segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

PR.EDIMAR GUIMARÃES (ENTREVISTA)


“O farol que brilha mais distante é aquele que brilha forte no lugar em que está plantado”.




Carmelita Graciana

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O Pr. Edimar Guimarães Pereira, juntamente com sua esposa Vanusa Viana de Souza Guimarães e as duas filhas, foram enviados pela Junta de Missões Mundiais para Welkom, ao centro da África do Sul, onde atuam entre luso-africanos em projetos nas minas de ouro. É uma região de muita tensão social, promovida pela rivalidade, principalmente entre as duas maiores etnias sul-africanas - zulus e shotos, em históricas batalhas pelo poder. O que torna o lugar um 'barril de pólvora', nas palavras do próprio missionário, pronto para explodir a qualquer momento, requerendo às vezes, a intervenção do Exército. O Pr. Edimar concedeu esta entrevista, on-line, onde fala sobre a vida da família missionária, o campo e as perspectivas do trabalho na África do Sul.


Como o senhor e sua esposa foram alcançados pelo Evangelho?
Pr. Edimar Guimarães- Eu fui alcançado pelo Evangelho através de uma Cruzada Evangelística promovida pela Associação Leopoldinense de Igrejas Batistas, no Rio de Janeiro. Estavam pregando o Pr. Fanini e o cantor José Tostes. Eu tinha apenas 11 anos de idade, era Embaixador do Rei e trabalhava como introdutor na referida cruzada. Meu nome não foi anotado, não recebi aconselhamento, mas estava seguro da decisão. Procurei o meu pastor, Almir Ribeiro, que me deu total assistência. As lições que tirei daquela experiência, foram: não subestimar a decisão de uma criança; e outra é que, nunca podemos mensurar todo o alcance de um trabalho de evangelismo. Já, Vanusa, freqüentava a Igreja Batista em Barra do Imbuí, Teresópolis, onde participava da EBD, da Sociedade de Crianças e da Organização Mensageiras do Rei. Através dessa Organização teve sua experiência de conversão e chamada para Missões. Após o que, foi batizada pelo Pr. Francisco de Assis Cabral, aos nove anos de idade.

Como ocorreu a chamada missionária à família?
Pr. Edimar Guimarães-O meu chamado ocorreu num culto de quarta-feira. Eu tinha 14 anos naquela época, Chovia muito e estava frio. Pouca gente foi à igreja naquele dia. O Pr. Waldemiro Tymchak era o pregador, ele ainda não tinha se tornado tão famoso. A mensagem daquela noite tocou profundamente em meu coração e alma. De tal maneira, que nunca mais pude esquecer ou fugir daquele chamado. Nas reuniões, nos congressos, nos acampamentos, Vanusa sempre sentia desafiada para aceitar o “Ide de Jesus”. Foi na Organização Mensageiras do Rei que ela teve a confirmação de sua chamada para Missões. Desafiada pela mensagem do Pr. Waldemiro Tymchak, em um acampamento das Mensageiras em Rio Bonito- RJ, ela atendeu ao apelo missionário indo à frente. Desde então, cumpriu todos os passos na Organização, sempre pensando em Missões. Entendeu ser importante ingressar no Instituto Batista de Educação Religiosa (IBER), onde fez o curso de Formação de Professores e também o de Educação Religiosa.


Quando ingressaram na Junta de Missões Mundiais?
Pr. Edimar Guimarães- Aos 21anos de idade eu havia acabado de ser ordenado ao ministério pastoral e fui convidado para trabalhar na JMM como redator das publicações da junta. Estaria trabalhando ao lado da pessoa que Deus usou no chamado missionário. Foi uma experiência fantástica. Logo depois compartilhei como Pr. Waldemiro minha intenção de ir ao campo missionário. Naquele tempo havia a exigência de pelo menos dois anos de ministério para tornar-se missionário. Assim, deixei a função de redator na JMM e ingressei no ministério na PIB de Valença/RJ, que era, de fato, um trabalho e experiência missionária. Apresentei-me à Junta por três vezes ao longo de 15 anos de ministério. Na assembléia da Convenção Batista Brasileira, em Recife, no inicio do ano de 2002 eu e minha esposa combinamos de nos apresentarmos pela terceira e última vez à JMM. Antes que isso acontecesse, dois meses depois, recebemos em nossa igreja a visita do missionário Pr. Francisco Nicodemos Sanches, da África do Sul. Depois dos trabalhos na igreja, conversamos e ele disse que tinha vindo de África especialmente para falar comigo. Perguntou se eu tinha um chamado missionário. Respondi que sim, há muitos anos. E ele disse que, embora não nos conhecêssemos, ele sabia a meu respeito e Deus havia colocado em seu coração que ele deveria me procurar, pois eu deveria ser missionário na África do Sul. Ele entendia que era uma visão da parte de Deus. Convidou-me para pregar uma série de conferências em sua igreja em Johannesburg, com o objetivo de conhecer o campo missionário. Fiquei um mês e pude conhecer além de África do Sul, Botswana e Moçambique. Logo após uma viagem missionária à África, que fiz com recursos próprios, me apresentei à Junta pela terceira vez. Somente desta vez a JMM considerou o meu envio. Segui para o campo em janeiro de 2005, depois de passar um ano no CIEM, fazendo o curso de Pós-graduação em Formação Missionária.

Como foi a escolha do Campo?
Pr. Edimar Guimarães -Nós não escolhemos o nosso campo. De fato, entendo que o nosso campo nos escolheu. Ao me apresentar à JMM informando que havia recebido o convite da Igreja Batista de La Rochele para suceder ao missionário, Pr. Sanches, que estava se aposentando. O Pr. Tymchak disse que África do Sul não receberia mais missionários da JMM. Perguntou-me, então, se eu aceitaria ir para Namíbia. Prontamente disse que aceitaria se o Pr. Tymchak entendia que era essa a melhor opção. Mas a Convenção Batista da Namíbia experimentou uma mudança radical em sua liderança e rompeu com a JMM. Desse modo, não seria mais possível o envio de missionários. A opção apresentada a seguir foi Zimbabwe, que já estava vivendo uma situação de verdadeiro caos, nas mãos do ditador Robert Mugabe. Eu iria para substituir o missionário que estava lá. Esperamos cerca de oito meses pelos nossos vistos, o governo estava dificultando a entrada de missionários e outros profissionais estrangeiros.
Foi enquanto vivíamos essa circunstância que recebi o telefonema do Pr. Ronald Rutter, ex-missionário no Zimbabwe na África do Sul. Ele disse: “Sei das dificuldades que estão enfrentando. Poderia enviar uma carta, ou passar um e-mail, mas o que tenho para dizer é tão grave que preferi pagar a conta e ligar pra você. Deus tocou no meu coração para dizer ao irmão que visite Welkom, aí em África do Sul. Eu trabalhei lá e sei que até hoje nenhum outro missionário foi enviado para o meu lugar. Eles estão clamando por alguém que seja enviado para trabalhar com eles”.
Visitei Welkom, mesmo sem “ordens superiores”, os chefes estavam em viagem na Europa. O Pr. Rutter, no Brasil e o seu filho Reinaldo aqui em África do Sul, por telefone já haviam feito uma agenda de contatos para mim em Welkom. Preguei na Mina Beatrix, havia apenas cinco homens naquela reunião. Ao fim dos trabalhos o dirigente falou: “O Pr. Rutter foi para nós muito mais que um pastor. Ele era o nosso mestre, o nosso “velho”, nosso pai, conselheiro e amigo. Qualquer pessoa que vem recomendada por ele será bem vinda entre nós, o irmão deve ficar aqui”. No mesmo dia, estive com o vice-presidente da Igreja Batista Inglesa – Savvas Balios. Ele colocou à minha disposição a casa pastoral e até o ministério da igreja, que estava sem pastor. Eu lhe disse: “Mas o irmão não me conhece”. Ele respondeu: “Mas eu conheço o missionário brasileiro, Pr. Ronald Rutter e foi ele quem encaminhou o irmão. Isso basta para mim!” Um mês depois a JMM me liberou para trabalhar em Welkom – África do Sul. Portanto, eu estava sendo confirmado para África do Sul, o país que primeiro havia aparecido em nossa agenda quando o Pr. Sanches nos visitou e expôs a sua visão celestial. Desse modo, dois anos depois de nos desviarmos do caminho, Deus nos trouxe de volta a sua rota. O “senhor Missões” (Waldemiro Tymchak) rendeu-se ao Senhor de Missões (Deus). As portas que estavam abertas (Namíbia, Zimbabwe e até Botswana) foram fechadas e a que estava fechada, segundo a visão da junta, naquele momento (África do Sul), Deus abriu. O importante é que cada coração procurou se submeter à direção divina. Aí tudo deu certo. “Não é por força, nem por violência, mas pelo Espírito”. Não tenho dúvida de que é o Espírito Santo de Deus quem conduz a obra de missões no mundo.


Quais as principais características do trabalho em África, em sua região?
Pr. Edimar Guimarães - Trabalho com imigrantes Moçambicanos no Instituto Bíblico Welkom, que fundamos logo após a nossa chegada, é o povo da etnia Shangana. Eles são operários nas minas de ouro de Welkom. Esse mesmo povo, em sua terra não tem se mostrado um povo muito fácil para se trabalhar, segundo o testemunho de dezenas de missionários de diferentes denominações. Contudo, o shangana, imigrante em terras sul africanas, vem para trabalhar e ganhar dinheiro. Aprende na mina com os holandeses e ingleses, os donos do negócio, a disciplina, a ordem, o respeito às autoridades e compromisso. De tal modo, que se tornam exemplo de trabalho e honestidade para os nativos sul-africanos. Eles adotam um comportamento tão diferente do habitual, do meio em que viviam originalmente, que se tornam exemplos também para os seus conterrâneos. Assim, também se tornam uma “matéria prima” fantástica no que diz respeito à formação de líderes no Instituto Bíblico Welkom. Todo professor que vem nos visitar sai tremendamente impressionado com a disciplina, o interesse e o comportamento dos alunos. Eles serão, sem dúvida, grandes líderes em suas igrejas quando retornarem para Moçambique. Alguns já manifestaram seu chamado missionário em alguns de nossos cultos e esperam apenas terminar os estudos para voltar ao seu povo e pregar o Evangelho.


Como apresentar Deus em meio à miséria e aos altíssimos índices de AIDS?
Pr. Edimar Guimarães -A verdade é que, nenhum homem, em lugar algum do mundo, está bem sem Jesus. Todos precisam conhecer, receber e se entregar a Jesus. Temos pregado o Evangelho para as pessoas simples, operários nas minas. Para refugiados nos Squater Camps (Campos de Refugiados), setores da sociedade sul africana que mais sofrem com a miséria e a AIDS. Mas, ontem à noite recebi um telefone de um dos homens mais poderosos da cidade, o diretor geral de uma das minas de Welkom. Algo absolutamente incomum, ele me procurou às 7 horas da noite, marcou um encontro no centro da cidade. Disse que precisava conversar comigo com a máxima urgência. Ele disse em meio a lágrimas que sofria porque durante toda a sua vida ele fugiu de Deus. Ele estava reconhecendo que embora tivesse tudo que o dinheiro e o poder podem dar, ele precisava de Jesus em sua vida. Nós tivemos apenas um encontro em seu escritório há quase três anos, eu deixei o meu cartão, ele guardou e no momento certo ele me procurou. A AIDS e a miséria são um grande desafio, não resta dúvida, mas, lembro-me do texto de Eclesiastes 7:4 – “O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos tolos na casa da alegria”. É exatamente nesse contexto que temos tido grandes experiências. O povo sofrido de África é também o povo receptivo ao Evangelho e ao trabalho missionário. Eles tanto recebem carinho e amor como também sabem retribuir na mesma moeda. Muitas vezes vamos compartilhar o nosso amor com as crianças na creche Morning Star, para crianças vítimas da AIDS ou mesmo na Escola Dunamis e somos alvos de manifestações de carinho ainda maiores do que as nossas.


O salário de uma família missionária do Brasil garante o atendimento às necessidades básicas da mesma?
Pr. Edimar Guimarães -O missionário não tem uma vida com orçamento folgado. É uma remuneração que lhe permite ter uma vida digna dentro da realidade do país. Pelo menos é esse o objetivo da Junta. De modo geral podemos dizer: atende às necessidades básicas.


Quais os maiores desafios do Campo?
Pr. Edimar Guimarães- A língua pode ser um dos mais importantes desafios no campo. As diferenças culturais também o são. Aqui, lidamos com dois modelos bem distintos de Igrejas: o modelo africano e o modelo europeu. São duas realidades distintas entre si e distintas também com relação ao modelo da Igreja brasileira. Outro desafio, talvez o mais forte no nosso caso, é a saudade do nosso povo, da família, da igreja de origem. São grandes desafios para os quais contamos com a graça e a misericórdia de Deus.


Há perspectivas familiares como missionários?
Pr. Edimar Guimarães- Penso que é no campo missionário que a família se torna ainda mais forte. Dependemos muito mais uns dos outros. Convivemos muito mais. Pelo fato de estarmos em outro país, precisamos dar uma atenção especial para as crianças. Isso faz com que nos aproximemos ainda mais como família. No campo, a família se torna o nosso círculo de amizade mais presente.


Qual a mensagem que o senhor deixaria aqui sobre Missões?
Pr. Edimar Guimarães- Nosso desejo é que a igreja continue avançando sobre os desafios missionários em Goiânia, no Brasil e no mundo. Como muito bem dizia Oswald Smith: “O farol que brilha mais distante é aquele que brilha forte no lugar em que está plantado”.
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