Era
um dia de sol. Daquele sol escaldante que treme sobre a pista asfáltica.
Daquele sol de agosto, que parece que vai derreter o mundo!
Eram pouco mais de três da tarde,
do dia vinte e dois de agosto de um mil novecentos e noventa e um. Fazíamos o
trajeto Itapuranga-Itaberaí. Papai estava ao volante do Chevette verde oitenta
e quatro, enquanto mamãe trazia no colo, sobre o robe rosa e atoalhado, três
quilos e cinquenta e cinco gramas, distribuídos em cinquenta e um centímetros
de gente.
Nome? Tayrini Graciana de Borba e
Silva. Quem escolheu como dos meus dois irmãozinhos, que eu nem ainda conhecia,
foi mamãe. Eu sou Graciana. Graciana é também mamãe, minha avó e minha bisavó
que era Jovercina, Jovercina Graciana. Graciana era minha tataravó, Teodora Graciana.
Era
um dia de sol. Daquele sol escaldante que treme sobre a pista asfáltica.
Daquele sol de agosto que parece que vai derreter o mundo!
Aquela temporada de seca era das
mais longas e tórridas. O gado já começava a morrer, aqui e ali. O céu era
limpo, sem nuvens e, infernalmente quente. Porém, às margens do Rio Canastra,
sobre o capim seco da baixada, como que enfeitando a passarela da estrada,
fazia-se um espetáculo único e escandalosamente amarelo do Ipê. Dezenas, talvez
centenas de árvores floridas. Não
somente floridas, mas floridas do amarelo inconfundível e inigualável do Ipê. Parecia
que, em meio a tanta seca. E tristeza, e morte, estavam ali aquelas árvores a
dizer sobre vida. E, não somente vida, mas flores e encanto. E, canto...
Eu nasci em um tempo como este,
de agosto. Em meio a uma crise econômico-financeira, em um país de permanentes
crises morais, de colapso religioso... Em um agosto da vida, assim como também
meus dois irmãos. Porém, o que importa do calor tórrido, da seca impiedosa, do
agosto das superstições é que o Ipê sempre floresce ignorando o rigor da seca. E
ainda nesta, faz-se mais lindo, mais nobre, mais singular!
Eu cheguei ao mundo no agosto de
tudo isto, mas, sobretudo, na apoteose da florada do Ipê. E isso é o que vale a
pena ser lembrado em minha vida. Quando as secas e os agostos forem por demais
implacáveis, é preciso olhar para as margens da estrada porque lá estarão os
ipês floridos. E, quanto mais tórrida estiver a paisagem, mais
exuberantes eles parecerão!
Imagem: 1 - httpstimblindim.files.wordpress.com200808ipe_amarelo_2bx.jpg
Imagem 2 - Tayrini Graciana (Arquivo Pessoal)
Texto: Carmelita
Graciana (Agosto 1991)
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