sábado, 12 de março de 2011

MINHA MÃE (OUTROS AUTORES)

Minha mãe, minha mãe !
Ai que saudade imensa
do tempo em que ajoelhava,
orando ao pé de ti.
Caía mansa a noite;
e as andorinhas aos pares
cruzavam-se,voando
em torno de seus lares
suspensos do beiral
da casa onde eu nasci.
Era a hora em que já sobre o feno das eiras
dormia quieto e manso o impávido lebreu.
Vinham-nos das montanhas as canções das ceifeiras
e a lua branca,além,por entre as oliveiras como a alma de um justo,
ia em triunfo ao Céu.
E,mãos postas,ao pé do altar do teu regaço
vendo a lua a subir,muda,alumiando o espaço
eu balbuciava a minha infantil oração,
pedindo a Deus, que está no azul do firmamento,
que mandasse um alívio a cada sofrimento,
que mandasse uma estrela a cada escuridão.
Por todos eu orava e por todos pedia.
Pelos mortos no horror da terra negra e fria,
Por todas as paixões e por todas as mágoas
Pelos míseros que entre os uivos das procelas
Vão em noite sem lua e num barco sem velas
Errantes através do turbilhão das águas.
O meu coração puro, imaculado e santo
Ia ao trono de Deus pedir, como inda vai,
Para toda a nudez um pano do seu manto,
Para toda a miséria o orvalho do seu pranto
E para todo o crime o seu perdão de Pai!
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A minha mãe faltou-me era eu pequenino,
Mas da sua piedade o fulgor diamantino
Ficou sempre abençoando a minha vida inteira,
Como junto dum leão um sorriso divino,
Como sobre uma for um ramo de oliveira!

(Guerra Junqueiro-1850-1923)
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