quinta-feira, 20 de outubro de 2011

EVENTO É VENTO! (Outros Autores)

Há poucos dias, um aluno comentou que sua igreja era movida a eventos e que falou com seu pastor que evento é como o vento, vem e some. Isso me acendeu uma forte preocupação e acabou dando título a este artigo. (Imagem: www.bbc.co.uk).
Ao longo destas mais de três décadas de ministério tenho percebido que muitas igrejas acabam mesmo sendo movidas por eventos. Aliás, até que não é difícil gerenciar (não seria pastorear) uma igreja assim. Dou a dica: basta fazer reunião antes de findar o ano com todos os líderes da igreja, elaborar um calendário repleto de atividades semana após semana. Ao pastor caberá cobrar antecipadamente ao responsável que tome as providências para que a atividade programada seja cumprida. Seja rigoroso. Tire fotos, faça relatórios, coloque tudo no site da igreja, faça um portfólio e mostre que o “circo” está em movimento. Se alguém ficar doente no meio do caminho, é só falar que a pessoa tem de dar um jeito e se sacrificar para o “reino”, pois o show não pode parar.
Um dado curioso é que, em geral, as denominações históricas no Brasil foram organizadas por missionários norte-americanos. Vamos lembrar que umas das ideologias impulsoras da cultura norte-americana é o pragmatismo, que focaliza a ação, a utilidade. Creio que temos aqui as raízes históricas que podem ter nos induzido a reduzir o cristianismo a atividades eclesiásticas, de modo que ser cristão significa simples e meramente trabalhar na igreja. Isso pode ter passado para as outras denominações que surgiram ao longo da história da igreja no Brasil.
Nesse sentido, o pastor da igreja passa a ser gerente de calendário em vez de pastorear, cuidar do rebanho. O afeto, tão caro ao espírito do pastoreio, é substituído pelo poder, pelo comando, de modo que quando o pastor está chegando perto de alguém logo se pode pensar “Lá vem sermão” (sinônimo de bronca)!
Será preciso recuperar o lado relacional, convivencial, terapêutico, piedoso e amigo do pastoreio. Infelizmente, ao longo do tempo confundiu-se o dom pastoral com a função da gestão eclesiástica. Muitos pastores acabam tendo de investir tempo nisso, pouco sobrando para o pastoreio, para o cuidado das vidas, na perspectiva do cuidado pessoal e não apenas da utilidade de cada ovelha para o trabalho eclesiástico.
Igreja é muito mais do que evento. É uma comunidade terapêutica, provedora de acolhimento, comunhão, compartilhamento, socorro, serviço, testemunho, aprendizagem e disciplina. É um ambiente fértil para o desenvolvimento da vida em adoração e glorificação a Deus. O resto é vento.

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Texto: Lourenço Stelio Rega (O Jornal Batista Ano CXI Edição 39-Domingo 25-09-2011)

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