quinta-feira, 24 de novembro de 2011

TEOLOGIA E VIDA (OUTROS AUTORES)


     No momento em que no Brasil a polêmica sobre a Teologia da Libertação se tornava mais intensa, nos anos 70 e 80, o humorista Henfil fez a observação fulminante: “Se é teologia, não é libertação”. Não indo ao mérito do uso da chamada hermenêutica marxista na elaboração de uma proposta teológica supostamente cristã, a charge verbal tocava num ponto essencial, considerando que passar da teoria à prática pode ser sempre uma coisa muito complicada em qualquer campo, especialmente nas ciências humanas. Em inúmeros aspectos, é uma coisa simplesmente impossível. Tocava também, mesmo não sendo essa a intenção do cartunista, na questão da irrelevância da produção acadêmica no Brasil, quase sempre engessada pelo formalismo e em geral seguindo a reboque dos fatos ou mantendo-se muito dissociada deles. 
     No Brasil, onde existe a tendência a que tudo o que é ruim no mundo fique pior aqui, e mais ainda quando se trata  da aplicação  tardia dos modismos intelectuais europeus ou norte-americanos, o que pode ser visto como a crise pós-moderna da teologia vive hoje seu apogeu. Nem é preciso abrir os catálogos das editoras-de resto, operando no fio da navalha pelas exigências do mercado-muito menos tomar conhecimento da indigência das teses que acumulam poeira nos arquivos dos seminários e faculdades, para se concluir que é precária entre nós a produção que formule e responda  a perguntas relevantes no campo teológico. Para se confirmar isso, basta observar a inexistência de abordagens abrangentes e teologicamente decisivas no que concerne a duas demandas urgentes da realidade brasileira, uma no campo religioso, outra no político-ideológico.
      A primeira refere-se à ampla aceitação popular alcançada pela Teologia da Prosperidade. Não se pense que o termo popular aqui se refira meramente ao público-alvo típico das igrejas neo-pentecostais. Na realidade abarca também um crescente número de líderes que se aventuram no movediço terreno da criação de igrejas sob a bandeira do individualismo arrivista, com o objetivo explícito de obter o máximo possível lucro através da falsa piedade e do fanatismo exacerbado. Uma educação teológica que não possa ou não queira demonstrar, com bases em rigorosos critérios de crítica bíblica e exigências acadêmicas, a falácia de uma posição como esta não tem muito a dizer com relação à essência e à legitimidade bíblico-teológica da proposta cristã.
    A outra questão a exigir uma resposta teologicamente relevante relaciona-se com o totalitarismo ideológico-cultural que vai tomando conta do país. A fase da geração do ovo da serpente ainda não está finalizada, razão pela qual o cenário apresenta-se aparentemente plácido, agitado aqui e ali apenas por uma ou outra medida inconstitucional a ameaçar o primado das garantias individuais e da liberdade democrática. No fundo, trata-se da velha tentativa humano-diabólica, consubstanciada na onipotência do Estado, de impedir que Deus tenha vez e voz no que se refere aos caminhos da humanidade. Se esta não é uma questão que possa interessar à reflexão teológica, pouca coisa resta a esperar desse tipo de abordagem.
     Em última análise, o que se espera da educação teológica digna do nome é que ela seja realista e criativa a tal ponto que crie ferramentas conceituais facilitadoras da interpretação e transformação da realidade a partir de um ponto de vista a respeito de Deus, que faça sentido para a pessoa humana. Caso consiga isso, seja qual for o método utilizado, terá cumprido sua missão no mundo.
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(  Editorial  de O Jornal Batista- Edição  47-Domingo 20/11/2011)

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