domingo, 7 de abril de 2019

O DESAFIO DE INTEGRAR RAZÃO E EMOÇÃO NA LIDERANÇA




Moisés e Pedro estão separados cronologicamente por cerca de 1.200 anos, porém um fato junta os dois proeminentes líderes bíblicos, o ímpeto por vingança que os levou a ‘fazer justiça com as próprias mãos’. Moisés matou um egípcio e Pedro decepou a orelha de um soldado romano, em momento quando duas de suas forças internas mais poderosas se encontravam em desequilíbrio, a razão e a emoção.


Razão e emoção
Estudiosos definem as emoções como experiências subjetivas intrínsecas a todos os seres humanos que antecedem a ponderações e que levam à ação. Eles afirmam que em muitos comportamentos humanos as emoções são fundamentais ou mesmo determinantes. Kaplan e Sadock descrevem as emoções assim: “Emoção é um complexo estado de sentimentos, com componentes somáticos, psíquicos e comportamentais, relacionados ao afeto e humor” (Kaplan e Sadock, 1993). E, de acordo com o psicólogo Rob Yeung, o medo, por exemplo, é uma emoção muito poderosa.  Por isso é muito utilizado, por exemplo, como estratégia política. Da mesma forma, a vergonha e o orgulho são manipuláveis nos seres humanos.

Razão é a capacidade da mente humana que permite chegar a conclusões a partir de suposições ou premissas. É, entre outros, um dos meios pelo qual os seres racionais propõem razões ou explicações para causa e efeito. Entre os muitos significados de razão está a faculdade de raciocinar, apreender, compreender, ponderar, julgar; a inteligência.

O que se sabe é que, as emoções são as vozes de nossos instintos de conservação, de preservação da espécie, de defesa, de ataque, etc. E, que estudos científicos recentes estão encontrando indícios de que a razão e emoção são duas partes de uma mesma origem: neurológica.
Nosso cérebro é dividido em hemisférios esquerdo e direito. O hemisfério esquerdo é, predominantemente, focado em nossas habilidades de cálculo, raciocínio lógico e matemático, entre outras funções (mais ligadas ao intelecto e lado racional das tomadas de decisão e pensamentos). Já o lado direito é, também de maneira predominante, focado em nossos sentimentos/emoções, responsável por nossa criatividade, pela linguagem, desenvolvimento de novas habilidades (artísticas, por exemplo) e de relacionar-se. Portanto, precisamos desenvolver ao longo da vida ambos os hemisférios, para que nossa inteligência emocional alcance níveis mais elevados e adequados à nossa maturidade e crescimento pessoal e profissional.

Autoconhecimento
O autoconhecimento não é uma necessidade exclusiva de nosso tempo. De acordo com o escritor Pausanias, já era uma das máximas ou aforismos escritos no Templo de Apolo na Grécia do Séc. IV aC: "Conhece-te a ti mesmo". Atualmente, a ideia do autoconhecimento aparece através do conceito em Psicologia, Inteligência Emocional, que diz respeito à capacidade de um indivíduo em reconhecer e avaliar os seus próprios sentimentos e os dos outros, assim como a capacidade de lidar com eles. Um dos fatores de maior importância para nosso coeficiente de inteligência emocional é a empatia, definida como sendo bem diferente de apenas reconhecer o que outro sente, mas como um “sentir junto com a pessoa”.

Entre os principais benefícios da Inteligência Emocional, está o aumento da autoestima e autoconfiança; a redução de conflitos em relacionamentos interpessoais; o direcionamento competente das emoções; aumento do nível de comprometimento com metas de vida; senso de responsabilidade e melhor visão de futuro; compreensão da visão de mundo e dos sentimentos das outras pessoas; enriquecimento dos relacionamentos interpessoais; equilíbrio emocional; desenvolvimento da comunicação e poder de influência; aumento do nível de felicidade; superação de barreiras; clareza nos objetivos e ações; melhora na comunicação e em seu poder de influência; melhora na capacidade de tomada de decisão; melhor administração do tempo e melhora significativa da produtividade; diminuição dos níveis de estresse; maior realização pessoal, familiar e profissional; aumento da qualidade de vida, mais disposição, vitalidade e bem-estar.

A vida atual está muito agitada pelas muitas tarefas e possibilidades, o que gera uma espécie de síndrome do caminho curto, que têm fascinado a muitos. Tais atalhos subvertem a ordem das coisas e ignoram o processamento natural no campo das ideias e das emoções. A tolerância retórica contrasta com a prática da falta de paciência e intolerância generalizadas. Pretende se atingir as conclusões desconsiderando os caminhos e o caminhar. Pipocam explosões e implosões, representadas nos homicídios e nos suicídios.

Para estudiosos, alcançamos o ponto de equilíbrio quando somos capazes de perceber o que sentimos não com o propósito de nos defendermos desses sentimentos, mas com a intenção de canalizá-los positivamente, dentro das circunstâncias reais. A Bíblia, por seu turno, não garante uma vida plena e abundante todos os dias, mas também dias frios e nebulosos e em Eclesiastes 7.14a descreve uma fórmula: “No dia da prosperidade goza do bem, mas no dia da adversidade, considera”.

Moisés e Pedro não são exceções como portadores de destempero nos quesitos razão e emoção e este elo os liga visceralmente ao restante da humanidade. Certamente, por demandar mais experiência, mais tempo, maior habilidade para construir razões do que para deixar as emoções fluírem muitos não escolhem a razão. E sobre isso, um pintor espanhol chamado Francisco Goya, observou: "O Sono da Razão produz monstros".

                  Carmelita Graciana

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*Nota:  Trabalho  já publicado pela revista Visão Missionária IT19

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