sexta-feira, 20 de abril de 2012

A CANETA E A ESCRITA



Em tempos de comunicação  rápida, escrever cartas tornou-se  uma exceção,  não raro encarada como obsoleta ou excêntrica.  Porém, a menos de cinco décadas, era comum um parente distante receber uma carta de um ente querido com aquela conhecida introdução:  “Pego na pena para dar as nossas notícias...”  

 O certo é que, depois da pena e também antes dela, a humanidade e as ferramentas de registro caminham de mãos dadas. Deduz-se sobre elas nas mãos dos sumérios, dos fenícios, dos egípcios, e atesta-lhe a presença mesmo em épocas anteriores, confirmada pelas inscrições rupestres promovendo comunicação pela impressão de idéias, pensamentos, sonhos, cotidiano, medos, vida.

Com o tempo a caneta, a exemplo do vinho, passou a ser vista em categorias. Figura, por um lado entre os objetos humanos de desejo, raros e caros, equiparados a jóias. E, por outro, pode relacionar-se ao ordinário, insignificante ou detestável, como algumas distribuídas como brindes, em geral acompanhadas dos populares "santinhos". Estas, além de falharem, mancharem e derramarem nos bolsos, podem nos remeter a grandes decepções, como as que temos vivido nos últimos anos no Brasil.

Variedade-Há uma variedade muito grande de estilos de canetas. Caneta para tecidos; caneta digital ((que permite transformar desenhos reais em arquivos digitais sem o auxílio de qualquer scanner. Esta mantêm a precisão que somente o traçado manual é capaz de entregar). Existe ainda a Caneta para o projetor de imagem; a Caneta espiã ( com 4 Gb de memória, capaz de gravar  até 12 horas de conversa, com áudio e vídeo em cores);  a Caneta de Laser (Com infra-vermelho invisível, geralmente utilizada em tratamentos mais profundos, como acupuntura). Canetas projetadas para não virar arma, como a que foi entregue ao criminoso direitista da Noruega, autor confesso de 77 mortos em julho de 2011. As peças vão da lendária Caneta de Pena até a Caneta Doce, criada por Dave Hakkens que a  encheu-a com tinta comestível. A mesma tem a textura de pulseiras doces e não gruda em nada nem derrete nas mãos.

Histórico- Pincéis foram os primeiros precursores das canetas, aparecendo na China como instrumentos de escrita por volta do primeiro milênio A.C. Por volta dos anos 300 A.C., os egípcios usavam junco para comunicação escrita, e por volta do século 7, os europeus tinham adotado penas de pássaros para arrastar tinta ao longo de uma página.  Assim, as canetas de pena representaram uma enorme inovação – elas não eram volumosas ou duras como as ferramentas de escrita que vieram antes. Sua curvatura natural diminuiu a fricção entre a caneta e o papel, e por serem mais finas eram mais fáceis de segurar. Por algumas centenas de anos, mergulhar penas na tinta era a melhor maneira de colocar palavras em uma página. Mas no século 19, as pessoas trocaram as penas por instrumentos de metal para escrever. A primeira caneta de metal feita por máquinas veio da Inglaterra em 1828. Ela era ótima para as fabricantes, mas o processo de mergulhar, escrever e mergulhar novamente ainda era tedioso para quem trabalhava com a escrita. Finalmente, em 1884, o inventor americano L.E. Waterman criou a primeira caneta tinteiro prática. Ela não foi a primeira caneta a armazenar tinta, mas a invenção de Waterman foi a primeira a regular a saída de tinta.

A Caneta esferográfica constitui um capítulo especial na história da caneta. Apesar de canetas esferográficas também datarem do final do século 19, elas não fizeram sucesso até a década de 40.  A caneta esferográfica feita por Lázló Bíró, um jornalista húngaro que morava na Argentina, realmente deu início à mania. A caneta de Bíró foi a primeira a usar tinta de secagem rápida e uma bola para regular o fluxo. Os fabricantes tiveram ainda que se preocuparem com a tinta  para evitar que pessoas mal intencionadas fraudem os cheques e outros documentos importantes apagando a tinta com produtos de uso comum. Alguns desenvolveram fórmulas  resistentes à adulteração. Preocuparam-se ainda em tornar as canetas mais macias e em desenvolver modelos mais fáceis de segurar. No  Brasil, a esferográfica foi adotada após 1960, mas ainda hoje, há no mercado as boas e as ruins. E o mais provável sobre canetas ainda é o óbvio,  as que custam  mais, em geral,  são  as melhores.

 A humanidade percorreu um longo caminho no aperfeiçoamento de seu principal objeto de escrever. E, ironicamente, parece ter percorrido o caminho inverso no que diz respeito à arte da escrita. Exemplo disso é o drama vivido pelos atendentes das farmácias, acompanhado pelo drama do usuário de um medicamento errado,  causados pela má qualidade da caligrafia do médico.  Nos últimos anos, o computador no consultório, está salvando a todos. Salva o paciente da raiva e do retorno pela troca do garrancho. Salva o atendente de vender o medicamento errado. E salva o 'doutor' da publicação de um desleixo. O computador poupa sofrimento ainda a um quarto personagem, desobriga a sociedade de conviver com mais uma celeuma relacionada ao menosprezo para com a caligrafia.

Atualmente existem canetas espetaculares, graças a trabalho e pesquisas permanentes por parte de uma gama enorme de profissionais envolvidos na concepção da histórica ferramenta de escrever. Lamentavelmente, o mesmo não ocorreu com relação à apresentaçào gráfica nem à qualidade do conteúdo apresentado. Está claro que o desvelo com a escrita está vinculado a outros fatores, intrinsecamente atrelados à vontade e ao desenvolvimento humanos. Um exemplo disso vem do noticiário desta quarta-feira (18) de abril, através da divulgação de uma premiação em um concurso de Caligrafia nos Estados Unidos. Uma menina de sete anos de idade, que ganhou o concurso de caligrafia,  também consegue usar o iPod touch e computadores sem ajuda. Ela ainda nada, se veste, come e abre latas de refrigerantes sozinha. Além de escrever, aprendeu também a pintar, desenhar e colorir. A menina que estuda em uma escola da região de Pittsburgh e é  ganhadora do Prêmio de Caligrafia Nicholas Maxim, chama-se Annie Clark. Annie Clark nasceu e vive sem as duas mãos.


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