Moisés e Pedro estão separados
cronologicamente por cerca de 1.200 anos, porém um fato junta os dois proeminentes
líderes bíblicos, o ímpeto por vingança que os levou a ‘fazer justiça com as
próprias mãos’. Moisés matou um egípcio e Pedro decepou a orelha de um soldado
romano, em momento quando duas de suas forças internas mais poderosas se
encontravam em desequilíbrio, a razão e a emoção.
Razão e emoção
Estudiosos
definem as emoções como experiências subjetivas intrínsecas a todos os seres
humanos que antecedem a ponderações e que levam à ação. Eles afirmam que em muitos
comportamentos humanos as emoções são fundamentais ou mesmo determinantes. Kaplan
e Sadock descrevem as emoções assim: “Emoção é um complexo estado de
sentimentos, com componentes somáticos, psíquicos e comportamentais,
relacionados ao afeto e humor” (Kaplan e Sadock, 1993). E, de acordo com o
psicólogo Rob Yeung, o medo, por exemplo, é uma emoção muito poderosa. Por isso é muito utilizado, por exemplo, como
estratégia política. Da mesma forma, a vergonha e o orgulho são manipuláveis
nos seres humanos.
Razão é a
capacidade da mente humana que permite chegar a conclusões a partir de
suposições ou premissas. É, entre outros, um dos meios pelo qual os seres
racionais propõem razões ou explicações para causa e efeito. Entre os muitos
significados de razão está a faculdade de raciocinar, apreender, compreender,
ponderar, julgar; a inteligência.
O que se sabe é que, as emoções
são as vozes de nossos instintos de conservação, de preservação da espécie, de
defesa, de ataque, etc. E, que estudos científicos recentes estão encontrando
indícios de que a razão e emoção são duas partes de uma mesma origem:
neurológica.
Nosso cérebro é dividido em
hemisférios esquerdo e direito. O hemisfério esquerdo é, predominantemente,
focado em nossas habilidades de cálculo, raciocínio lógico e matemático, entre
outras funções (mais ligadas ao intelecto e lado racional das tomadas de decisão
e pensamentos). Já o lado direito é, também de maneira predominante, focado em
nossos sentimentos/emoções, responsável por nossa criatividade, pela linguagem,
desenvolvimento de novas habilidades (artísticas, por exemplo) e de
relacionar-se. Portanto, precisamos desenvolver ao longo da vida ambos os
hemisférios, para que nossa inteligência emocional alcance níveis mais elevados
e adequados à nossa maturidade e crescimento pessoal e profissional.
Autoconhecimento
O
autoconhecimento não é uma necessidade exclusiva de nosso tempo. De acordo com
o escritor Pausanias, já era uma das máximas ou aforismos escritos no Templo de
Apolo na Grécia do Séc. IV aC: "Conhece-te a ti mesmo". Atualmente, a
ideia do autoconhecimento aparece através do conceito em Psicologia,
Inteligência Emocional, que diz respeito à capacidade de um indivíduo em
reconhecer e avaliar os seus próprios sentimentos e os dos outros, assim como a
capacidade de lidar com eles. Um dos fatores de maior importância para nosso
coeficiente de inteligência emocional é a empatia, definida como sendo bem
diferente de apenas reconhecer o que outro sente, mas como um “sentir junto com
a pessoa”.
Entre os
principais benefícios da Inteligência Emocional, está o aumento da autoestima e
autoconfiança; a redução de conflitos em relacionamentos interpessoais; o direcionamento
competente das emoções; aumento do nível de comprometimento com metas de vida; senso
de responsabilidade e melhor visão de futuro; compreensão da visão de mundo e
dos sentimentos das outras pessoas; enriquecimento dos relacionamentos
interpessoais; equilíbrio emocional; desenvolvimento da comunicação e poder de
influência; aumento do nível de felicidade; superação de barreiras; clareza nos
objetivos e ações; melhora na comunicação e em seu poder de influência; melhora
na capacidade de tomada de decisão; melhor administração do tempo e melhora
significativa da produtividade; diminuição dos níveis de estresse; maior
realização pessoal, familiar e profissional; aumento da qualidade de vida, mais
disposição, vitalidade e bem-estar.
A vida atual
está muito agitada pelas muitas tarefas e possibilidades, o que gera uma
espécie de síndrome do caminho curto, que têm fascinado a muitos. Tais atalhos
subvertem a ordem das coisas e ignoram o processamento natural no campo das
ideias e das emoções. A tolerância retórica contrasta com a prática da falta de
paciência e intolerância generalizadas. Pretende se atingir as conclusões desconsiderando
os caminhos e o caminhar. Pipocam explosões e implosões, representadas nos
homicídios e nos suicídios.
Para
estudiosos, alcançamos o ponto de equilíbrio quando somos capazes de perceber o
que sentimos não com o propósito de nos defendermos desses sentimentos, mas com
a intenção de canalizá-los positivamente, dentro das circunstâncias reais. A
Bíblia, por seu turno, não garante uma vida plena e abundante todos os dias, mas
também dias frios e nebulosos e em Eclesiastes 7.14a descreve uma fórmula: “No
dia da prosperidade goza do bem, mas no dia da adversidade, considera”.
Moisés e Pedro não são exceções como portadores de destempero nos
quesitos razão e emoção e este elo os liga visceralmente ao restante da
humanidade. Certamente, por demandar mais experiência, mais tempo, maior
habilidade para construir razões do que para deixar as emoções fluírem muitos
não escolhem a razão. E sobre isso, um pintor espanhol chamado Francisco Goya, observou:
"O Sono da Razão produz monstros".
Carmelita Graciana
***
*Nota: Trabalho já publicado pela revista Visão Missionária IT19
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