sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

POEMA CAIPIRA


"OS ÓIO DE NOS OIÁ"

Ah, quanto ocê tava bunito
Naquele terno de chita,
Que Donana fêiz procê!
 

Me arrecordo cumo se fosse hôije
Do seu surriso lindo, inquanto me oiáva chegá aos pé do artá...
 

Era nóis dois e mais nossos amigo. Eu e ocê...
Pidino a bença de nosso Pai do Céu
E quereno, sê filiz inté morrê.
 

Ah, quanto ocê tava bunito
Naquele terno de chita,
Que Donana fêiz pro cê!
 

E eu, no meu vistido branco, véu e grinarda
O véu, de tão cumprido se arrastava pelo chão.
Eu pensava no casamento e só via o lado bão.
 

Trêis mêis dispôis, tarvêis menos,
Já só nóis dois, no rancho de pau-a-pique
Já carculava um dispique
Que quiria te fazê...

 
Agora era só nóis dois, o rancho e a barriga
Que cumeçava a crescê.
E eu oiáva procê, já num tava tão bunito
Eu já discunfiava que num dava,
Prá sê filiz inté morrê...
 

Arguns mêis mais tarde, já num era só nóis dois
Eu já num drumia de noite, nem armoçava direito.
Mais ainda oiáva procê...cum vontade de chorá.
Já num era o memo home, que me levô aos pé do artá...
 

Ah, quanto ocê tava horrive!
Paricia cego dos óio, troncho das orêia
Coxo das perna, sujo sem se lavá.
E o terno de Donana, nem sabia onde foi pará...
 

E agora tava nóis dois e nossos fio
E nosso Pai, lá no Céu!
Eu, às vêis, oiáva procê
Cum vontade de te matá! 

Mais nossos fio oiáva prá nóis,
Quereno vê nóis se juntá.
 

E mais eu oiáva procê
Mais vontade de chorá.
Pruquê eu quiria cocê,
Sê filiz inté morrê!
 

E nessa hora intão
Iscuitei a vóiz de Deus
Que me falô bem pertim:
Se ocê num vê o memo home
Que te levô aos pé do artá
É pruquê tá te fartano amô
No seu modo de oiá.
 

I intão, ocê oiô prá mim e eu oiêi procê
E nóis dois ajoeiô, cum nossos fio prá agardecê.
Pruquê só Deus pode mudá,

Os óio de nos óiá.

Autoria:  Carmelita Graciana (1998)

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O termo caipira deriva-se do tupi Ka'apir ou Kaa – pira e significa "cortador de mato". É o nome que os indígenas guaianás do interior do Estado de São Paulo, no Brasil, deram aos colonizadores brancos, caboclos, mulatos e negros. A designação se estendeu depois, aos habitantes do interior do país, distantes das metrópoles. No litoral, o termo é substituído por caiçara. Seu congênere em Minas Gerais é capiau (palavra que também significa cortador de mato), na região Nordeste, matuto, e no Sul, colono.

O caipira na cultura brasileira-O caipira foi estigmatizado por Monteiro Lobato, que conheceu apenas o caipira caboclo, tomando-o como paradigma e protótipo de todos os caipiras. O cineasta Amácio Mazzaropi criou uma personagem, nos anos de 1950, que fez muito sucesso no cinema brasileiro: O Jeca, inspirado no caipira branco. O cartunista Maurício de Sousa também tem um personagem caipira nas histórias da Turma da Mônica que é o Chico Bento: um menino que representa o confronto da cultura caipira com a urbanização do Brasil. As falas nas historietas em quadrinhos do "Chico Bento" são escritas no dialeto caipira, em vez do português culto. O caipira foi retratado com precisão e maestria pelo pintor José Ferraz de Almeida Júnior nas suas obras-primas "caipira picando fumo" e "violeiro".


Cultura Caipira-O maior estudioso da cultura caipira foi Cornélio Pires que compreendeu, valorizou e divulgou a cultura caipira nos centros urbanos do Brasil. Em sua obra Samba e Cateretês, registrou inúmeras letras de música que ouviu em suas viagens e os termos mais usados em seu Dicionário do Caipira, publicado na obra "Conversas ao pé do Fogo". Cornélio Pires foi ainda o primeiro que lançou, em discos de 78 Rpm, a música caipira, hoje chamada de "música de raiz", em oposição à música sertaneja.

2 comentários:

  1. jose francisco souza lopes10 de março de 2011 às 00:19

    gostei muito numa linguagem caipira engraçada mas com a receita certa para soluçaõ de problemas do dia dia dos casal . parabens texto lindo q DEUS continue inspirando vcs

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  2. Obrigada, senhor José Francisco.
    Que o Senhor Deus o abençoe e o inspire também. Afinal, é preciso um pouco de inspiração prá viver. Não é?

    Um abraço,
    Carmelita Graciana.

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