quarta-feira, 16 de setembro de 2015

SETEMBRO NO BRASIL - A FLORADA DO IPÊ



Era um dia de sol. Daquele sol escaldante que treme sobre a pista asfáltica. Daquele sol de agosto, que parece que vai derreter o mundo!

Eram pouco mais de três da tarde, do dia vinte e dois de agosto de um mil novecentos e noventa e um. Fazíamos o trajeto Itapuranga-Itaberaí. Papai estava ao volante do Chevette verde oitenta e quatro, enquanto mamãe trazia no colo, sobre o robe rosa e atoalhado, três quilos e cinquenta e cinco gramas, distribuídos em cinquenta e um centímetros de gente.

Nome? Tayrini Graciana de Borba e Silva. Quem escolheu como dos meus dois irmãozinhos, que eu nem ainda conhecia, foi mamãe. Eu sou Graciana. Graciana é também mamãe, minha avó e minha bisavó que era Jovercina, Jovercina Graciana.  Graciana era minha tataravó, Teodora Graciana.

Era um dia de sol. Daquele sol escaldante que treme sobre a pista asfáltica. Daquele sol de agosto que parece que vai derreter o mundo!

Aquela temporada de seca era das mais longas e tórridas. O gado já começava a morrer, aqui e ali. O céu era limpo, sem nuvens e, infernalmente quente. Porém, às margens do Rio Canastra, sobre o capim seco da baixada, como que enfeitando a passarela da estrada, fazia-se um espetáculo único e escandalosamente amarelo do Ipê. Dezenas, talvez centenas  de árvores floridas. Não somente floridas, mas floridas do amarelo inconfundível e inigualável do Ipê. Parecia que, em meio a tanta seca. E tristeza, e morte, estavam ali aquelas árvores a dizer sobre vida. E, não somente vida, mas flores e encanto. E, canto...

Eu nasci em um tempo como este, de agosto. Em meio a uma crise econômico-financeira, em um país de permanentes crises morais, de colapso religioso... Em um agosto da vida, assim como também meus dois irmãos. Porém, o que importa do calor tórrido, da seca impiedosa, do agosto das superstições é que o Ipê sempre floresce ignorando o rigor da seca. E ainda nesta, faz-se mais lindo, mais nobre, mais singular!

Eu cheguei ao mundo no agosto de tudo isto, mas, sobretudo, na apoteose da florada do Ipê. E isso é o que vale a pena ser lembrado em minha vida. Quando as secas e os agostos forem por demais implacáveis, é preciso olhar para as margens da estrada porque lá estarão os ipês floridos. E, quanto mais tórrida estiver a paisagem, mais exuberantes eles parecerão!


Imagem:  1 - httpstimblindim.files.wordpress.com200808ipe_amarelo_2bx.jpg
Imagem 2 -  Tayrini Graciana (Arquivo Pessoal)
 Texto: Carmelita Graciana (Agosto 1991)

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