sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

BRINCANDO COM COISA SÉRIA

Em algumas fases da história humana, a infância, tal como a conhecemos, não existia. Mas em outros períodos a infância e adolescência são claramente percebidas, desenvolvendo características próprias cujos significados vão sendo alterados no decorrer do tempo. No caso de nossa história como nação brasileira, de acordo com estudiosos, as crianças eram incorporadas às práticas mercantis do Brasil-colônia. Tratava-se de uma reprodução, já que em Portugal as crianças de camadas sociais mais pobres eram utilizadas no trabalho braçal no campo. Também tornou-se costume, devido às altas taxas de mortalidade da população, tanto no Reino como nas possessões, a Coroa Portuguesa recorrer à infância de seu país para conseguir completar a tripulação das caravelas. Ao embarcarem nos navios, estes menores cumpriam um papel importante na empreitada colonial: as crianças e adolescentes, além de receberem salários mais baixos que os adultos, assumiam trabalhos arriscados e pesados, sendo ainda submetidos a maus tratos e abusos sexuais. 

(Imagem: www.olhardigital.uol.com.br)
A Juventude no Mundo
Atribuir a ludicidade das brincadeiras à infância foi construir outro capítulo na história da infância no mundo, mas talvez não o será por muito tempo de acordo com especialistas. Entre eles está Neil Postman-professor na área de cultura e comunicação na Universidade de Nova York e autor de mais de 20 livros, entre eles: O Desaparecimento da Infância apontando para o surgimento de novas fases no desenvolvimento humano. Destas surgiriam: a criança-adulto, bem compreendida no fenômeno atual e preocupante da adultização, e o adulto-criança, descrito pelo estudioso como um adulto cujas potencialidades intelectuais e emocionais não se realizaram plenamente.

Às vezes é preciso concordar com o estudioso sobre o desaparecimento de alguma coisa, pelo menos no que se refere à capacidade criativa nas brincadeiras. Ao contrário de reunir a turma para brincar de “Congela” ou “Continua a História” ou outras brincadeiras interessantes e cômicas que costumam matar os adolescentes de rir, o site Daily Mail em edição de 12 de Dezembro de 2011, mostra um adolescente de 19 anos que foi preso por ser viciado em planking.  O termo se refere a uma prática entendida como um tipo de esporte que consiste em se deitar com o corpo esticado e os braços colados ao corpo, como se estivesse em cima de uma prancha ou tábua ("plank", em inglês). A graça é tirar fotos nessa posição em lugares inusitados tais como uma motocicleta, um banco de praça etc.

O jovem norte-americano Alexander Hart, de 19 anos, se excedeu. Foi preso por conduta irregular após postar uma série de fotografias no Facebook em que aparece deitado em vários estabelecimentos públicos, entre eles um caixa de banco e o carro da polícia de Winsconsin,  local onde se deu o fato. Para liberar o jovem da cadeia, seu irmão, o que postou as fotos, teve de pagar uma fiança de US$ 303 (cerca de R$ 540). O adolescente afirmou que as imagens foram editadas para aparecerem no relatório policial e que só fez os retratos para "provocar algumas risadas". Alexander alegou ainda que a acusação é uma violação de sua liberdade de expressão, pois estava "apenas se divertindo".

O 'profeta' de “O Desaparecimento da Infância” parece ter acertado. Na concepção do adolescente viciado em “planking”, o divertido estaria em desafiar a autoridade. Neste caso a policial. Serão estes os motivos que provocam risadas em nossa juventude? Nada contra o "planking", ou quaisquer outros esportes ou brincadeiras. Este episódio particular traz luz ao fenômeno da mudança no significado da infância,  pelo menos aquela que apelava à inteligência e criatividade para construir suas brincadeiras e brinquedos e encontrava neste ato uma diversão.

A juventude atual, muitas vezes e por muitas razões, parece divertir-se com coisas muito sérias, tais como os conceitos de autoridade, de propriedade privada e de patrimônio público. Para perceber não precisamos buscar os praticantes do planking. Temos os nossos próprios vândalos, como os pichadores de nossos monumentos. Temos ainda outros, em lugares menos abertos. Antigos conhecidos e novos indesejados. E o que eles fazem, tanto quando publicam as imagens do ato, quanto quando as escondem, não parece qualquer brincadeira.




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