quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

GOIÁS- SABOR E POESIA À MESA

Possivelmente entre os pratos típicos da cozinha goiana, o Arroz com Pequi seja o mais representativo. O Pequi é um fruto do Cerrado, de cor amarela, sabor forte e único e aroma marcante. O mesmo desenvolve e amadurece dentro de um invólucro de forma arredondada e lisa, na cor verde, a casca. Outros pratos goianos bastante conhecidos são: o Empadão Goiano; feito com frango, lingüiça, queijo, ervilhas, azeitonas, ovos e guariroba,  esta é uma espécie de palmito amargo, que pode ser nativo ou cultivado no Centro-Oeste.  Além destes, são deliciosas as pamonhas feitas com queijo, lingüiça, cheiro-verde e pimenta. 
(Imagem:  inscrição à entrada de um restaurante goiano)

 A cozinha goiana é também conhecida por outros pratos como o Feijão Tropeiro, feito com couve e torresmo; o Tutu (feijão com farinha de mandioca e temperos); o Frango com Quiabo e Angu e tantos outros derivados de outras regiões, sendo que a mais importante influência possivelmente recebe da cozinha mineira. Também as guloseimas, consumidas nos intervalos das refeições principais, são muitas e saborosíssimas. Estão entre elas:  o Bolo de Arroz, feito com fubá socado, açúcar, água e fermento natural; os sequilhos, biscoitos de polvilho, as broas de milho e os pães de queijo. E, mesmo as que derivam de outras partes,  em Goiás adquirem um sabor especial, criativo e único.

A mais célebre escritora e poetiza goiana e Vilaboense Cora Coralina (1889-1985) apreciava muito as delícias do sopé da Serra Dourada, que cantou tantas vezes em seus poemas. Apreciava sobretudo os pães, este alimento universal.  No poema intitulado "Pão-Paz", de um lirismo religioso, ela derrama sua homenagem: "- O Pão chega pela manhã em nossa casa. / Traz um resto de madrugada. / Cheiro do forno aquecido, de lêvedo e de lenha queimada. / Traz as mãos rudes do trabalhador e a Paz dos campos cheios. / Vem numa veste pobre de papel. Por que não o receber / numa toalha de linho puro e com as mãos juntas / em prece e gratidão?" Já no poema "Eu Voltarei", ela começa dizendo: " - Meu companheiro de vida será um homem corajoso / de trabalho, / servidor do próximo, / honesto e simples, / de pensamentos limpos ./ Seremos padeiros e teremos padarias. "

Cora Coralina viveu longe de Goiás por cerca de 45 anos, mas não esqueceu os sabores da Terra.  Retornou em 1954, passando a dedicar-se aos doces, sobretudo os cristalizados, a partir de frutas locais. A mulher goiana que passou para a História como uma fecunda escritora, também foi cozinheira, quituteira, doceira. A grande poetiza que foi ‘descoberta’ na idade madura, descobriu bem mais cedo esta outra paixão com tempo de unir as duas "artes", como no poema: “Todas as Vidas": -"Vive dentro de mim a mulher cozinheira. Pimenta e cebola. Quitute bem feito. Panela de barro. Taipa de lenha. Cozinha antiga toda pretinha. Bem cacheada de Picumã. Pedra pontuda. Cumbuco de coco."

 E, em outro poema intitulado: "Cora Coralina, Quem é você?", explica:
"Sendo eu mais doméstica / do que intelectual",
"Sou mais doceira e cozinheira  do que escritora,
 sendo a culinária  a mais nobre de todas as Artes: 
 objetiva, concreta, jamais abstrata
 a que está ligada à vida e  à saúde humana".


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