sua saúde e recreio. (…) Os milhares de pessoas que enchem os estádios para ver, rir e aplaudir são idiotas que não souberam praticar essa atividade elas próprias.”

Religião-“A regra ideal seria que cada Nação tivesse uma religião. O contrário disto cria uma situação anormal geradora de disputas no seio do mesmo grupo nacional. (…) Quando o fator social é compatível com o fator religioso, a harmonia é possível e a vida do grupo é estável desenvolvendo-se saudavelmente.”

Cultura- “Se determinado grupo de pessoas usar roupas brancas em sinal de luto e outro grupo usar roupas negras com o mesmo fim, o primeiro grupo odiará a cor branca e o segundo odiará, pela mesma razão, a cor negra. Esse sentimento em relação às cores tem efeitos físicos nas células e nos genes, transmitindo-se, portanto, de geração em geração. O herdeiro odiará automaticamente a cor odiada pelo seu legador em virtude de ter herdado o seu sentimento em relação às cores.”

Maternidade-“Dispensar o papel natural da mulher na maternidade, ou arranjar creches para substituir as mães é o princípio de dispensar a sociedade humana transformando-a numa sociedade biológica com um modo de vida artificial. Separar as crianças das mães e amontoá-las em creches é um processo através do qual estas são transformadas em algo parecido com pintos. As creches parecem-se com aviários onde os pintos são engordados, depois de saírem dos ovos.”

Trabalho feminino forçado-“Não é verdadeira a convicção generalizada, mesmo entre as mulheres, de que a mulher executa trabalho físico por vontade própria. De fato, ela executa trabalho físico apenas porque a sociedade dura e materialista a colocou, sem ela disso ter consciência direta, sob condições coercivas. Ela não tem alternativa senão submeter-se às condições dessa sociedade embora pense que trabalha por vontade própria.”

Diferenças entre homem e mulher- “A regra de que a “mulher é em tudo igual ao homem” priva a mulher da sua liberdade. A mulher é terna. A mulher é bonita. A mulher chora facilmente. A mulher assusta-se com facilidade. Em geral, a mulher é gentil, e o homem, rude em virtude das suas próprias naturezas internas.”

“O pretos prevalecerão no mundo”-“Surgiu a raça branca a impor o seu colonialismo em todos os continentes. É agora a vez de a raça negra se impor por seu turno. Os negros encontram-se atualmente em situação social muito atrasada. Contudo esse atraso favorece-os numericamente uma vez que o seu baixo nível de vida os protege das medidas anticoncepcionais e do planejamento familiar. As suas tradições sociais atrasadas também os levam a não limitar os casamentos, o que favorece o seu crescimento ilimitado, enquanto que as outras raças vão decrescendo de número devido às práticas de controle dos nascimentos, às restrições impostas ao casamento e à permanente ocupação no trabalho (em contrapartida, os pretos vivem ociosamente num clima sempre quente).”

Vigilância-“Uma vez que uma tribo é uma grande família, ela proporciona aos seus membros os mesmos benefícios sociais e vantagens materiais que a família proporciona aos seus. Nesse aspecto, a tribo é uma família secundária. Contudo, o indivíduo poderá, no seio da tribo, ter um comportamento como não ousaria. Sendo a família numericamente inferior, o indivíduo pode mais facilmente escapar à vigilância, o que já não acontece na tribo onde a vigilância é sentida e exercida por todos os membros.”

Dinheiro-“Pois que assim é, nenhum indivíduo tem o direito de desenvolver uma atividade econômica com o objetivo de adquirir dessa riqueza mais que o necessário para satisfazer as suas necessidades, porque o excedente pertence a outros indivíduos.”

Espetáculos-“As pessoas que dirigem elas próprias as suas vidas não precisam de observar o comportamento dos atores nos palcos ou nos cinemas. (…). Os povos beduínos não manifestam interesse pelos teatros e outros espetáculos porque são homens inteiros e íntegros. Na medida em que criaram uma vida harmoniosa e integrada ridicularizam a representação.

2 comentários:

  1. no dia que tiver uma análise com isenção que fale que o governo dele não foi pior que o atual governo holandês,eu ponho fé nesse blog.

    ResponderExcluir
  2. Concordo plenamente com o senhor(a)em sua observação de que há outros governos ruins pelo mundo. Na Bíblia, em I Samuel 8. 10-19 está narrada a dor causada por eles: “E falou Samuel todas as palavras do SENHOR ao povo, que lhe pedia um rei. E disse: Este será o costume do rei que houver de reinar sobre vós; ele tomará os vossos filhos, e os empregará nos seus carros, e como seus cavaleiros, para que corram adiante dos seus carros. E os porá por chefes de mil, e de cinqüenta; e para que lavrem a sua lavoura, e façam a sua sega, e fabriquem as suas armas de guerra e os petrechos de seus carros. E tomará as vossas filhas para perfumistas, cozinheiras e padeiras. E tomará o melhor das vossas terras, e das vossas vinhas, e dos vossos olivais, e os dará aos seus servos. E as vossas sementes, e as vossas vinhas dizimará, para dar aos seus oficiais, e aos seus servos. Também os vossos servos, e as vossas servas, e os vossos melhores moços, e os vossos jumentos tomará, e os empregará no seu trabalho. Dizimará o vosso rebanho, e vós lhe servireis de servos. Então naquele dia clamareis por causa do vosso rei, que vós houverdes escolhido; mas o SENHOR não vos ouvirá naquele dia. Porém o povo não quis ouvir a voz de Samuel; e disseram: Não, mas haverá sobre nós um rei”.

    O poder foi sempre uma grande tentação, seja tomado e mantido à força (ditaduras) ou delegado (democracias), especialmente quando se leva em conta que, como está escrito aos Romanos 3:10: “Não há um justo, nem um sequer”.
    Assim sendo, meu caro(a), ainda teremos muito assunto nesta área, lamentavelmente. Por enquanto, mesmo convivendo com os mais altos níveis de corrupção do planeta, nossa democracia, imperfeita como é, ainda nos permite liberdade de manifestação de pensamento, como o que acabamos de fazer aqui.

    Que Deus tenha misericórdia de todos nós!

    Carmelita Graciana.

    ResponderExcluir

Obrigada por ter vindo!