segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

COMO FALAR DE MORTE PARA A CRIANÇA- VM4T07


É consenso entre os estudiosos que uma criança com menos de cinco anos ainda não entende, com clareza, as características intrínsecas à morte: É irreversível, definitiva, permanente e universal (todos morremos). Porém, trata-se de uma idéia enganosa pensar que uma criança não seja capaz de entender o que acontece com aqueles que morrem. É sabido ainda que as crianças reagirão diante da morte segundo vivências do mundo dos adultos. Por isso torna-se indispensável que na sociedade, na família e na igreja as pessoas crescidas se libertem das fantasias de sua própria mente que procuram convencer-lhes da imortalidade. Os adultos devem estar mais preparados para enfrentarem a perda definitiva. E isso lhes propiciará melhor desempenho enquanto referenciais para os pequenos, quando estes também tiverem que lidar com a mesma dor.
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1. As crianças e a morte- José Luiz de Souza Maranhão, um estudioso brasileiro sobre a morte, afirma que atualmente existe a preocupação de iniciar as crianças desde muito cedo nos “mistérios da vida”, como mecanismo do sexo, concepção, nascimento e mesmo nos métodos de contracepção. E, por outro lado, se oculta sistematicamente das crianças a morte e os mortos, guardando silêncio diante de suas interrogações. Vivemos em uma sociedade onde é comum evitar ou desviar as conversas onde o tema morte seja eventualmente abordado, especialmente com a justificativa de poupar ou proteger as crianças. Mas tal protelação se estende, não raras vezes, por toda a vida e mesmo entre os adultos, o assunto continua sendo evitado. Os estudiosos deduzem que a elaboração conceitual que as crianças fazem da morte é, em grande medida, derivada a partir das representações formais à disposição na cultura. Kübler-Ross (2003), afirma que crianças reagem à morte do pai ou da mãe dependendo de como foram criadas antes do momento desta perda. Se os pais não têm medo da morte, se não pouparam os filhos das situações de perdas significativas, como por exemplo, a morte de um animal de estimação ou a morte de uma avó, com certeza não ocorrerá grandes problemas. Bromberg ainda chama a atenção para a forma que nos comunicamos com as crianças. Segundo ele, é necessário vivenciar o processo de luto. Explica que, cada pessoa, mesmo cada criança, vivenciará suas perdas de muitas e variadas maneiras. O processo do luto se dará diferentemente do luto causado, por exemplo, por ausências, separações e vivência de desamparo. No caso do luto por morte, ele afirma que, quanto maior o investimento afetivo, tanto maior a energia necessária para o desligamento.

2-Como informar a morte a uma criança- Os especialistas afirmam que, dizer a verdade da morte à criança é sempre a melhor solução. Do contrário, ela descobriria o que realmente aconteceu e se sentiria enganada. Além disso, quando a criança é poupada da dor causada pela morte, ela não aprende a lidar com as perdas que fazem parte da vida. Há, contudo um momento em que torna-se difícil encontrar as palavras para dizer tal verdade. Segundo os mesmos estudiosos, as perguntas sobre a morte iniciam por volta dos cinco anos de idade e que o final da vida só é percebido com algo ruim ou angustiante após os sete anos. Afirmam que as crianças de até três anos não conseguem perceber claramente que a morte é definitiva e irreversível, mas entendem que não mais poderão brincar ou ir à escola com o vovô ou a mamãe. As de até doze anos podem compreender que a morte é algo natural, mas precisam de explicações concretas para entender como a pessoa que morreu não pode mais abrir os olhos nem se mexer. Porém, a partir dos 12 anos, todo o processo da morte pode ser entendido pela criança. Aconselham que uma oportunidade para começar a falar de morte e ajudar a criança absorver isso como natural é comentar sobre a morte de uma planta ou de uma flor ou mesmo de um animal de estimação que ficou doente e morreu ou foi, tragado num acidente. Explicar o processo de envelhecimento também contribui para a compreensão do conceito. Outra forma de expor o assunto é através de livros. Quanto ao funeral, este só deve ser assistido pela criança se ela quiser. Também deve se evitar que a mesma se sinta culpada se não desejar ir. Se sua decisão for comparecer ao enterro, deve se explicar a ela as cenas tristes que ela visualizará ao seu redor, como a existência do caixão e de pessoas chorando. Enfim, faz-se necessário que todos, adultos, jovens e crianças venham a entender a morte como um evento da existência.
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Entrevista

A psicóloga Ângela Maria Monteiro Villa Verde é natural de Laguna (SC), mãe de dois filhos: Clarissa ( 26 anos) e Rafael ( 23 anos. É especializada em Gestalt –Terapia pelo Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt- Terapia de Goiânia e atua como Psicoterapeuta na PsicoCenter Consultoria e Assessoria em Recursos Humanos. É também Professora da Escola Bíblica Dominical da Primeira Igreja Batista em Goiânia,GO.


1-O tema morte é tabu na sociedade ocidental. A que atribuem os estudiosos a fuga a tal discussão?
Realmente é tabu, e tabu é qualquer assunto inaceitável ou proibido em uma determinada sociedade. Embora a morte seja um tema banido da comunicação entre as pessoas, esta se faz cada vez mais presente na vida, quer seja pela experiência direta no cotidiano, pelo número significativo de acidentes e atos de violência, quer seja através dos órgãos de comunicação. A sociedade atual afasta a morte por ser hedonista, busca sempre o prazer. Nós somos uma sociedade dirigida para o prazer. Essa busca é responsável pela negação do sofrimento, que acompanha a morte. A morte, assim como a doença e o sofrimento são integrantes da condição humana. Nossa sociedade atual não está muito inclinada a considerar esses fenômenos, sente-se mais atraída pela beleza, pelo aspecto saudável e jovem do existir. Existe um movimento de negação da dor.


2- Você acha que tal resistência vem de fora do homem, como das idéias capitalistas de acumulação, ou é algo intrínseco a ele, estimulado por seus medos ou expectativas?
É algo intrínseco a ele, esta resistência é sustentada pelo medo. Esta sociedade consumista é o reflexo deste homem que não pode pactuar com a morte. Quem pensa na morte não procura comprar nem capitalizar.


3- Por que o ser humano foge tanto da idéia de sua finitude?
Sempre que o ser humano se depara com uma situação que desperta medo, tende a fugir. O homem não foge só porque tem medo, mas também para livrar-se do sentimento de medo. Ele se percebe totalmente impotente diante da inexorabilidade da morte e teme. Falta ao homem encarar a sua própria morte. Quando pensamos na morte, geralmente pensamos na morte do outro. Nós nunca nos colocamos na posição de que somos suscetíveis à morte. Nem no dia de “finados” as pessoas lembram da morte. Lembramos com saudade, do pai, da mãe e de outros. Em nossa concepção íntima , os outros morrem!

4- Em sua visão, como psicóloga cristã, como se deve proceder ao falar de morte para os filhos?
Devemos tratar o tema da morte com os filhos de maneira sensível, para que eles possam encará-la com naturalidade. A notícia da morte, entretanto, deve ser dada de forma direta, utilizando a palavra morte e informando-lhes de que se trata de um acontecimento irreversível. Mesmo crianças pequenas devem participar do luto da família, para não se sentirem excluídas ou culpadas pela morte. Não podemos evitar essa dor, por mais que queiramos. A expressão da tristeza na frente da criança, como o chorar, é uma forma de dizer que ela também pode chorar, expressar seus sentimentos. Devemos incentivá-las a dizer o que sentem e esclarecer suas dúvidas. Não banalizando, nem negligenciando a profunda dor e a tristeza pelas quais passamos com a “perda” de alguém querido, mesmo porque até Jesus chorou quando se aproximou do túmulo do seu amigo Lázaro, demonstrou –se comovido com a tristeza daquela situação dos familiares (João 11.1-35). O conceito cristão da morte é imensamente mais rico e consolador. A morte para o cristão é o momento de estar com Deus, é o encontro do filho com o Pai. Os que não conhecem a Cristo não possuem o consolo e a esperança que temos por conhecermos o Evangelho. Nós somos convocados pela Palavra de Deus a buscar conhecimento em relação àqueles que morrem. “Não queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais, que não têm esperança.” 1 Tessalonicenses 4.13.
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