segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

"ESPELHO, ESPELHO MEU..."

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE  CONCEITO DE BELEZA

Os primeiros sinais de vaidade já aparecem na Pré- História, segundo estudiosos. A necessidade de diferenciação hierárquica ocorreu quando o homem passou a se reunir em grupos e se fixou na terra.  Os chefes, em geral os mais fortes do grupo, enfeitavam-se com as garras e dentes dos animais ferozes que capturavam em suas caçadas. Surgiram também as primeiras "pinturas de guerra" que dariam mais força ao guerreiro, além de "assustarem" o adversário. 
Depois, no Egito, homens e mulheres pintavam o rosto por acreditarem na relação entre espiritualidade e aparência. A maquiagem se tornou parte da higiene diária, um verdadeiro ritual de beleza. Os olhos tinham o maior destaque: eram delineados e aumentados com kohl (carvão), as pálpebras recebiam toques de índigo e sobre elas se esfumavam uma sombra em pó, colorida, feita de malaquita moída (pedra). Utilizavam também henna, açafrão, curry e outros pós coloridos.
Na Grécia a preocupação maior era com a saúde e a beleza do corpo. Os homens não se maquiavam, mas procuravam manter a forma com exercício físico, massagens e banhos aromáticos. As mulheres usavam maquiagem leve e os penteados eram elaborados com fitas e cachos. Já os romanos adquiriram dos gregos o costume dos banhos e dos exercícios e introduziram em seu ritual de beleza também  os óleos perfumados de massagem e os banhos (termas). A maquiagem era mais exagerada entre as cortesãs, mas não deixava de ser usada pelas mulheres dos senadores e da elite.

( www.fabulasecontos.com.br).


Os padrões de beleza, que  são concebidos pela cultura, são flexíveis de acordo com os tempos, os lugares e os povos. A beleza ocidental, por exemplo, já foi gorda, esquelética e atualmente parece perdida em busca de uma identidade. Apela à medicina (com custos altos), e ao charlatanismo (a qualquer custo) para um preenchimento aqui e uma subtração ali. Produtos como o botox e próteses de silicone popularizaram-se e tornaram-se respostas coletivas à pergunta individual e inquietante diante do implacável espelho. Tal conduta fez da indústria brasileira de higiene pessoal e cosméticos a quarta maior no mundo do Brasil  o sétimo entre os trinta maiores consumidores de produtos de beleza do planeta. Hoje, ao contrário do que se acreditava até bem pouco tempo, os homens e mesmo as crianças engrossaram as filas na corrida pela beleza, submetendo-se a procedimentos corretivos estéticos, a tratamentos cirúrgicos desconfortantes, caros ou arriscados.

As mulheres constituem o nicho consumidor de moda mais fiel e também as maiores vítimas das anomalias e fraudes. Nos últimos anos os seios grandes passaram a ser uma exigência por ser entendido como um elemento imprescindível à beleza feminina. Como natureza não contempla a todas com uma numeração grande, boa parte do contingente feminino preenche os números extra com silicone. As cirurgias plásticas se multiplicaram, especialmente os implantes mamários. Dados divulgados recentemente pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica apontam que, somente no ano de 2008, foram realizados mais de 151 mil implantes no Brasil.

Nos Estados Unidos, onde as mulheres aderiram aos mililitros adicionais há mais tempo, a FDA (Food and Drugs Administration), agência norte americana reguladora de remédios e alimentos, vinha alertando as mulheres que implantaram silicone nas mamas sobre o risco de desenvolver um linfoma, tipo raro e grave de câncer, que age sobre o sistema linfático. Também o grupo de linfoma do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer – IBCC, admitiu que o  desenvolvimento de um tumor poderia estar relacionado à presença de uma prótese de silicone na região mamária. A explicação estaria  baseada no fato de que o sistema imunológico fica sendo estimulado de forma crônica pela prótese, o que pode levar à formação de células anormais.

Mas enquanto os estudos da América sobre o assunto não eram conclusivos, no final de 2011 o problema relacionado aos implantes mamários de silicone ganhou proporções globais. Do outro lado do Atlântico, a França fez um recall às cerca de 30.000 mulheres implantadas com a marca francesa PIP, cuja fabricação fora proibida pelo governo do país em 2010, quando fechou também a empresa que o fabricava acusada de utilizar em suas próteses um gel de silicone industrial inapropriado para uso médico.

O escândalo veio à tona nos últimos meses de 2011, após a formalização de uma denúncia da Associação de Vítimas da PIP. Tratava-se do caso de uma francesa implantada com a marca, que após ter vazamento por ruptura da prótese por um período, contraiu um tumor e veio a falecer em decorrência de câncer. O incidente que atingiu a esfera do judiciário daquele país, seguido por muitos outros casos ainda sob investigação, que atribuem à marca banida muitos prejuízos à saúde, levou o governo francês a convocar o recall para remoção do produto condenado da empresa francesa que chegou a ser o terceiro maior fabricante mundial de implantes de silicone.

A Associação francesa de Vítimas da PIP comunicou que até 28 de dezembro, foram "registrados 3 casos de linfoma, 15 casos de adenocarcinoma mamário (a forma mais frequente de câncer de mama), um caso de adenocarcinoma de pulmão e um de leucemia aguda mieloblástica". E, de acordo com um novo balanço, realizado pela Agência de Produtos Sanitários do país (Afssaps), 1.143 rupturas de implantes foram registradas na agência, assim como 495 casos de reações inflamatórias. Nas 672 extrações preventivas de próteses registradas na Afssaps, 23 rupturas foram descobertas e 14 casos de transpiração do silicone. Contudo, o órgão, a Agência de Produtos Sanitários do país (Afssaps), continua afirmando que "no momento não se estabeleceu que estes casos de câncer são atribuídos aos implantes PIP".

Segundo informações da imprensa francesa, o fundador da PIP, Jean-Claude Mas, de 72 anos, é investigado na França judicialmente por "fraude com agravante" e "homicídios culposos" e  mais de 2.500 processos foram abertos em Marselha neste caso. Estima-se que, entre 400 e 500 mil mulheres teriam recebido este tipo de implante no mundo. Em alguns países fora da França, as próteses da empresa PIP eram vendidas com outra marca. Calcula-se que entre 40 a 50 mil foram vendidas no Reino Unido e entre 25 a 30 mil no Brasil até sua proibição em abril de 2010, após as primeiras evidências de problemas. Não se deve ainda descartar a continuidade da comercialização do produto banido em outras partes do mundo, onde engorda, ao arrepio da lei ou em fronteiras sem lei, o mercado negro da beleza, que alimenta e movimenta  verdadeiros açougues de mutilar e matar gente desejosa de embelezar-se.
 
As autoridades sanitárias brasileiras estão recomendando às milhares de mulheres com próteses mamárias PIP a irem ao médico fazer avaliações clínicas. Especialistas informam ainda que, a cada dez anos os implantes mamários devem ser substituídos, independentemente da marca utilizada, alegando que próteses de silicone como outros produtos, têm prazo de validade.

E a clássica pergunta feita ao espelho pela madrasta da Branca de Neve ganha uma versão contextualizada, não necessariamente trazendo a idéia do belo como tema central. Certamente o que  milhares de implantados estão perguntando diante do espelho nesta conjuntura de risco à saúde e à vida é, quanto vale o ideal de beleza de uma época. E o espelho, que nas histórias da Carochinha era pronto e tagarela, na vida real permanece mudo. Reflete impassível uma imagem perturbada com dúvidas e acuada por medos.  Ironicamente,  sensações bastante contra indicadas à beleza.

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